segunda-feira, 19 de novembro de 2018

O Homem a abrir a caixa de Pandora e a ver o seu poder em cinzas


          Em certos processos históricos há pontos de inflexão que, só a posteriori, se podem ver melhor e avaliar as consequências. Mas não é este o caso. O Homem abriu a caixa, e viram-se logo os fenómenos incontroláveis. Mas o Homem continuou com o cinismo do pior que há. Não tem necessidade de mediadores.
          Nos últimos tempos havíamos ficado sensíveis à obrigação de usar publicamente expressões não humilhantes: não negros, mas subsarianos; não pobres, mas desfavorecidos; e por aí fora. E agradados com a discriminação positiva, ou com o Affirmative action do outro lado do Atlântico que entrou em desuso depois do 11 de setembro. As minorias, a começar pelas muçulmanas, sentiram-se obrigadas a exceder-se em zelo cívico. E o Homem proferiu o slogan “America First”, como única palavra de ordem.
          Seja como for, temos de continuar a acreditar no estado de direito, nos juízes e na comunicação social. Cuidado com a opinião pública. É preciso ter em conta que a opinião pública é muito versátil e traiçoeira. Não nos devemos deixar levar pelas delícias do Carpe diem. Uma coisa é o Homem, outra é o país. Podemos não estar a gostar do governante, e ainda assim apreciarmos uma democracia com “checks and balances”, a quinta essência da democracia. Com esta atitude não somos obrigados a ter de ser pró-americanos. E também não vejo necessidade de neste momento sermos antiamericanos primários.
          Como sabemos que nem sempre conseguimos saber a verdade do que acontece pela mera aparência dos factos, necessitamos de criar grelhas interpretativas. Portanto, se queremos saber o que se passa em todo o planeta, que agora não é mais do que uma aldeia global, não nos podemos abster de usar essas grelhas interpretativas. Porque mais tarde ou mais cedo também servirão para ajudar a tomar as melhores decisões que têm mais diretamente a ver com as nossas próprias vidas. Não reagir também é uma escolha, embora quase nunca a melhor. Temos de estar sempre a escolher valores para que a nossa vida possa fazer sentido com a maior dignidade possível. É claro que qualquer decisão pode umas vezes ser boa, e outras vezes má. Vai depender dos critérios que, num determinado contexto, conforme as circunstâncias, utilizemos para conhecer a realidade. Realidade essa que é um enigma, envolvida num grande mistério.

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