sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Das vidas de oligarcas no frio da Sibéria



Mikhail Borisovich Khodorkovsky é um oligarca russo, empresário e ativista da oposição a Putin que teve de se exilar no Ocidente.  Já nos finais de 1980 havia começado como empresário. Mas depois do fim da URSS ele acumulou uma riqueza considerável ao obter o controlo de uma série de campos de petróleo da Sibéria unificados sob o nome de Yukos, uma das principais empresas a emergir da série de privatizações durante a década de 1990. Os privados compravam ações emitidas pelo estado, ou seja, um “empréstimo”. 
Em 2001, Khodorkovsky fundou a “Rússia Aberta”, uma organização reformista que pretendia "construir e fortalecer a sociedade civil" no país. Em outubro de 2003 foi preso pelas autoridades russas acusado de corrupção. Nesta altura é considerado o homem mais rico da Rússia, com uma fortuna estimada em quinze mil milhões e dólares. O governo, com Vladimir Putin como primeiro-ministro, congelou as ações da Yukos pouco depois, por causa da fuga aos impostos. O governo de Putin toma depois novas medidas contra a Yukos, levando a um colapso do preço das ações da empresa e à evaporação de grande parte da riqueza de Khodorkovsky.

Khodorkovsky tinha juntado dinheiro suficiente para fundar um banco. E depois juntou mais dinheiro para conseguir fazer uma licitação em leilão da petrolífera Yukos. Ninguém sabe ao certo em que momento Putin passou a vê-lo como um traidor. A tensão entre os dois foi evidente numa reunião pública em fevereiro de 2003. Era mais um dos encontros habituais de empresários no Kremlin no imponente salão de Santa Catarina. Khodorkovsky apareceu vestido de forma descontraída, com uma camisola de gola alta, e atendeu uma chamada a meio da reunião, atitudes de que o Presidente, apreciador da formalidade, não gostou. O verdadeiro problema surgiu quando chegou a vez de Khodorkovski falar. A sua apresentação de PowerPoint trazia o título: Corrupção na Rússia um travão ao crescimento económico. E o empresário passou ao ataque denunciando suspeitas de corrupção em negócios. Putin ficou muito irritado, e reagiu muito mal a isso.

Numa conversa com um amigo, Putin, transmite o seu desagrado: «Depois de tudo aquilo em que ele já metera a mão, agora vem aqui acusar-me de aceitar subornos? Ele teve a lata de me dar lições de moral em frente de toda a gente.» Outros problemas se acumularam para Khodorkovsky nos meses seguintes. Negoceia uma fusão com a empresa de Roman Abramovich, e começa a sondar a possibilidade de juntar ao negócio petrolíferas americanas. Tudo isso desagrada profundamente o Kremlin e o Presidente. Putin tem de fazer do dono da Yukos um exemplo que sirva de aviso para outros oligarcas. A 25/10/2003, apenas 2 meses antes das eleições, 
Khodorkovsky numa viagem que faz de avião para a Sibéria, depois de o avião ter aterrado, sai de lá algemado e é formalmente acusado dos crimes de fraude e evasão fiscal.

Em 2003 ainda era possível acreditar que Vladimir Putin iria colocar a Rússia no caminho da democracia. A última vez que Putin foi visto descontraído publicamente foi em maio de 2003, durante o concerto de Paul McCartney, na Praça Vermelha. Há uma gravação deste famoso momento, em que a meio do concerto ele sai do Kremlin, a pé, e senta-se ali, no concerto. Em maio de 2005 Khodorkovski é julgado e dado por culpado. É condenado a nove anos de prisão. Em dezembro de 2010, enquanto ainda cumpria a pena, Khodorkovsky é de novo condenado aquando do julgamento do seu parceiro de negócios, Platon Lebedev, por peculato e lavagem de dinheiro. A pena de prisão de Khodorkovski foi estendida até 2014. Mas foi libertado em 2013. Dizem que foi por influência de Hans-Dietrich Genscher, através de Putin.

Havia uma preocupação internacional generalizada, na medida em que aqueles julgamentos e sentenças tinham por trás motivações políticas. Khodorkovsky apresentou vários recursos no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, pedindo reparação por alegadas violações dos seus direitos humanos por parte da Rússia. Em resposta ao seu primeiro pedido, que dizia respeito a acontecimentos de 2003 a 2005, o tribunal considerou que de facto haviam sido cometidas várias violações dos direitos humanos, por parte das autoridades russas, no tratamento dado a Khodorkovski. Ele foi considerado um prisioneiro de consciência pela Amnistia Internacional. Em 2014, Khodorkovsky relançou o Rússia Aberta para promover várias reformas na sociedade civil russa, incluindo eleições livres e justas, educação política, proteção de jornalistas e ativistas, endossando o Estado de Direito e garantindo a independência dos média.

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