terça-feira, 22 de agosto de 2023

O que se seguiu ao assassinato de Júlio César




Júlio César - Museu do Louvre

Os conspiradores que assassinaram Júlio César parece que não tiveram uma ideia muito clara do que viria depois. Podem ter esperado que, com o ditador morto, a vida pública iria voltar ao normal. Mas o que aconteceu foi que em poucos meses rebentou uma nova guerra civil. Marco António reuniu muitas das legiões de César para vingar a sua morte. O Senado, que durante algum tempo até simpatizou com os conspiradores, tentou usar o filho adotivo de Júlio César - Caio Júlio César Octaviano (mais citado pelos historiadores como Octaviano) – como figura destinada a enfraquecer o controlo de Marco António sobre as legiões veteranas.

Octaviano, a não ser pelo nome, com apenas 19 anos não lhe era reconhecido grande valor. Cícero teria dito que o Senado deveria “louvar o jovem, recompensá-lo e, então, descartá-lo” logo que tivesse cumprido o seu propósito. Entretanto, foi-lhe concedido o imperium proconsular, o que oficializava o seu comando sobre grande número dos veteranos de César, nomeadamente a Legio X, que apoiava a sua causa. Percebendo a atitude do Senado para com ele, e ansioso por combater os conspiradores, em 43 a.C. Octaviano retirou-se e foi juntar-se a Marco António e Marco Lépido. E assim se uniram para formar o Segundo Triunvirato.

Diferentemente do Primeiro Triunvirato, a aliança entre Crasso, Pompeu e Júlio César, cada qual recebeu o título de triúnviro oficializado pela lei. Tal anúncio ecoava a posição de Sula enquanto ditador, bem como o comportamento dos triúnviros quando capturaram Roma e instituíram novas interdições, condenando à morte um número significativo de senadores e membros da ordem equestre.

Cícero pagou o preço pelas suas Filípicas, uma série de discursos cáusticos que havia pronunciado e publicado para atacar Marco António. Este ordenou que a sua cabeça e sua mão fossem pregadas na plataforma do orador no Fórum
Consta que as suas últimas palavras foram: "Não há nada adequado sobre o que está fazendo, soldado, mas tente me matar adequadamente". Ele se ajoelhou perante seus captores, inclinando a cabeça para fora da liteira destinado a facilitar a execução. Ao expor o pescoço e garganta aos soldados, estava indicando que não resistiria. Segundo Plutarco, Herénio primeiro o matou e depois cortou a cabeça. Por ordem de António, suas mãos, que haviam escrito as "Filípicas" contra ele, foram cortadas também; elas e a cabeça foram pregadas na Rostra no Fórum Romano seguindo a tradição inaugurada por Mário e Sula. Contudo, Cícero foi a única vítima das proscrições do Segundo Triunvirato a sofrer esta humilhação.



Cícero - Palácio da Justiça, Roma

Bruto e Cássio passado um ano, depois dos exércitos terem sido derrotados nas duas batalhas de Filipos, morreram por suas próprias mãos. Os triúnviros dividiram o controlo das províncias. Mas a pouco e pouco as suas alianças foram-se degradando. Lépido foi colocado de lado de forma pacífica, mas a luta entre António e Octaviano foi decidida à força na batalha naval de Áccio, em 31 a.C. Marco António acantonou-se no Egito sob os favores de Cleópatra. Amantes por mais de uma década e casados durante um ano, suicidaram-se.

Depois de Áccio, Octaviano comandou as maiores forças militares alguma vez controladas por qualquer general romano, com nada menos do que sessenta legiões comprometidas a ele pelo juramento de obedecer-lhe – um total que ele logo reduziria a 28 unidades permanentes. Com a morte de Marco António, não havia mais nenhum rival sério a ameaçar a sua supremacia, e, com efeito, as batalhas, condenações e o suicídio fizeram muito no sentido de diminuir as fileiras dos membros mais poderosos do Senado.

Júlio César foi assassinado porque seu poder era colossal. Seu filho adotivo sobreviveu porque criou um regime no qual o controlo que exercia sobre os assuntos de Estado era velado. Octaviano – que mais tarde receberia o nome de Augusto em votação no Senado, o que lhe ajudou a gradualmente a se desassociar do seu passado brutal como triúnviro – não era nem ditador nem rei, mas princeps senatus, um título honorífico tradicional conferido ao senador de maior distinção. Por conta desse título, o regime que ele criou é hoje conhecido como Império, em oposição a República. Na realidade, imperadores com poder absoluto, Augusto e seus sucessores fingiram ser não mais do que o magistrado-mor do Estado.

O regime de Augusto não foi uma criação instantânea. Foi produto de um desenvolvimento gradual, de tentativa e alguns erros. Seu sucesso se deveu em grande parte à habilidade política de Octaviano, ao profundo desejo de estabilidade após décadas de sublevação e também devido à longevidade do princeps. Quando morreu, em 14 d.C., quase ninguém que estivesse vivo podia lembrar-se do tempo em que a República funcionara do modo tradicional.

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