segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Não deitem fora o bebé com a água do banho



Num programa televisivo, a dada altura vê-se Meryl Streep a dar um beijo na boca do ator Mark Ruffalo. O que tinha acontecido para um gesto inusitado por parte de Meryl Streep? Parece que Mark Ruffalo tinha elogiado Meryl Streep com uma frase do género: «apesar de muita coisa ter mudado na sua vida nos últimos anos, aparenta 45 anos, e não 65.» Para retribuir o elogia, Meryl prega um chocho na boca do ator. Este ficou visivelmente embraçado, com um sorriso constrangido de envergonhado.




O governo espanhol está muito preocupado com o “beijo de Luís Rubiales”, Presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, e ex-jogador profissional, e está a fazer pressão para que o caso se resolva o mais rápido possível: que Rubiales seja mesmo afastado de forma definitiva do cargo. Passaram 7 dias desde esse momento do beijo, mas a polémica continua adensando-se até cada vez mais nos órgãos de comunicação social e redes sociais. A indignação é quase unânime, embora aqui e ali haja vozes que recomendam alguma sensatez para que não se caia no exagero da histeria.




Nas arenas específicas da luta contra o patriarcado e a opressão machista, este caso tem dado que falar na esteira do que tem sido ultimamente a agenda feminista na denúncia do abuso e assédio sexual por parte do sexo masculino. De alguma forma este caso é mais uma gota que faz transbordar o copo.

Portanto, existe este problema no desporto bem como em muitas outras esferas. É um problema generalizado da atividade humana, mas também temos de ter muito cuidado porque é muito fácil resvalar-se para julgamentos sumários com os tribunais de opinião por parte de rebanhos unanimistas da moral ditada por cartilhas. Já estão a pedir o impedimento sumário de Rubiales assumir qualquer cargo público, saltando por cima do estado de direito. É fundamental que analisemos estes casos não apenas através de um só prisma. É muito importante a igualdade de género. É importante a denúncia do abuso por parte de quem está em posições de poder. Mas que com isso não se destruam outros valores que são igualmente importantes. Por exemplo, a atleta e a família da atleta já pediram à comunicação social para moderarem esta violência mediática que elas também sofrem com o vasculho.

A talho de foice, trago aqui o caso da  música Fat Bottomed Girls dos Queen para dizer que isto anda tudo ligado e que os tempos foram sempre muito interessantes para os historiadores. Digo-o com a desfaçatez do pé direito calçado com o sapato esquerdo de Heródoto; e o esquerdo calçado com o direito de Tucídides. Pois bem, essa música 
foi removida de uma reedição de “Greatest Hits”, coletânea do grupo que é o álbum mais vendido de sempre no Reino Unido. As crianças não podem ser expostas a qualquer espécie de body shaming. Ou seja, agora já não há gordos, magros, lingrinhas ou minorcas. É uma forma estimável e decente de falar de casos traumáticos, exibir respeito pelas vítimas e proteger os frágeis.

Mas será que estamos a criar uma geração com poucas ferramentas para lidar com a adversidade? Ou é uma ideologia de vitimização que tende a reforçar o processo de trauma que torna a vítima ainda mais vulnerável? Lassidão, tolice e boas intenções são sempre a capa visível da tirania.

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