terça-feira, 22 de agosto de 2023

As ondas migratórias



Em Portugal, no segundo trimestre de 2023, nos números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o emprego mais qualificado caiu. E caiu muito. Entre o segundo trimestre de 2022 e o segundo trimestre de 2023, contam-se no país menos 128 mil pessoas empregadas com licenciatura do ensino superior. Um recuo de 7,3%.

Polícia Marítima resgata 50 migrantes, incluindo 12 crianças, que seguiam em três embarcações no Mediterrâneo, ao largo da ilha italiana de Pantelleria, divulgou esta força policial, que desde junho de 2023 já resgatou 233 pessoas naquela situação. A Polícia Marítima, que se encontra em missão no Mediterrâneo no âmbito da Operação 'Themis' da agência europeia FRONTEX, recebeu um alerta para a existência de duas embarcações com migrantes a bordo, explicou a Autoridade Marítima Nacional (AMN), em comunicado. "À chegada ao local, os elementos da Polícia Marítima intercetaram duas embarcações com 23 homens, duas mulheres e três crianças, que apresentavam sinais de desidratação e fadiga e sem coletes de salvação, tendo sido resgatadas para o porto de Pantelleria, onde aguardavam as autoridades italianas", explicou a AMN.

Os países precisam de imigrantes para as suas empresas e serviços. O que acontece é que a partir de um certo limiar de imigrantes as culturas dos países em que se estabelecem sofrem choques assimétricos. Nos Estados Unidos, a população hispânica cresceu de 22 milhões em 1990 para 51 milhões em 2011. O hispânico respondeu por mais de metade do crescimento populacional dos Estados Unidos na década de 2010. E em Dearborn, Michigan, o quartel-general da Ford Motor Company, 40% da população é de cultura muçulmana. Lá se encontra a maior mesquita da América do Norte.

As Nações Unidas calculam que há 214 milhões de migrantes no planeta, um aumento de 37% nas últimas duas décadas. A Europa está vivendo uma onda migratória vinda do Sul e do Oriente sem precedentes. Os governos têm-se mostrado incapazes de deter essa onda de imigrantes vinda de África e da Ásia. Os fluxos das rotas clandestinas no ano de 2023 têm-se intensificado pelo chamado corredor central do Mediterrâneo que têm como ponto de partida a Líbia.

Novos cidadãos também são, é claro, eleitores, que podem modificar o espetro político a que os autóctones estavam habituados. A remessa de dinheiro para os seus países de origem naturalmente tem imenso efeito positivo na economia de seus familiares e do seu país em geral.

Mas talvez o aspeto que mais esteja transformando os países de acolhimento é o aspeto das cidades na sua transformação urbanística. O processo de urbanização que já era o mais intenso da história, está acelerando ainda mais. Pela primeira vez na história, há mais gente morando nas cidades do que nas áreas rurais.

A circulação de cérebros é outra forma de mobilidade. Embora não envolva população tão numerosa, quanto a migração de trabalhadores de menor nível de instrução, não deixa de produzir também grandes impactos nos países dos dois lados da equação. Países economicamente mais débeis como Portugal, tendem a perder muitos de seus cidadãos mais capacitados e instruídos para os países mais ricos, atraídos pelas perspetivas de uma vida melhor pelos salários serem mais elevados que no país de origem. Essa bem conhecida “drenagem de cérebros” priva os países de origem de cientistas, empresários e outros profissionais que custaram caro para se formar e, como é natural, reduz o seu capital humano.

É inevitável, no caso dos empresários, que a cultura de negócios mais dinâmica, competitiva e transformadora, que predomina nos grandes centros de inovação empresarial do mundo, entre em choque com os modos monopolizadores e tradicionais nos países em desenvolvimento, onde prevalecem empresas de propriedade do Estado ou conglomerados de negócios largamente hegemónicos.

Seja como for, essa movimentação de gente, num contexto de crescimento explosivo, modifica extraordinariamente a maneira de as pessoas se relacionarem em sociedade. Calcula-se que durante o último ano cerca de 320 milhões de pessoas voaram para comparecer em reuniões profissionais, convenções ou encontros internacionais. O que exatamente significam para o poder político todas essas mudanças? Não sabemos. Mas começa a haver um certo mal-estar na Europa por causa de algumas reações de países, como é o caso da Hungria, considerado pelos restantes países europeus, nas suas chancelarias, uma atitude muito politicamente incorreta. Mas o que se verifica nesses mesmos países é que as pessoas por se sentirem cada vez mais inseguras estão a votar mais eleitoralmente em partidos de extrema-direita, mais xenófobos.

Exercer o poder significa não só manter o controlo e coordenação de um território no seu interior, mas também das suas fronteiras, o que requer mais investimento no seu policiamento numa altura em que as fronteiras se tornaram mais porosas. Com a população mais móvel, fica mais complicado para as organizações estabelecidas manterem o seu domínio.

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