sexta-feira, 10 de maio de 2019

Laicidade e religiosidade


A laicidade é um conceito que resultou da necessidade de separar tudo aquilo que fazia parte da vida social, incluindo a moralidade e as instituições que não tinham necessidade do domínio religioso. Filósofos e teólogos da esfera do cristianismo procuraram entender-se quanto às dicotomias filosófico/teológicas: religioso/secular; sagrado/profano; espiritual/temporal; eclesiástico/laico.

A doutrina laica no que concerne à moralidade, considera que a moralidade deve-se basear em considerações racionais, tendo em vista o propósito do maior bem-estar de todos neste mundo de forma independente de considerações relativas a Deus ou à vida para além da morte. E as instituições públicas, em especial as dedicadas à educação universal, devem ter uma orientação baseada em doutrinas laicas e não religiosas.

Ora, a laicidade foi uma evolução exclusiva do mundo cristão, não do mundo muçulmano. E isto remete para a doutrina alegadamente propalada pelos seus fundadores: Jesus Cristo e Maomé. Enquanto o pronunciamento de Jesus Cristo: “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus” dava a entender que era de todo o interesse para a boa convivialidade a separação entre o poder político e o poder religioso, o mesmo não o entendeu Maomé, um profeta que apesar de tudo era evolutivamente mais novo que Jesus. Maomé voltou a recuperar o culto ancestral das formas mais antigas das religiões do Médio Oriente, do qual fazia parte integral o determinismo da autoridade do poder político que em última instância remetia para o poder divino.

Quando o laicismo foi trazido pela Revolução Francesa, num primeiro momento o islamismo viu com bons olhos o laicismo, pois parecia significar o fim do cristianismo. E para o islão isso era bom, porque retirava do seu caminho o infiel. Mas não tardou que os muçulmanos percebessem que tais ideias, que vinham no mesmo pacote das ideias científicas do Iluminismo, poderiam ser ameaçadoras não apenas para o cristianismo, mas também para o islão, e, portanto, passaram a manifestar claramente a sua oposição.

No processo de secularização que se verificou no Ocidente, Deus foi duplamente destronado, quer como fonte de soberania, quer como objeto de veneração. Na atualidade o laicismo enfrenta grandes dificuldades no Médio Oriente, porque personifica o inimigo. A jihad do aqui e agora foi inspirada em Faraj, o guia ideológico do grupo que assassinou o presidente Sadat do Egito em 1981. Na jihad, o sangue dos muçulmanos deve correr até a vitória ser alcançada. Faraj foi um dos líderes fundadores da Jihad islâmica egípcia, no final da década de 1970, um dos mais importantes movimentos islamistas radicais e violentos do mundo islâmico. Considerado culpado do assassinato de Sadat, Faraj foi executado e muitos dos membros do movimento foram forçados a viver no exílio desde o início dos anos 80. Destes, uma parte importante passou pelo Afeganistão e eventualmente integrou a Al-Qaeda, de Osama bin Laden. A seguinte frase é do próprio Faraj: “É nosso dever concentrar-nos na causa islâmica propriamente dita, o que significa primeiro e fundamentalmente estabelecer a lei de Deus na nossa terra e fazer com que a palavra de Deus prevaleça. Não pode haver lugar para dúvidas quanto ao facto de o primeiro campo de batalha da jihad ser extirpar os infiéis da liderança do mundo, e garantir a sua substituição por uma ordem islâmica perfeita. Daí virá a libertação”.

Sem comentários:

Enviar um comentário