domingo, 27 de agosto de 2023

A origem da marreta Wagner





Em 2022 passou nas redes sociais um vídeo mostrando um mercenário do Grupo Wagner a ser espancado com uma marreta por ter tentado desertar. Yegeny Progozhin, o patrão do Grupo Wagner, um dia apresentou-se aos seus instrutores com uma marreta dizendo que queria que eles a usassem na punição de quem se portasse mal. O nome "Wagner" foi dado pelo seu fundador - Dmitry Utkin, um tenente-coronel russo - como homenagem a Richard Wagner, para além da sua ideologia nazi e crente da fé nativa eslava.




Ora, esta simbologia está toda ligada, incluindo a marreta que na mitologia nórdica é a arma do deus do trovão - Thor, onde Wagner também se inspirou para a sua Ópera - O Crepúsculo dos Deuses - a 4ª ópera de um ciclo de 4 óperas denominado - O Anel do Nibelungo.




Nietzsche, na sua penúltima obra em 1888 – Crepúsculo dos Ídolos, ou Como Filosofar com o Martelo –, e numa das cartas acrescentadas em apêndice à primeira edição, escreveu que era como um aperitivo destinado a "abrir o apetite" dos leitores para a sua filosofia. O título é uma paródia à Ópera de Wagner Crepúsculo dos Deuses. No subtítulo, a palavra "martelo" deve ser entendida como marreta, para destroçar os ídolos, e também como diapasão para, ao tocar as estátuas dos ídolos, comprovar que são ocos. Trata-se de uma síntese e introdução a toda a sua obra, e ao mesmo tempo uma "declaração de guerra". É com espírito guerreiro que ele se lança contra os "ídolos", as ilusões antigas e novas do Ocidente: a moral cristã, os grandes equívocos da filosofia, as ideias e tendências modernas e seus representantes. De tão variados e abrangentes, esses ataques compõem um mosaico dos temas e atitudes do autor.



[…] Em algumas circunstâncias ainda mais desejada por mim, está em auscultar ídolos... Há mais ídolos do que realidades no mundo: este é o meu “mau olhar” para este mundo, é também o meu “mau ouvido” ... Fazer perguntas com o martelo e talvez ouvir, como resposta, aquele célebre som oco que vem de vísceras infladas — que deleite para alguém que tem outros ouvidos por trás dos ouvidos — para mim, velho psicólogo e aliciador, ante o qual o que queria guardar silêncio tem de manifestar-se.

Também este livro — seu título já o revela — é sobretudo um descanso, um torrão banhado de sol, uma escapada para o ócio de um psicólogo. Talvez também uma nova guerra? E serão perscrutados novos ídolos?

Este pequeno livro é uma grande declaração de guerra; e, quanto ao escrutínio de ídolos, desta vez eles não são ídolos da época, mas ídolos eternos, aqui tocados com o martelo como se este fosse um diapasão — não há, absolutamente, ídolos mais velhos, mais convencidos, mais empolados.

E tampouco mais ocos. Isso não impede que sejam os mais acreditados; e, principalmente no caso mais nobre, tampouco são chamados de ídolos.

Turim, em 30 de setembro de 1888, dia em que foi terminado o primeiro livro da Transvaloração de todos os valores

Friedrich Nietzsche

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