quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Leonor de Portugal = Imperatriz Romano-Germânica = e os Painéis de São Vicente de Fora



O Painel do Infante _ terceiro a contar da esquerda dos Painéis de São Vicente de Fora _ agrupa várias figuras, tradicionalmente identificadas como membros da corte de Portugal e outros estratos sociais. A figura central de destaque, que lhe dá o nome, é consensualmente identificada como sendo o Infante D. Henrique, o Navegador, devido à sua semelhança com outras representações conhecidas, como uma iluminura da Crónica da Guiné. O Infante D. Henrique é retratado de forma imponente, com um semblante sério e expressivo. A imagem central reveste-se de mistério. Pensa-se que representa São Vicente, retratado noutros quadros do mesmo autor. Nas mãos, carrega um livro religioso cujas palavras se inspiram na autoridade de Deus que é investida na figura que ante ele se ajoelha, supostamente Afonso V, ainda jovem, que é assumido rei aos 14 anos. A figura de véu branco deve representar Dona Leonor, mulher de Dom Duarte, e mãe deste jovem Afonso V. A jovem em oposição a Afonso V deve ser Isabel de Coimbra - filha de D. Pedro, tio de Afonso V - com quem casou. 

Leonor de Portugal [1434 - 1467] é filha do rei Dom Duarte e de Leonor de Aragão. Portanto, o
 irmão – é precisamente Afonso V [1432 – 1481], apelidado de "o Africano" pelas suas conquistas em África = Rei de Portugal e dos Algarves de 1438 até à sua morte. Afonso ascendeu ao trono com apenas seis anos de idade. A regência, inicialmente assumida pela a mãe = Leonor de Aragão, no entanto pouco depois foi passada para o tio Pedro = Duque de Coimbra. Este procurou concentrar o poder no rei em detrimento da aristocracia.


Leonor de Portugal
Hans Burgkmair, o velho - [1473-1531]

Quando o pai morreu, Leonor tinha quatro anos de idade. A mãe = Leonor de Aragão, viu-se forçada a abandoná-la doente em Almeirim, sob a tutela de Dom Pedro, Duque de Coimbra, para se refugiar em Castela. Havia perdido a contenda palaciana pelo controlo da Regência. A partir de 1445, após a morte de sua mãe, com 11 anos de idade [1445-1448] o destino de Leonor é negociado nas mãos dos dois tios: Dom Pedro e Dona Isabel, casada com Filipe III, Duque de Borgonha. Dom Pedro, por sua vez, casou com outra Isabel, sendo esta a Isabel de Aragão, que poderia ter sido a herdeira do trono de Aragão não se tivesse dado o caso de seu pai o ter perdido para Fernando de Atenquerra após disputa. Como tal, Dom Pedro era naturalmente hostil à Casa de Aragão. Já Isabel, a Duquesa de Borgonha, pretende capitalizar o casamento da sobrinha em seu próprio proveito. Estavam então em disputa duas hipóteses para o casamento de Leonor de Portugal para alianças: ou com França, através de Luís de Valois, filho de Carlos VII e que viria a ser o Luís XI;  ou com Frederico III = do Sacro Império Romano-Germânico.


O império aragonês em 1443

O projeto inicial seria o casamento de Leonor com Luís, o filho de Carlos VII de França. Mas na lógica da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), como conflito maior no palco europeu e como força polarizadora de fações políticas da época, o casamento continuava a política da Borgonha na procura dos melhores interesses para o Ducado. E assim, ora se aliava com a França, ora com a Inglaterra. E dado que, à data, a guerra se abeirava de uma esmagadora vitória francesa, à Borgonha seria necessário esquecer o passado recente e aliar-se ao antigo inimigo. Em suma, as duas alianças ajudariam porventura a desequilibrar a balança de poder na Europa a favor da França e de Castela e contra Inglaterra e Aragão. Com Portugal, Borgonha só precisava de fortalecer. À coroa francesa não passou com certeza despercebida a importância das negociações de Portugal com Borgonha, embora palco secundário dos jogos de influências dos conflitos anglo-franceses.

Ao Sacro Imperador Romano-Germânico não passou despercebida a grande riqueza da Casa de Avis. O comércio de açúcar das ilhas atlânticas e de escravos, ouro e malagueta da costa africana, tornavam o Portugal do século XV um país em franco crescimento económico. Ainda mais tendo em conta o clima de paz do Reino, em que as únicas operações militares da época se situavam no Norte de África, não perturbando a economia interna. Frederico III era um governante constantemente atormentado com problemas pecuniários. Os seus rendimentos esvaíam-se entre as tentativas de unificar o património dos Habsburgos na Suábia, nos Alpes e na Baixa Áustria dispersos por inúmeras linhas colaterais.

A política interna portuguesa sofre uma reviravolta em julho de 1448, quando o irmão de Leonor = Afonso, atinge a maioridade e começa o seu reinado como Afonso V de Portugal. Ora, Afonso era apoiante da rainha D. Leonor de Aragão, surgindo como natural aliado dos interesses aragoneses. Inglaterra e Aragão opunham-se à união de Leonor com Luís de França. De facto, um outro Afonso = Afonso V de Aragão (1396-1458) -- herdara os Reinos da Sicília e Nápoles. Daí procurar uma aliança com o Império Romano-Germânico para assegurar os seus domínios italianos que eram reclamados pela Casa de Anjou. Disputa que no final do século XV originaria as Guerras Italianas. E é assim que o tio materno de Leonor = Afonso de Aragão = desempenha esse papel.

Animosidades, manipulações e insídias entre Dom Pedro e o sobrinho Afonso V culminariam na Batalha de Alfarrobeira a 20 de Maio de 1449, com a morte de Dom Pedro. Em junho de 1450 parte para Nápoles João Fernandes da Silveira, o futuro 1º Barão de Alvito, para dar lugar às negociações com os enviados imperiais: D. Eneas, Bispo de Trieste, D. Jorge de Vollesdorff, barão do ducado de Áustria, os seus conselheiros e o seu secretário, Miguel de Phullendorf. As negociações devem ter sido complexas pois prosseguem por quarenta dias até à assinatura a 10 de dezembro de 1450. O contrato é celebrado na solene presença do Duque da Calábria, do Duque de Cleves e dos embaixadores das Repúblicas de Veneza e Florença.

Em finais de outubro de 1451, após os festejos, D. Leonor embarca na nau italiana Doria. A viagem marítima pelo Mediterrâneo Ocidental foi atribulada, como eram sempre as longas viagens naquele tempo. Após temporais que dispersaram a Armada, até combates com piratas, de tudo houve entre os curtos períodos que passaram ao abrigo dos portos de escala (Ceuta a 20 de novembro, Marselha a 8 de dezembro e Grimaud a 24 de dezembro). Chegam finalmente a Livorno em janeiro de 1452, mas não desembarcam por não se conhecer ainda a vontade do Imperador que se encontrava em Florença. O Imperador concede finalmente a Leonor e à sua comitiva permissão para desembarcar a 7 de fevereiro. São recebidos em Livorno por grande embaixada de nobres, que conduzem a comitiva portuguesa a Pisa para alguns dias de repouso.

A 19 de Novembro, D. Leonor parte para Siena. É recebida às portas da cidade pelo Arquiduque Alberto VI da Áustria, irmão mais novo do Imperador e pelo Rei da Hungria e Duque da Áustria Ladislau Póstumo, primo de Frederico III. Apenas após transpor as portas da cidade é que Leonor se encontrou com Frederico III. Ruma então o casal imperial a Roma, onde chegam a 8 de março de 1452. Foram recebidos pelo Papa Nicolau V às portas da antiga Basílica de São Pedro numa demonstração de agradecimento deste pelo apoio do Imperador contra o cismático Antipapa Félix V. O Papa abençoou o casamento em cerimónia realizada a 16 de março de 1452. Não se seguiram festejos porque se observava o período da Quaresma. No Domingo seguinte, 19 de março, dia de Nossa Senhora da Rosa, celebrou-se em São Pedro a coroação do Imperador e da Imperatriz pelo Sumo-Pontífice. O próprio ungiu D. Leonor nas espáduas e braço direito e lhe colocou a coroa.


Frederico III
Sacro Império Romano-Germânico

Após estadia em Roma, partiram para sul, onde se quedaram no Reino de Nápoles para as festividades da Páscoa e, passados os interditos da Quaresma, para celebrações nupciais oferecidas pelo tio da Imperatriz, o Rei Afonso V de Aragão. Tiveram cinco filhos. Um deles viria a ser o conhecido Maximiliano I, sucessor de Frederico III. Leonor de Portugal morreu aos 32 anos de disenteria em Wiener Neustadt, a 3 de setembro de 1467, e foi enterrada no mosteiro cisterciense de Neukloster ou da Santíssima Trindade, onde o seu túmulo ainda pode ser visto.


Maximiliano I
Albrecht Dürer

Maximiliano
 [1459 - 1519] era, portanto, primo direito do futuro rei de Portugal - D. João II . Em 1486, Maximiliano foi eleito em Frankfurt, ascendendo ao trono do Sacro Império Romano-Germânico após a morte de Frederico III, em 1493. Durante quase toda a vida o imperador manteve fortes relações com os seus familiares da Casa de Avis. Com D. João II, Maximiliano I criou laços amigáveis que ganharam os seus contornos mais evidentes em 1494. Em Junho desse ano, os dois monarcas prometeram mutuamente eterna amizade e aliança em caso de guerra nos denominados Capítulos de Pazes. Com a subida ao trono de Portugal por Dom Manuel I, aparentemente, as boas relações diplomáticas, até aí existentes entre as Casas de Habsburgo e de Avis, esfriaram. Maximiliano havia reclamado também a herança da coroa portuguesa. Apenas no ano de 1499 se constata um primeiro indício de um entendimento e de uma retomada das relações diplomáticas entre as duas dinastias. Neste ano, o Venturoso informou orgulhosamente o seu primo acerca dos resultados da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia. É de notar que Maximiliano seguia, desde os anos 90 do século XV, atentamente o desenvolvimento da Expansão Portuguesa. 

Carlos o Temerário – 1460
usando o colar da Ordem do Tosão de Ouro
Pintado por Rogier van der Weyden.

Agora, trago para a cena os da BorgonhaO Ducado da Borgonha foi fundado em 880 a partir do Reino da Borgonha pelos reis carolíngios = Luís III e Carlomano II, bem como pelos membros principescos de sua família que compartilhavam o Império Carolíngio de Carlos Magno e Luís, o Piedoso, que eles haviam herdado. Eles feudalizaram todos os reinos carolíngios em ducados e condados vassalos dos reis da Frância Ocidental.

Um reino da Borgonha deve seu nascimento a Rodolfo, da grande família dos Welf, filho de Conrado, Conde de Auxerre. Com o título de marquês, exerceu a sua autoridade sobre a região entre o Jura e os Alpes quando, em 888, com a morte de Carlos, o Gordo, e a dissolução definitiva do império de Carlos Magno, transformou este em um reino. talvez com uma parte da diocese de Besançon. Rodolfo conseguiu ser reconhecido como soberano pelos nobres e prelados reunidos em Saint-Maurice d'Agaune e criou o "Reino da Borgonha". Seu poder também se estendeu sobre a diocese de Besançon. Em 933, Rodolfo II acrescentou o reino da Provença ao seu reino da Borgonha Transjurana. Assim nasceu o reino de Arles. Após a morte de Rodolfo III em 1032, esses territórios ficaram sujeitos à autoridade do Saint-Emprire. No século XII, o reino de Arles foi reduzido à sua expressão mais simples e os imperadores da Alemanha, que ainda se consideravam reis de Arles, exerciam apenas autoridade nominal lá; no entanto, permaneceu até o século XIV. Formaram-se assim quatro Borgonhas: o Ducado da Borgonha; o Condado da Borgonha; a Borgonha Transjurana; a Borgonha Cisjurana com a Provença. Em 1032, as três últimas já eram terras do Sacro Império Romano-Germânico.

Borgonha é uma região histórica e cultural, localizada no centro/leste da França, e que diz muito aos portuguesesPara os portugueses a Borgonha releva para as fundações de Portugal que começam com Henrique da Borgonha, pai de Dom Afonso Henriques. Henrique de Borgonha = Conde Dom Henrique [1066 – 1112] foi conde de Portugal de 1095 até morrer no cerco de Astorga em 1112. Inicia a sua vida na França, mas logo parte para a Península Ibérica para a Reconquista. Nascido em 1066 em Dijon, no Ducado da Borgonha, o Conde Dom Henrique era o filho mais novo de Henrique da Borgonha e neto do duque Roberto. Seus dois irmãos mais velhos, Hugo I e Eudes I, herdaram o Ducado da Borgonha. Uma de suas tias paternas era Constança de Borgonha, esposa de Afonso VI de Leão. E um dos seus tios-avós era Hugo de Cluny, uma das figuras mais influentes do seu tempo. A família do Conde Dom Henrique era muito poderosa, e governava muitas cidades do Reino da França: Chalon, Auxerre, Autun, Nevers, Dijon, Mâcon e Semur. Borgonha deve seu nome aos burgúndios da época anterior aos merovíngios, que criaram o reino da Borgonha. Mais tarde, foi feita uma distinção entre o Condado de Borgonha (ou Franche-Comté de Bourgogne), que corresponde ao atual Franche-Comté, e o Ducado da Borgonha, que corresponde mais ou menos à atual Borgonha.


Túmulo do Conde Dom Henrique
Sé de Braga

O rei Roberto, o Piedoso, tomou posse do ducado, mas ainda teve que lutar contra a hostilidade de Brunon de Roucy. Ele teve que esperar até a morte do bispo em 31 de janeiro de 1016 para colocar as mãos no castrum de Dijon. O rei Roberto passou o título ducal para seu segundo filho, Henrique. Dada a sua tenra idade, Roberto assumiu o governo do ducado. A morte de Hugo, seu irmão mais velho, fez de Henrique o herdeiro da coroa da França. O rei Roberto morreu em 1031 depois de designar seu filho mais novo, também chamado Roberto, como duque da Borgonha, cujos descendentes reinaram até 1361. Por sua vez, do ano de 1031 ao ano de 1361, doze duques capetos da Borgonha reinaram no trono ducal. Roberto I da Borgonha, o primeiro da linhagem, foi duque da Borgonha de 1031 a 1076. Seu filho Henrique morreu prematuramente, seu neto Hugo I da Borgonha o sucedeu em 1075. Seu reinado durou apenas três anos. Ouvindo o conselho de Hugues de Semur, abade de Cluny, ele deixou a vida secular para se tornar um monge em Cluny, onde morreu em 1093. Seu irmão Eudes I coroou a coroa ducal e reinou sobre o ducado entre 1078 e 1102, que passou para seu filho Hugo II em 1101. O reinado de Hugo II terminou em 1143.

A vida religiosa era intensa e os habitantes ainda veneravam antigas divindades gaulesas, como o deus chifre Cernunnos, a deusa Rosmerta encontrada no complexo termal de Escolives-Sainte-Camille, o "deus com o martelo" de Moux-en-Morvan Sucellus. Mas eles também adoram divindades romanas; assim, outras representações de divindades mostram a influência greco-romana: Apolo, que igualou Belenos, Borvo, bem como várias outras divindades, Mercúrio, o deus da petasis, que César afirma ser o mais venerado na Gália. Há também evidências do estabelecimento de cultos orientais. Há muitos locais na Borgonha que testemunham essa intensa vida religiosa: Alésia, as nascentes do Sena, os Bolards (uma antiga vila galo-romana perto de Nuits-Saint-Georges) estão entre eles. As fontes do Sena são o lugar onde o culto da divindade curadora de Sequana é celebrado. Do Oriente chegou então, pouco a pouco, o cristianismo. Subindo o eixo do Ródano e do Saône, mercadores e soldados do Oriente se estabeleceram em Augustodunum, a futura Autun e a cidade mais próspera e brilhante da região, e de lá se espalharam a nova religião. Tal influência também foi encontrada em Sedelocus (Saulieu). A partir do século III, a sucessiva onda de ondas de povos do leste aumentou a instabilidade do poder do Império Romano do Ocidente e pôs fim ao período de prosperidade na Borgonha. O primeiro ataque dos Alamanos atingiu a região por volta de 256-259 e semeou ruína em todos os lugares. Eles reapareceram em 275-276 e começaram a devastação novamente, agravadas pelo novo perigo dos bagaudes, esses bandos de camponeses expulsos de suas terras que saquearam por conta própria. Foi sob o reinado de Aureliano, em meio ao perigo alamano com a grande invasão de 276, que as muralhas de Dijon foram fortificadas. 

Três séculos e meio de continuidade dinástica favoreceram o desenvolvimento da Borgonha e permitiram que ela escrevesse sua história livre de qualquer convulsão de sucessão. No final deste período, os capetianos da Borgonha conseguiram fazer do ducado um principado coerente, onde sua autoridade, baseada na terra e na riqueza monetária que haviam desenvolvido, deu-lhes um poder ao qual, após o século XII, nenhum de seus vassalos tentou se opor. A Borgonha brilha intelectualmente, artisticamente e economicamente. A proteção dos duques permitiu a construção de muitos mosteiros. Os monges de Cluny e os de Cîteaux com seu carismático abade Bernardo de Claraval fizeram suas vozes serem ouvidas em toda a Europa através de suas ações espirituais, políticas e eclesiásticas. No século XIV, os descendentes borgonheses de Hugo Capeto passaram para Filipe, o Ousado, o primeiro duque Valois, um ducado unido e coerente, as primeiras premissas do estado principesco do duque Filipe, o Bom (Filipe III da Borgonha).

A Borgonha era uma terra de escolha para o monaquismo. No século IX, apesar de alguns centros ativos de vida religiosa, como a abadia de Saint-Germain d'Auxerre e as fundações de abadias, incluindo, entre as mais famosas, as de Sainte-Marie de Vercellacus (Saint-Père sous Vézelay) para as freiras (Vézelay) e Saints-Pierre-et-Paul de Pothières para os monges, (858-859), devido à generosidade de Girart de Roussillon, conde de Vienne, e sua esposa Berthe, as abadias que sofreram com as invasões na Borgonha experimentaram declínio. O renascimento veio com a fundação em 909 da Abadia de Cluny, devido à doação de uma villa, um simples ponto de encontro de caça, do duque da Aquitânia Guilherme, o Piedoso, ao monge Bernon para que um "mosteiro regular pudesse ser construído lá em homenagem aos apóstolos Pedro e Paulo"[UMA 21] e colocados sob a proteção imediata da Santa Sé. Depois de um início difícil, com uma sucessão de grandes abades à sua frente (Mayeul, Odilon de Mercœur, Hugues, cunhado do duque de Borgonha Robert I), a abadia aumentou sua influência no século XI e atingiu seu apogeu no século XII século. Naquela época, quase 1500 mosteiros foram colocados sob sua autoridade.

 Por volta de 1475–1477, a Europa central vivia um momento de transição: o ideal cavalheiresco borgonhês estava no seu auge estético, mas já declinava perante o novo realismo político e militar dos tempos modernos. Carlos, o Temerário, duque da Borgonha, 1433–1477, sonhava criar um reino independente entre a França e o Sacro Império Romano-Germânico. O seu ducado, a Borgonha, era um dos territórios mais ricos e culturalmente refinados da Europa, com gente esplendorosa, torneios fastuosos e uma cultura cavaleiresca herdada do ciclo arturiano. Em 1477, após a morte de Carlos na batalha de Nancy, o seu imenso património territorial passou para a sua filha, Maria de Borgonha.


A Borgonha

Antes mesmo da morte de Carlos, o duque buscava assegurar alianças fortes contra a França. Para tal, negociou o casamento de Maria (Duquesa da Borgonha) com Maximiliano. As negociações começaram em 1475, e a contenda de Neuss (ou Neuber) está relacionada a esse contexto político e militar. A “Contenda de Neuss” (1474–1475) refere-se ao cerco da cidade de Neuss por Carlos, o Temerário, contra o arcebispo de Colónia, um episódio marcante nas Guerras da Borgonha. O cerco fracassou, e o Imperador Frederico III aproveitou o momento para aproximar-se do duque da Borgonha, propondo o casamento entre Maria e o seu filho Maximiliano, como forma de pacificação e aliança. Após o cerco de Neuss e a celebração dos esponsais de Maximiliano e Maria (1477), ocorreram vários torneios e festas cavalheirescas, especialmente nas cortes de Gante e Bruges, que se tornaram símbolos da transição entre o cavalheirismo medieval e o renascimento cortesão.


Maria de Borgonha, Duquesa da Borgonha [1457-1482] foi a última e quinta duquesa da Borgonha do ramo Valois-Borgonha. O terceiro havia sido Filipe III, o Bom, e o quarto foi Carlos o Temerário. O seu antepassado Hugo de Cluny já estava muito distante quando em 1049 assumiu a liderança da Abadia se Cluny, um ilustre da família dos duques da Borgonha.


Filipe III, o Bom

A Borgonha, na Idade Média, viu nascer os maiores movimentos de reforma monástica com as abadias de Cluny e Cister. As duas famosas abadias foram durante vários séculos ao mesmo tempo centros de ciência dogmática, de pensamento reformador, centros de atividade econômica e social, artística e até política de primeira ordem para toda a Europa. Edifícios como a basílica de Vézelay e a abadia de Fontenay ainda testemunham essa influência. Alguns séculos depois, o empreendimento dos duques de Valois marcou profundamente a sua história. Filipe, o Bom e Carlos, o Temerário, fizeram do seu estado uma grande potência europeia que abrangia a atual Bélgica e Holanda e se tornou rival do reino da França. Filipe, o Bom, fundador da Ordem do Tosão de Ouro, fez brilhar a sua corte e espalhou a sua fama para o Oriente. Seu filho Carlos, o Temerário, reprimiu as revoltas de Gante na Flandres e Liège. Ele elevou o estado da Borgonha ao seu apogeu, mas a sua morte na Batalha de Nancy em 1477 trouxe o Ducado da Borgonha para o domínio da coroa francesa para sempre. 

A filha de Carlos o Temerário - Maria da Borgonha - salvou o seu poder sobre os estados do Norte, dando à luz Filipe I de Castela, o que viria a ser pai de Carlos V, cuja mãe era Joana I de Castela. Nascido em Gante, em 24 de fevereiro de 1500, nunca deixou de reivindicar a Borgonha, fonte de conflitos incessantes com a monarquia francesa. Carlos V casou com Isabel de Portugal, filha do rei Dom Manuel I de Portugal e de Maria de Aragão e Castela.

Sem comentários:

Enviar um comentário