Os séculos XIX e
XX foram marcados pela expansão do nacionalismo. O nacionalismo estimulou novos
projetos políticos com rearranjos de estados que anteriormente estavam
organizados segundo a lógica dos impérios. Isto teve impacto sobre preconceitos
étnicos associados a pressupostos religiosos e rácicos. Para além da identidade
nacional se estruturar à volta de uma língua, a identidade religiosa ganhou uma
importância renovada.
Assim, a
reestruturação das fronteiras centrou o debate político na disputa dos
territórios, sobretudo na Europa Central e de Leste. Veio a Primeira Guerra
Mundial, por via da qual se desintegraram os três impérios: Otomano, Austríaco
e Russo, todos eles multiétnicos por natureza. E depois veio a Segunda Guerra
Mundial, em que a supremacia racial da Alemanha teve como oposição a virtude da
classe operária soviética.
A participação do Império
Otomano na Primeira Guerra Mundial, aliado aos alemães e aos austro-húngaros
contra os russos, foi o golpe fatal nas relações precárias entre comunidades. A
derrota otomana fez dos arménios o bode expiatório, justificando a limpeza
étnica, a mobilização da população turca e o envolvimento dos curdos em ações
criminosas. Várias centenas de milhar de curdos foram deportados após a remoção
dos arménios. O genocídio da população arménia na Anatólia foi o resultado mais
desastroso de um século de migrações forçadas, massacres e limpezas étnicas,
desencadeado pelo projeto político dos Jovens Turcos de reservar a Anatólia e a
Trácia Oriental para a sua própria nação.
Na segunda Guerra
Mundial o nacionalismo russo revelou-se a mais eficaz das armas ideológicas no
que diz respeito à mobilização da população contra a invasão alemã nazi. E o internacionalismo
serviu para alargar a influência da União Soviética e criar uma comunidade de interesses entre os agentes orgânicos da classe operária. Durante algum tempo a
divisão de classes revelou-se mais inclusiva do que a divisão racial, divisão
que o sistema soviético recusava. No sistema fascista-nazi os ciganos
encontravam-se no fundo da escala; os negros eram considerados de pouco valor;
os judeus eram visados como inimigo interno; e os eslavos eram rotulados como
raça inferior.
A deportação das
minorias nacionais na Europa não parou com o final da Segunda Guerra Mundial. É
verdade que a base do conflito surgira com as invasões nazis, os massacres, as
deportações e a colonização de territórios conquistados pelos alemães. Os horrores da guerra e as suas bases raciais haviam deixado memórias bem claras nos
territórios ocupados, mas a paz poderia ter sarado as feridas e imposto métodos
civis para a integração das minorias. Contudo, não foi isso que aconteceu.
Estima-se que 12 milhões de alemães tenham sido desenraizados entre 1945 e
1948, com provavelmente 500.000 a morrer durante o processo. A lealdade nacional
tornara-se uma questão crucial após a guerra. O conceito de Estado-Nação
tornou-se fulcral, mesmo nos países da chamada cortina de ferro.
A reconstituição
da Jugoslávia após a Segunda Guerra Mundial, sob a liderança de Tito, um croata
comunista, adiou grandes erupções de vingança étnica e nacional, até que
rebentou depois da queda do Muro de Berlim. Foi a guerra entre sérvios, croatas
e bósnios muçulmanos ou albaneses entre 1991 e 1995.
Enfim, podiam ser
dados muitos mais exemplos para dizer que o racismo precedeu a teoria das
raças, mas a inclusão numa estrutura científica de preconceitos novos e antigos
relacionados com a descendência étnica acentuou a ação discriminatória, uma vez
que cristalizou os preconceitos étnicos, atribuindo-lhes um estatuto de
conhecimento superior. O nacionalismo trouxe consigo a fusão de nação e de raça,
com a identidade coletiva a ser baseada na ideia de uma língua e de uma
descendência partilhadas. O preconceito quanto à descendência foi visível na
África colonial, levando a várias formas de discriminação e de segregação.
Embora as teorias de raças garantissem uma estrutura científica às
classificações da humanidade, a religião confundiu-se com as perceções de
descendência nas formas de ódio étnico. A violência das limpezas étnicas
atingiu níveis sem precedentes no século XX, com formas nunca vistas de
escravatura e de genocídio que se espalharam da Europa para outros continentes
onde já se vislumbravam dinâmicas específicas de conflito étnico.
Felizmente que
agora na maior parte do mundo prevalece o comportamento antirracista. Mas tal
como o que se diz para a democracia, neste mundo humano nada está garantido
para todo o sempre. É preciso dizer que o racismo não desapareceu. Agora já não
são as diferenças físicas, mas são as diferenças culturais que estão em causa.
São os atrasos culturais e as inerentes incapacidades de adaptação que são
invocadas como argumento contra as atuais imigrações para a Europa. Agora os
imigrantes são acusados de oportunismo por quererem desfrutar benefícios de
assistência social superior àqueles a que alguma vez conseguiram criar.
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