terça-feira, 28 de novembro de 2023

Palestina - a emergência de uma identidade distinta



As origens dos palestinos são complexas e diversas. A região não era originalmente árabe. Foi uma consequência da inclusão gradual da Palestina dentro dos califados islâmicos em rápida expansão estabelecidos por tribos árabes e seus aliados locais. Como em outras nações árabes os palestinos são árabes quer pela língua quer pela cultura que praticam e não por qualquer origem árabe. Por conseguinte, o território da Palestina passou por muitas convulsões demográficas ao longo da história. Inicialmente, digamos desde o ano 2000 a.C., foi habitada pelos cananeus. Depois apareceram na região os hebreus. E até ao ano 70 d.C., quando se deu o último êxodo depois das guerras judaico-romanas, os judeus eram a maioria da população. E a verdade é que desde essa altura até à criação do atual Estado de Israel em 1948, os judeus sempre ali estiveram em minoria. As perseguições feitas pelos cristãos e a conversão em massa, foi uma constante ao longo de séculos durante o Império Romano do Oriente até à ascensão do domínio islâmico.

No século VII os Rashiduns conquistaram o Levante. Mais tarde, eles foram sucedidos por outras dinastias muçulmanas de língua árabe, incluindo os omíadas, abássidas e fatímidas. Ao longo dos séculos seguintes, a população da Palestina diminuiu drasticamente, de cerca de 1 milhão durante os períodos romano e bizantino para cerca de 300.000 no início do período otomano. Com o tempo, grande parte da população existente adotou a cultura e a língua árabes. Acredita-se que o assentamento de árabes antes e depois da conquista muçulmana tenha desempenhado um papel na aceleração do processo de islamização. 

O momento e as causas por trás do surgimento de uma consciência nacional distintamente palestina entre os árabes da Palestina são questões de discordância académica. Alguns argumentam que ele pode ser rastreado até à Revolta Camponesa Palestina em 1834. Outros argumentam que ele não surgiu até depois do período da Palestina Obrigatória. No início do século XX, o movimento sionista avisou os palestinos do perigo que corriam com a instalação naquela terra de um Estado sionista. O termo Filasṭīnī foi introduzido pela primeira vez por Khalil Beidas em uma tradução de uma obra russa sobre a Terra Santa para o árabe em 1898. Depois disso, seu uso gradualmente se espalhou de modo que, em 1908, com o afrouxamento dos controles de censura sob o domínio otomano tardio, um número de correspondentes muçulmanos, cristãos e judeus escrevendo para jornais começaram a usar o termo com grande frequência para se referir ao "povo palestino" (ahl/ahālī Filasṭīn), "palestinos" (al-Filasṭīnīyūn) os "filhos da Palestina(abnā' Filasṭīn) ou à "sociedade palestina", (al-mujtama' al-filasṭīnī). 

Quaisquer que sejam os diferentes pontos de vista sobre o tempo, os mecanismos causais e a orientação do nacionalismo palestino, no início do século XX uma forte oposição ao sionismo e evidências de uma crescente identidade nacionalista palestina são encontradas no conteúdo de jornais em língua árabe na Palestina. 
A crítica ao sionismo, em torno do fracasso da administração otomana em controlar a imigração judaica, cresceu de tom com o grande influxo de estrangeiros, mais tarde explorando o impacto da compra de terras sionistas sobre os camponeses palestinos. O livro Identidade Palestina: A Construção da Consciência Nacional Moderna, de 1997, do historiador Rashid Khalidi, é considerado um "texto fundamental" sobre o assunto. Khalidi adverte contra os esforços de alguns defensores extremistas do nacionalismo palestino para "anacronicamente" irem buscar à História uma consciência nacionalista que é, na verdade, "relativamente moderna", da passagem do século XIX para o século XX. Mas Khalidi também argumenta que a identidade nacional moderna dos palestinos tem as raízes em discursos nacionalistas que surgiram entre os povos do Império Otomano no final do século XIX que se acentuaram após a demarcação das fronteiras após a Primeira Guerra Mundial.

Baruch Kimmerling e Joel S. Migdal consideram a Revolta Camponesa Palestina de 1834 na Palestina como constituindo o primeiro evento formativo do povo palestino. De 1516 a 1917, a Palestina foi governada pelo Império Otomano, exceto entre as décadas de 1830 e 1840, quando um vassalo egípcio dos otomanos, Muhammad Ali, e seu filho Ibrahim Paxá romperam com sucesso com a liderança otomana e, conquistando território que se estendia do Egito até o norte de Damasco, afirmaram seu próprio domínio sobre a área. A partir de maio de 1834, os rebeldes tomaram muitas cidades, entre elas Jerusalém, Hebron e Nablus - e o exército de Ibrahim Paxá foi mobilizado, derrotando os últimos rebeldes em 4 de agosto em Hebron. Os palestinos consideravam-se descendentes não apenas de conquistadores árabes do século VII, mas também de povos indígenas que viviam no país desde tempos imemoriais, incluindo os antigos hebreus e cananeus.

Zachary J. Foster argumentou em um artigo de 2015 da Foreign Affairs que "com base em centenas de manuscritos, registos da corte islâmica, livros, revistas e jornais do período otomano (1516-1918), parece que o primeiro árabe a usar o termo "palestino" foi Farid Georges Kassab, um cristão ortodoxo baseado em Beirute". Ele explicou ainda que o livro de Kassab, Palestina, helenismo e clericalismo, de 1909, observou de passagem que "os otomanos palestinos ortodoxos se autodenominam árabes, e são de facto árabes", apesar de descrever os falantes de árabe da Palestina como palestinos ao longo do resto do livro.

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