Em certos
processos históricos há pontos de inflexão que, só a posteriori, se podem ver melhor e avaliar as consequências. Mas
não é este o caso. O Homem abriu a caixa, e viram-se logo os fenómenos incontroláveis.
Mas o Homem continuou com o cinismo do pior que há. Não tem necessidade de
mediadores.
Nos últimos tempos
havíamos ficado sensíveis à obrigação de usar publicamente expressões não
humilhantes: não negros, mas subsarianos; não pobres, mas desfavorecidos; e por
aí fora. E agradados com a discriminação positiva, ou com o Affirmative action do outro lado do
Atlântico que entrou em desuso depois do 11 de setembro. As minorias, a começar
pelas muçulmanas, sentiram-se obrigadas a exceder-se em zelo cívico. E o Homem
proferiu o slogan “America First”, como única palavra de ordem.
Seja como for,
temos de continuar a acreditar no estado de direito, nos juízes e na
comunicação social. Cuidado com a opinião pública. É preciso ter em conta que a
opinião pública é muito versátil e traiçoeira. Não nos devemos deixar levar
pelas delícias do Carpe diem. Uma
coisa é o Homem, outra é o país. Podemos não estar a gostar do governante, e
ainda assim apreciarmos uma democracia com “checks
and balances”, a quinta essência da democracia. Com esta atitude não somos
obrigados a ter de ser pró-americanos. E também não vejo necessidade de neste
momento sermos antiamericanos primários.
Como sabemos que nem
sempre conseguimos saber a verdade do que acontece pela mera aparência dos
factos, necessitamos de criar grelhas interpretativas. Portanto, se queremos
saber o que se passa em todo o planeta, que agora não é mais do que uma aldeia
global, não nos podemos abster de usar essas grelhas interpretativas. Porque mais
tarde ou mais cedo também servirão para ajudar a tomar as melhores decisões que
têm mais diretamente a ver com as nossas próprias vidas. Não reagir também é
uma escolha, embora quase nunca a melhor. Temos de estar sempre a escolher
valores para que a nossa vida possa fazer sentido com a maior dignidade
possível. É claro que qualquer decisão pode umas vezes ser boa, e outras vezes
má. Vai depender dos critérios que, num determinado contexto, conforme as
circunstâncias, utilizemos para conhecer a realidade. Realidade essa que é um
enigma, envolvida num grande mistério.
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