segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Os agentes do terror




É difícil estabelecer prioridades em tempo real, enquanto é muito fácil criticar retrospetivamente decisões sobre prioridades. Nós acusamos os líderes de terem fracassado, mas ignoramos outras catástrofes que poderiam ter acontecido e não chegaram a materializar-se. Na década de 1990 pouca gente imaginava que os jihadistas (terroristas islâmicos) fossem capazes de desencadear um conflito global arremessando aviões comerciais contra os arranha-céus de Nova Iorque. Na verdade, muitos temiam que a Rússia entrasse em colapso total e perdesse o controlo não apenas de seu território, mas também de milhares de bombas nucleares e biológicas. Uma outra preocupação era que as guerras sangrentas na antiga Jugoslávia se pudessem espalhar para outras partes da Europa oriental, resultando em conflitos entre a Hungria e a Roménia, entre a Bulgária e a Turquia, ou entre a Polónia e a Ucrânia. Muitos ficaram ainda mais inquietos com a reunificação da Alemanha. Hoje podemos relativizar esses cenários porque sabemos que não se materializaram. A situação na Rússia estabilizou-se, a maior parte da Europa oriental foi absorvida pacificamente pela União Europeia, a Alemanha reunificada é saudada hoje com o agrado de todos, e a China tornou-se o motor económico do mundo inteiro.

Aterrorizar é espalhar o medo. No terrorismo, o medo é a narrativa principal. De resto, há uma grande desproporção entre a força efetiva dos jihadistas – os que deitaram abaixo as torres gémeas (e com elas morreram eles juntamente com os passageiros dos aviões, e mais ou menos três mil pessoas que estavam dentro das duas torres gémeas) – e o poder militar dos Estados Unidos da América. E é onde eles querem chegar: fazer com que o inimigo perca a cabeça e retalie com força desproporcional. E foi isso que aconteceu: o Iraque, o Afeganistão, e já agora a Síria que num caos nunca visto se fragmentaram em pedaços. É o espetáculo teatral que interessa ao terrorista, esperando assim provocar o inimigo e fazê-lo exagerar na reação. Os terroristas montam com o máximo de violência uma cena aterradora de violência, que ao matar um punhado de pessoas amedrontam milhões.

A estratégia do terrorismo é à primeira vista deixar o mais importante nas mãos do inimigo. Porque o poder militar do inimigo não é beliscado, quando muito reforçado. O inimigo mantém todas as opções de ataque preservadas à sua disposição para o usar quando quiser. Para aplacar os temores das suas populações civis os EUA reagiram ao terror com uma panóplia de demonstrações de força através da invasão de países estrangeiros: “Não toleraremos a violência dentro das nossas fronteiras”. E os cidadãos, por sua vez, levaram a sério a política da “violência zero”. Mas, na maioria dos casos, estas opções políticas colocaram ainda mais em risco as pessoas. E os militares, sabendo que assim é, tentam evitar essa situação a todo o custo. É este o paradoxo, o próprio sucesso dos estados modernos tornou-os particularmente vulneráveis ao terrorismo. Por isso, o fito do terror é gerar temores viscerais que por sua vez vão espalhar a anarquia por todo o lado, fazendo com que as pessoas se sintam como se a ordem social estivesse prestes a entrar em colapso.

Assim, a ação mais inteligente contra o terrorismo tem de ser uma ação clandestina, em que uma das lanças mais certeiras é o boicote financeiro que alimenta os terroristas. Isso não é algo que os cidadãos possam ver na televisão. Mas não, o que os cidadãos de todo o mundo viram foi a encenação de um espetáculo ainda com mais fogo e fumaça. Assim, em vez de os Aliados agirem silenciosa e eficientemente, desencadearam uma poderosa tempestade, que acalentou ainda mais os sonhos dos terroristas.

Mas há pessimistas que vislumbram os dias que hão de vir ainda mais sombrios. Por um lado, o ciberterrorismo e o bioterrorismo serão muito mais ameaçadores. E por outro lado haverá outras frentes ainda mais catastróficas. Quando Nova Iorque e Londres se estiverem a afundar sob as águas do Atlântico, ninguém vai saber para que lado se virar. Mas, até lá, os pessimistas ainda esperam pela guerra aberta: Europa-Rússia; e EUA-China. Simplesmente, não há mãos que cheguem para nos podermos preparar para toda e qualquer eventualidade.

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