Então no dia 31 de
agosto de 2015, na Alemanha, todos os alemães ouviram Angela Merkel proclamar que
o mundo via a Alemanha como um país de esperança, apesar de nem sempre ter sido
assim. Poucos dias antes tinha havido um ataque incendiário em instalações para
migrantes numa cidade do leste alemão, e manifestações no exterior de um centro
a partir de agora chamado de refugiados. Quando a chanceler apareceu nessa
cidade, foi vaiada e assobiada pela multidão.
Mas outros alemães
viram essas manifestações horrorizados. Era preciso agir de forma a mostrarem
um lado diferente do seu país. E estavam prontos para isso. Essa oportunidade
chegou poucos dias depois, quando a chanceler abriu as portas a centenas de
milhares de pessoas que haviam partido do Mediterrâneo e subido rumo à Alemanha
passando a Sérvia, a Hungria e a Áustria. Nas fronteiras e nas estações
ferroviárias juntaram-se centenas de alemães para dar as boas-vindas aos agora
denominados refugiados que chegavam. Nesta altura já tinha conotação pejorativa
chamar-lhes migrantes, pelo que passaram então a ser refugiados. Cadeias
formadas por voluntários entregavam-lhes comida e presentes, incluindo ursos de
peluche para as crianças.
Este espírito espalhou-se
a outros países do norte da Europa. Por exemplo, na Dinamarca, quando jorravam
montes de imigrantes pela ponte em direção às Suécia, uma política dinamarquesa
de 24 anos de idade começou a transportar refugiados no seu iate, entre a
cidade de Copenhaga e a cidade sueca de Malmo. De um dia para o outro a crise
da migração é redefinida nos círculos mais abertos como uma crise de refugiados, e quem questionasse era visto como xenófobo.
A partir da
exuberante manifestação de boas-vindas alemã, todos passaram a querer ir para a
Alemanha. De um momento para o outro passou a haver autocarros na Grécia e na
Macedónia. E a barreira da Hungria já não era mais do que um rolo de arame
farpado que se podia transpor, interpondo, por exemplo, um colchão, ou até um
casaco. Aos milhares em plena luz do dia, a polícia húngara já não fazia nada
para os impedir. Foram autorizados a atravessar o país com destino à Áustria e
depois Alemanha, que prometeu recebê-los de braços abertos.
Ainda assim tinham
um desafio: ou os centros policiais de identificação; ou os traficantes
criminosos sem escrúpulos; ou então, se tivessem sorte, a ajuda de um
voluntário que desafia também a sua sorte a anos de prisão se fossem apanhados
pela polícia.
Mas em 15 de
setembro de 2015 a Hungria bloqueava finalmente de vez a principal rota até ali
usada pelos refugiados para alcançarem a Alemanha. Por isso a rota sofreu um
desvio em direção à Croácia.
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