Viktor Orbán, o
primeiro-ministro húngaro, declarou em 2017 que o seu regresso ao poder marcava
o ponto em que os húngaros decidiram que queriam recuperar o seu país com a
dignidade que a autoestima por si própria merecia. Pois a identidade nacional
nascia, em primeiro lugar, da distinção ente o nosso eu interior e um mundo
exterior de regras e normas da curvatura da banana e da couve de couve de
Bruxelas, que não reconhecia adequadamente o valor da dignidade do eu interior
húngaro. Não é o eu interior que deve ser obrigado a conformar-se com a regras
impostas por uma casta de burocratas. Quem tem de mudar é precisamente essa
mesma casta.
Esta segunda
década dos ‘anos 2000’, tem sido profundamente marcada por uma recessão
democrática, não apenas na Europa, mas um pouco por todo o mundo. E então, a
que se deve isto? Como anda tudo ligado, é um fenómeno que começa em força em
meados dos ‘anos 1980’ com a deslocalização das empresas-fábrica da Europa e
dos Estados Unidos para a Ásai Oriental, onde a mão de obra era muito mais
barata, e culmina, pelo menos até aqui, na mutação da Al-Qaeda em Estado
Islâmico. E jovens muçulmanos, a maior parte deles nascidos na Europa, a
deixarem as suas vidas, aparentemente vividas com relativa tranquilidade, para
se alistarem nas fileiras do autodenominado Estado Islâmico. E a cereja do bolo
chegou em 2016, quando os britânicos votaram a favor da sua saída da União
Europeia, e os norte-americanos elegeram Donald Trump como Presidente dos
Estados Unidos.
Assim, para a
emergência do sentimento de identidade nacional, que estava adormecido, juntou-se
a fome com a vontade de comer: a perda de emprego por parte das classes
trabalhadoras e classes médias antigas desses países; e a vaga colossal de
imigrantes fugindo à guerra, e a outros atropelos contra os direitos humanos,
sobretudo do Médio Oriente, África Subsariana e América Central. Muitos
nacionais dos países de acolhimento viram os imigrantes não só como usurpadores
dos seus empregos, mas também como os causadores da insegurança e agitação
social. Estavam assim criadas as condições para que partidos anti-imigração e
anti União Europeia ganhassem força para subir em flexa.
Bem ou mal,
sobretudo os eleitorados preferencialmente inclinados para políticas
conservadoras e de direita, sentiram que o seu âmago, o mais íntimo da sua
dignidade humana, o “eu interior”, estava ameaçado. Portanto, já não era apenas
a carestia material, devida ao desemprego, o único problema, mas a ela associava-se
o sentimento de um eu interior desrespeitado, para não dizer humilhado.
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