sábado, 12 de agosto de 2023

Terceira Guerra Servil liderada por Espártaco - 73-71 a.C. - no tempo de Pompeu e Crasso



Embora livre de conflitos intestinos desde a derrota de Lépido, Roma não estava totalmente em paz. Em 73 a.C., um grupo de cerca de 80 gladiadores escapara de uma escola da profissão, em Cápua, e se refugiara nas encostas do monte Vesúvio. Atacando e saqueando a área vizinha, receberam reforços de muitos escravos fugitivos, até que o seu líder - Espártaco - viu-se no comando de um grande exército, sempre em crescimento. Pouco se sabe sobre esse homem, apenas se sabe que era da Trácia. Várias fontes afirmam que havia lutado contra os Romanos, fora capturado, acabando como auxiliar nas legiões romanas. Apesar de a segunda afirmação ser mais duvidosa, pois os Romanos orgulhavam-se de declarar que seus inimigos mais perigosos eram sempre aqueles que tinham treinado, exatamente como Jugurta, que aprendera a combater quando servira com Emiliano em Numância.

Seja qual for a verdade sobre as suas origens, ele demonstrou ser um génio de táticas, liderança e organização, transformando um bando - germânicos, trácios, gauleses e escravos de outras nacionalidades - num exército formidável. Os Romanos enviaram primeiro pequenas forças contra eles, mas foram derrotados. Então, reuniram exércitos completos sob comandantes consulares. Mas continuavam a ser vencidos por Espártaco. Em cada vitória capturava mais armas e armaduras para equipar os seus homens. Mas com o tempo, os escravos passaram a construir oficinas para fabricar equipamento militar.

Depois de tanta derrota o Senado passou o comando principal da luta a Marco Licínio Crasso, que fora pretor no ano anterior. Crasso era outro homem que apoiara Sula durante a guerra civil – seu pai e seu irmão mais velho tinham sido mortos no expurgo de Mário. Ele serviu Sula com distinção, embora não de forma espetacular como Pompeu. Comandara uma das alas do exército na Batalha de Porta Colina. Crasso recebeu muitas propriedades confiscadas das vítimas das proscrições. Converteu tais ganhos numa enorme fortuna por meio de investimentos audaciosos e atividades mercantis.

Crasso iniciou o seu comando na Terceira Guerra Servil ordenando que as legiões derrotadas pelos seus predecessores sofressem a arcaica punição da dizimação, em que era sorteado um soldado por cada dez a fim de ser espancado pelos colegas até à morte. A maioria dos legionários sofria apenas um castigo simbólico, recebendo uma ração de cevada em vez de trigo, e em alguns casos eram forçados a armar as tendas fora das paliçadas do acampamento do exército. Tal medida brutal era uma indicação do que representavam os escravos, em que Crasso era implacável. A essas duas legiões, ele acrescentou outras seis recém arregimentadas. 

Um grupo do exército principal de Espártaco afastara-se, acabando por ser derrotado. Crasso construiu uma imensa linha de fortificações, isolando o  exército principal de Espártaco no extremo sudoeste da Itália. Mas Espártaco conseguiu romper a linha de defesa. Finalmente, em 71 a.C., acabou por ser derrotado após um combate muito encarniçado. No início da ação, o antigo gladiador cortara a garganta do seu próprio cavalo. O animal, que havia sido capturado de um comandante romano derrotado, era naturalmente um cavalo de grande valor. Pois bem, isso foi para demonstrar a seus homens que não iria fugir, mas lutar e morrer com eles. O gesto foi semelhante à decisão de Mário de colocar-se à frente do pelotão em Águas Sêxtias.

Plutarco afirma que Espártaco foi morto quando tentava alcançar Crasso, tendo já matado dois centuriões que o enfrentaram juntos. Seis mil guerrilheiros de Espártaco foram feitos prisioneiros. Crasso mandou que todos fossem crucificados a intervalos regulares ao longo da Via Ápia (de Roma a Cápua), como uma tétrica demonstração do destino que aguardava os escravos rebeldes. Os Romanos, como sociedade, dependiam tanto da escravatura que a ideia de os escravos se rebelarem contra si aterrorizava-os. Assim, só ficaram mais descansados depois da morte de Espártaco, que se tinha mostrado ser um oponente de grande gabarito. 

Ora, quando o exército de Pompeu regressou à Itália, ainda veio a tempo de aniquilar vários milhares de escravos que tinham pertencido às fileiras de Espártaco. Isto foi o pretexto de Pompeu se vangloriar e celebrar. Pompeu afirmou ter sido o homem que pôs fim à 
Terceira Guerra Servil. Isso apenas aumentou a animosidade que já existia entre ele e Crasso, a qual datava da época em que Pompeu recebera uma posição mais proeminente de Sula, e despertara a inveja de Crasso. Pompeu estava agora com 35 anos e havia decidido, depois de muito tempo, participar formalmente na política ativa, tratando de se eleger como cônsul. 

Crasso, que era oito ou nove anos mais velho que Pompeu, e cuja carreira desde a guerra civil tinha sido deveras convencional, também estava ansioso por obter o posto mais alto da magistratura. E deu-se o caso de os dois homens estacionarem os seus exércitos perto de Roma. Estava-se mesmo a ver que os dois ensaiavam o propósito de entrar triunfalmente em Roma. Em algum momento dos últimos meses de 71 a.C. os dois comandantes vitoriosos terão enterrado a sua animosidade para anunciarem que se haviam unido para uma campanha eleitoral conjunta. 

O Senado rapidamente percebeu que tal combinação não poderia ser enfrentada. Assim, permitiu que Pompeu concorresse apesar de ainda não ter a idade mínima estabelecida pela lei de Sula. Os dois homens concorreram in absentia, uma vez que nenhum deles recebeu permissão para entrar na cidade até ao dia em que seriam ovacionados pelo seu triunfo. A popularidade de Pompeu e o dinheiro de Crasso, faziam muita coisa. É claro, combinado com as suas realizações genuínas e, possivelmente, com o medo dos seus exércitos. Seja como for, a entrada de Pompeu pela Via Sacra foi estrondosa em 29 de dezembro de 71 a.C., iniciando o seu consulado, e tornando-se senador, tudo no mesmo dia.

Havia um último ato de Pompeu para que a sua posição fosse legitimada na vida pública romana. Era uma cerimónia já ultrapassada, mas que o povo romano adorava. Era tradição que os censores eleitos a cada cinco anos fizessem um ato formal a qualquer membro da classe equestre que tivesse chegado ao fim do seu serviço militar, detalhando as suas ações com louvor e circunstância. Por esta altura essa prática era considerada arcaica, uma vez que os membros da classe equestre não mais forneciam a cavalaria para as legiões. E apenas uma parte dessa classe escolhia servir como tribuno ou outro cargo. Mas não era a diminuição da sua relevância que levava os romanos a abandonarem as cerimónias tradicionais.

Chegou então o dia de os censores iniciarem a tarefa quando Pompeu chegou montado num cavalo que simbolizava o antigo papel militar, acompanhado de doze lictores que seguiam o cônsul. Este ordenou que seus lictores abrissem caminho para ele chegar até aos censores. Estes ficaram tão atrapalhados que ainda demoraram algum tempo para articularem as palavras tradicionais, inquirindo o cavaleiro se tinha cumprido as suas obrigações para com a República. Pompeu respondeu, com uma voz que alcançou a multidão, que servira sempre que o Estado lhe pedira, e sempre obedecera ao seu comando. Entre hurras e aplausos, os censores acabaram por cumprir as formalidades, acompanhando o cônsul até à sua casa, como prova de respeito.

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