domingo, 25 de novembro de 2018

Terra prometida (2)


          Então no dia 31 de agosto de 2015, na Alemanha, todos os alemães ouviram Angela Merkel proclamar que o mundo via a Alemanha como um país de esperança, apesar de nem sempre ter sido assim. Poucos dias antes tinha havido um ataque incendiário em instalações para migrantes numa cidade do leste alemão, e manifestações no exterior de um centro a partir de agora chamado de refugiados. Quando a chanceler apareceu nessa cidade, foi vaiada e assobiada pela multidão.
          Mas outros alemães viram essas manifestações horrorizados. Era preciso agir de forma a mostrarem um lado diferente do seu país. E estavam prontos para isso. Essa oportunidade chegou poucos dias depois, quando a chanceler abriu as portas a centenas de milhares de pessoas que haviam partido do Mediterrâneo e subido rumo à Alemanha passando a Sérvia, a Hungria e a Áustria. Nas fronteiras e nas estações ferroviárias juntaram-se centenas de alemães para dar as boas-vindas aos agora denominados refugiados que chegavam. Nesta altura já tinha conotação pejorativa chamar-lhes migrantes, pelo que passaram então a ser refugiados. Cadeias formadas por voluntários entregavam-lhes comida e presentes, incluindo ursos de peluche para as crianças.
          Este espírito espalhou-se a outros países do norte da Europa. Por exemplo, na Dinamarca, quando jorravam montes de imigrantes pela ponte em direção às Suécia, uma política dinamarquesa de 24 anos de idade começou a transportar refugiados no seu iate, entre a cidade de Copenhaga e a cidade sueca de Malmo. De um dia para o outro a crise da migração é redefinida nos círculos mais abertos como uma crise de refugiados, e quem questionasse era visto como xenófobo.
          A partir da exuberante manifestação de boas-vindas alemã, todos passaram a querer ir para a Alemanha. De um momento para o outro passou a haver autocarros na Grécia e na Macedónia. E a barreira da Hungria já não era mais do que um rolo de arame farpado que se podia transpor, interpondo, por exemplo, um colchão, ou até um casaco. Aos milhares em plena luz do dia, a polícia húngara já não fazia nada para os impedir. Foram autorizados a atravessar o país com destino à Áustria e depois Alemanha, que prometeu recebê-los de braços abertos.
          Ainda assim tinham um desafio: ou os centros policiais de identificação; ou os traficantes criminosos sem escrúpulos; ou então, se tivessem sorte, a ajuda de um voluntário que desafia também a sua sorte a anos de prisão se fossem apanhados pela polícia.
          Mas em 15 de setembro de 2015 a Hungria bloqueava finalmente de vez a principal rota até ali usada pelos refugiados para alcançarem a Alemanha. Por isso a rota sofreu um desvio em direção à Croácia.

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