sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Goa




 
Situado na costa do mar da Arábia, a 400 Km a sul de Bombaim, é atualmente o menor estado da Índia em território. e o 4º menor em população, apesar de ser o mais rico em PIB per capita. Entre 1510 e 1961, Goa esteve na posse do Estado português, que funcionou como capital do complexo império português na Índia, que englobava Goa, Damão e Diu. As suas igrejas e conventos são Património da Humanidade pela UNESCO, desde 1986. A cidade de Goa foi apelidada de "Roma do Oriente", sede da Arquidiocese de Goa e Damão e do Patriarcado das Índias Orientais.

Os séculos XVI e XVII foram a época áurea de Goa, que comandou um comércio florescente chegando a ter privilégios administrativos semelhantes aos de Lisboa. A partir de finais do século XVII, a concorrência comercial com holandeses e britânicos levou à decadência económica da Goa Velha, ao mesmo tempo que passou a ser o Brasil a colónia mais importante para Portugal. Além disso, várias epidemias assolaram a cidade. E o porto do rio Mandovi passou a ser inadequado para os navios mais modernos. O vice-rei mudou-se para Pangim (Nova Goa) em 1759. E foi assim que, em 1843, a Goa Velha perdeu oficialmente o estatuto de capital.

Missionários - Jesuítas franciscanos e de outras ordens religiosas - estabeleceram-se em Goa já no século XVI. A Companhia de Jesus chegou a Goa em 1542, sendo Francisco Xavier a figura mais relevante nestes primeiros tempos. Os colonizadores foram inicialmente tolerantes ao hinduísmo e outras religiões, mas a partir de 1560 a difusão do catolicismo foi reforçada pela chegada da Inquisição a Goa. Algum tempo depois, os jesuítas criaram um centro educativo religioso, o Colégio de São Paulo ou de São Roque, que contava com uma enorme biblioteca e tipografia. Este complexo foi destruído em 1830.

Nos dois primeiros séculos de presença portuguesa foram erguidas a maioria das igrejas e conventos que ainda hoje povoam a cidade. Enquanto as formas arquitetónicas seguem os cânones europeus, a decoração interna de altares, retábulos, pinturas e mobiliário refletem a mão-de-obra dos artistas locais. Isso foi possível pela grande tradição escultórica dos artistas indianos da região de Goa, que não fizeram com que fosse necessária a importação a grande escala de mão-de-obra artística.



A Sé de Goa é o maior edifício construído pelos portugueses na Ásia. A severa fachada, com três portais, possui uma só torre: a da direita foi destruída durante uma tempestade em 1766.


As naves da igreja são abobadadas e separadas por duas ordens de pilares. Da decoração interior destaca-se o magnífico retábulo da capela-mor em talha dourada.

A Ordem Franciscana foi a primeira a instalar-se em Goa, obtendo já em 1517 permissão do rei Dom Manuel para construir um convento. A primitiva igreja foi concluída em 1521, mas foi totalmente reedificada a partir de 1661, preservando-se, porém, um portal em estilo manuelino, incorporado à fachada maneirista da nova igreja. Este portal, em pedra escura, apresenta um perfil trilobado tipicamente manuelino e um remate ladeado por esferas armilares, símbolos de D. Manuel. A fachada é estreita e alta, com duas torres de secção octogonal. Em frente há um grande cruzeiro de granito.



O grande monumento jesuítico que sobreviveu é a Basílica do Bom Jesus, começada em 1594 e sagrada em 1605. O maior tesouro do interior da igreja é a capela do transepto onde se encontram, desde 1655, os restos de Francisco Xavier. A urna está localizada num mausoléu executado pelo artista florentino Giovanni Battista Foggini, em 1697.




No transcurso do século XVI ocorreu a expansão e estabilização na luta contra várias estruturas estatais asiáticas, comandadas por muçulmanos de origem árabe e turcos otomanos. No entanto, os portugueses nunca conseguiram exercer plenamente o poder nas zonas do estreito de Malaca ou dominar o mar Vermelho. Mas exerceram o monopólio, por muito tempo, sobre a única rota marítima de produtos orientais para os mercados europeus. Antes do século XVIII, o governador português ali estabelecido exercia a sua autoridade em todas as possessões portuguesas no oceano Índico, desde o cabo da Boa Esperança até Macau.

O declínio do domínio português na Ásia começou em nível económico na década de 1670 e, politicamente, desde o fim do século XVI, com a entrada de outros países europeus, especialmente os holandeses, no oceano Índico. Depois de um período de lutas ferozes nos três primeiros quartos do século XVII, nas quais os monarcas asiáticos desempenharam um papel importante, a superioridade portuguesa foi dissipada.

O Samorim preparou uma grande frota de navios para se opor aos portugueses, mas em março de 1506 Lourenço de Almeida (filho de Francisco de Almeida) foi vitorioso em uma batalha de mar na entrada do porto de Cananor, sendo a Batalha de Cananor, um revés importante para a frota do Samorim.

Em 1507 a missão de Almeida foi reforçada pela chegada da esquadra de Tristão da Cunha. A esquadra que Afonso de Albuquerque tinha, no entanto, separa-se da de Tristão da Cunha na África Oriental e foi conquistando territórios de forma independente no golfo Pérsico. Em março 1508, uma esquadra portuguesa, sob o comando de Lourenço de Almeida foi atacada por um combinado na Batalha de Chaul. Lourenço de Almeida perdeu a vida depois de uma briga feroz nesta batalha. A resistência de Mamluk foi, no entanto, definitivamente derrotada na Batalha de Diu.

Em 1510 Afonso de Albuquerque derrotou os sultões de Bijapur, numa disputa entre a soberania do território de Timayya, o que levaria ao estabelecimento dos portugueses em Goa. Goa tornava-se, assim, o centro do governo da Índia e o local de residência do vice-rei da Índia. Entretanto, os portugueses conquistavam vários territórios aos sultões do Guzerate. Damão é ocupada em 1531, formalmente cedido em 1539. Diu em 1535.

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Um pouco da história pregressa de Goa

Em 1347, Goa foi disputada por vários impérios em batalhas sangrentas. Por volta do século X, prosperando com o comércio dos árabes, caiu sob o domínio islâmico do Sultanato de Deli. Muitos templos a deuses hindus foram destruídos. A lembrança do Império Mauria (321–185 a.C.) há muito que se tinha esfumado. Em 1469, Goa foi conquistada pelo Sultanato de Bamani. Em 1490, é o Sultanato de Bijapur que passa a governar, inicialmente uma província do Sultanato de Bamani que declarou a independência. O seu fundador foi Iúçufe Adil Xá, que era chamado de Hidalcão pelos portugueses. Inicialmente, Bijapur ainda repeliu a invasão portuguesa de Goa. Mas em 1510 acabaria por perder para os portugueses após nova investida liderada por Afonso de Albuquerque. Embora geralmente rivais, os sultanatos aliaram-se em 1565 aos portugueses contra o reino hindu de Vijayanagar, a que os portugueses chamavam Bisnaga. Os sultanatos foram posteriormente conquistados pelo Império Mogol.

O Império Mogol, Império Mugal ou Império Mogul aqui esteve entre 1526 e 1857 (com um interregno entre 1540 e 1555), tendo dominado a Índia quase toda. A designação "Mogol" parece ter sido dada apenas no século XIX, dado o seu fundador - Babur - ser descendente de Gengis Khan. O Império Mogol foi estabelecido com a ajuda dos otomanos e os safávidas.
 Esta estrutura imperial durou até 1720, até pouco depois da morte do último grande imperador, Aurangzeb. Foi extinto em 1857 pelo Império Britânico. Os governantes de Deli que tinham fugido para o Leste da Índia em 1540. Mas os sucessores de Sher Xá revelaram-se incapazes de construir um império coeso no Norte da Índia, e os timúridas regressaram a Deli em 1555. Foi o reinado de Akbar (1555–1605), neto de Babur, que assistiu à verdadeira fundação do império Mogol dos timúridas. Akbar lançou-se numa série de conquistas territoriais que poria quase todo o subcontinente, exceto o extremo sul, sob seu domínio.

Esse domínio não seria um despotismo transitório, nem o império de um flibusteiro que se desintegraria tão depressa como fora erguido. Pelo contrário, Akbar recorreu às tradições timúridas para construir um sistema imperial mais imponente e duradouro do que todos os outros que os anteriores governantes muçulmanos na Índia tinham sido capazes de criar. Akbar apresentou-se, não como um rei-guerreiro muçulmano, mas como monarca absoluto de uma população vassala e diversificada. A sua genealogia oficial reivindicava a ascendência, não só de Tamerlão, mas também de Gengis Khan, e, por conseguinte, o seu legado como «conquistadores do mundo». 

A cultura da corte Mogol, sobretudo a sua arte e literatura, inspirava-se em modelos persas ou centro-asiáticos. O persa era a língua da vida intelectual e do governo. A vida e a paisagem do Irão (e não as da Índia) inspiravam os poetas mogóis, que evocavam um mundo longe «das influências poluidoras dos povos subjugados». Tal como Tamerlão, Akbar empreendeu um grandioso projeto de construção: a efémera capital imperial em Fatehpur Sikri foi a sua obra mais admirável. O regime de Akbar era cosmopolita e eclético, honrando a influência da Ásia Central como grande entreposto cultural. É até possível que a sua tentativa frustrada de estabelecer um governo mais centralizado entre 1570/80 (que levou à grande revolta de 1580/82) tivesse sido indiretamente inspirada no sistema chinês de burocracia meritocrática retransmitido através de Samarcanda. Numa atitude que se tornou famosa, Akbar rejeitou a distinção islâmica entre os fiéis muçulmanos, a umma, e os infiéis. Aboliu a jizya (imposto individual sobre os não muçulmanos), e considerou até a instituição de uma nova síntese religiosa que juntava islamismo com hinduísmo.

Os comerciantes indianos mantinham uma vasta rede com Bukhara, Ispaão e até com a Astracã da Rússia moscovita. A manufatura artesanal, sobretudo de têxteis, estava amplamente disseminada pelas zonas rurais, e algumas estimativas indicam que a capacidade de fabrico da Índia era muito superior à da Europa. Os mogóis constituíram um estímulo não só para o comércio interno, mas também para o comércio externo. O comércio inter-regional tornou-se mais barato e mais fácil com a pax mogol, e a conveniência e segurança das viagens no interior do país foi notada pelos visitantes europeus. 
Na realidade, os governantes mogóis trouxeram consigo a tradição centro-asiática de proteger e promover o comércio (os governantes da Ásia Central eram os guardiões da Rota da Seda). Construíram fortalezas e caravançarais, fundaram novas cidades e expandiram antigos centros de comércio. À data da morte de Akbar [1542-1605], existiam poucas razões para pensar que as bases económicas do poder mogol se revelariam incapazes de sustentar um grande Estado imperial e a cultura islâmica que este representava.

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