segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Eles Aterrorizam



Foi o que aconteceu em 11 de setembro de 2001. Os norte-americanos perderam a paciência e deram o golpe de misericórdia ao Médio Oriente. Agora, o terrorismo floresce ainda mais entre os escombros. Os terroristas mataram três mil pessoas. E 500 milhões passaram a ver um assassino à espreita atrás de cada árvore. É o nosso próprio terror interno que incita as televisões a mostrar imagens; e os governos a terem que dizer alguma coisa.

Os terroristas são mestres em espalhar o medo. No terrorismo, o medo é a narrativa principal. De resto, há uma grande desproporção entre a força efetiva dos terroristas – que deitaram abaixo as torres gémeas, e com elas mais ou menos três mil pessoas – e o poder militar dos Estados Unidos da América.

E é aqui onde eles querem chegar, fazer com que o inimigo perca a cabeça para que este retalie com força desproporcional. E foi isso que aconteceu: o Iraque, o Afeganistão, e já agora a Síria que num caos nunca visto se fragmentaram em pedaços. É o espetáculo teatral que interessa ao terrorista, esperando assim provocar o inimigo e fazê-lo exagerar na reação. Os terroristas montam com o máximo de violência uma cena aterradora de violência, que ao matar um punhado que seja, de pessoas, amedrontam milhões.

A estratégia do terrorismo é à primeira vista muito bizarra, porque deixa o mais importante nas mãos do inimigo. Porque o poder militar do inimigo não é beliscado, quando muito reforçado. O inimigo mantém todas as opções de ataque preservadas, à sua disposição para o usar quando quiser. Para aplacar os temores das suas populações civis os governos reagem ao teatro do terror com um equivalente “show” de segurança, orquestrando demonstrações de força através da invasão de países estrangeiros. Dizem os governantes: “Não toleraremos a violência dentro das nossas fronteiras”. E os cidadãos, por sua vez, levaram a sério a política da “violência zero”. Mas, na maioria dos casos, estas opções políticas colocam em risco as pessoas, ainda mais. E os militares, sabendo que assim é, tentam evitar essa situação a todo o custo. É este o paradoxo, o próprio sucesso dos estados modernos tornou-os particularmente vulneráveis ao terrorismo. Por isso, o fito do terror é gerar temores viscerais que por sua vez vão espalhar a anarquia por todo o lado, fazendo com que as pessoas se sintam como se a ordem social estivesse prestes a entrar em colapso.

Assim, a ação mais inteligente contra o terrorismo tem de ser uma ação clandestina, em que uma das lanças mais certeiras é o boicote financeiro que alimenta os terroristas. Isso não é algo que os cidadãos possam ver na televisão. Mas não, o que os cidadãos de todo o mundo viram foi a encenação de um espetáculo ainda com mais fogo e fumaça. Assim, em vez de os Aliados agirem silenciosa e eficientemente, desencadearam uma poderosa tempestade, que acalentou ainda mais os sonhos dos terroristas.

Mas há pessimistas que vislumbram os dias que hão de vir ainda mais sombrios. Por um lado, o ciberterrorismo e o bioterrorismo serão muito mais ameaçadores. E por outro lado haverá outras frentes ainda mais catastróficas. Quando Nova Iorque e Londres se estiverem a afundar sob as águas do Atlântico, ninguém vai saber para que lado se virar. Mas até lá os pessimistas ainda esperam a guerra aberta Europa-Rússia com EUA e China a arbitrarem. Simplesmente não há mãos que cheguem para nos podermos preparar para toda e qualquer eventualidade.

É difícil estabelecer prioridades em tempo real, enquanto é muito fácil criticar retrospetivamente decisões sobre prioridades. Nós acusamos os líderes de terem fracassado, mas ignoramos outras catástrofes que poderiam ter acontecido e não chegaram a materializar-se. Na década de 1990 pouca gente imaginava que os terroristas islâmicos fossem capazes de desencadear um conflito global arremessando aviões comerciais contra os arranha-céus de Nova Iorque. Na verdade, muitos temiam que a Rússia entrasse em colapso total e perdesse o controlo não apenas de seu território, mas também de milhares de bombas nucleares e biológicas. Uma outra preocupação era que as guerras sangrentas na antiga Jugoslávia pudessem se espalhar para outras partes da Europa oriental, resultando em conflitos entre a Hungria e a Roménia, entre a Bulgária e a Turquia, ou entre a Polónia e a Ucrânia. Muitos ficaram ainda mais inquietos com a reunificação da Alemanha. Hoje podemos ridicularizar esses cenários porque sabemos que não se materializaram. A situação na Rússia estabilizou-se, a maior parte da Europa oriental foi absorvida pacificamente pela União Europeia, a Alemanha reunificada é saudada hoje com o agrado de todos, e a China tornou-se o motor económico do mundo inteiro.

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