quarta-feira, 15 de maio de 2019

A singularidade cósmica


As respostas que os cosmólogos e os astrofísicos nos dão às perguntas que lhes fazemos acerca do Universo, são respostas conjeturais apenas ao como e não ao porquê. A cosmovisão atual dos cientistas não se mete por nenhuma tese meta-científica. O raciocínio metafísico e teológico faz-se por outras vias. No entanto, ainda existem resquícios do deísmo, em que o Genial Arquiteto no início dos tempos criou o mundo como uma máquina perfeita que agora marcha por si mesma, enquanto Ele se retirou não se sabe bem para onde. Deus no céu atento ao mundo, passivo, atuando só de vez em quando para fazer um milagre ou outro, movido por petições e sacrifícios, pedidos diretamente pelos seus fiéis, ou por recomendação dos santos e santas. O deísmo é a conceção que os filósofos e os cientistas do Iluminismo abraçaram, agora guardada preferencialmente pela Maçonaria. Uma conceção de Deus em tudo idêntica à anterior, mas que nega a providência divina e, por consequência, a sua intervenção no mundo. Nesta conceção, Deus é uma espécie de relojoeiro, que fez o mundo e o abandonou à sua sorte. Mas o porquê do aparecimento do mundo, muito menos o para quê, para isso não contem connosco. Por contingência, tudo até poderia nunca ter existido.

Se antes de Kant as provas da existência de Deus tinham um caráter cosmológico, a partir de Kant sofreu uma viragem antropológica, marcada por uma intensa emergência de subjetividade. Quer dizer, se antes a contingência se descobria sobretudo na observação do cosmos, hoje a contingência remete prioritariamente para a realidade humana.

A nível filosófico continua a ser possível tanto uma interpretação ateísta como teísta do big-bang. Esta teoria foi muito saudada pelas autoridades religiosas do Vaticano. Mais controversa é a finalidade no mundo, quando se tenta traduzir acaso e necessidade no mundo. Hoje é muito mais difícil uma cosmovisão circular de um mundo de matéria eterna. Hoje é a complexidade imensa de uma evolução que nasce de uma imensa explosão de energia incalculável. Como é que a ordem pode ser fruto da matéria abandonada a si mesma contrariando a entropia? Não sabemos.

De todas as crenças religiosas, a principal é a crença em Deus e, por isso, de um modo geral, os problemas mais importantes investigados pelos filósofos da religião estão relacionados com essa crença. Esses problemas são os que dizem respeito à existência, à natureza e à atividade de Deus. As grandes religiões monoteístas ocidentais ― o judaísmo, o islamismo e o cristianismo ― partilham uma conceção da natureza de Deus a que normalmente se chama teísta. De acordo com esta conceção, Deus é um ser pessoal, espiritual, sumamente sábio, sumamente bom e sumamente poderoso, que criou o mundo para o homem, que intervém no mundo por intermédio de milagres e profecias e que, graças à sua providência, protege o homem.

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