A Grã-Bretanha, depois
da Segunda Guerra, com uma tremenda carência de pessoal para o mercado de
trabalho, gizou em 1948 uma lei da nacionalidade britânica que veio a dar
frutos na década seguinte com a maciça imigração vinda da chamada Commonwelth.
Assim, chegaram ao Reino Unido milhares de imigrantes da Índia, Paquistão,
Bangladesh e Antilhas.
É claro que tudo
isto teve grandes repercussões no estado social britânico. Mas tirando alguns
episódios graves, como os tumultos de Notting Hill em 1958, foram mais a
exceção do que a regra. Ao longo de anos os principais partidos saudaram os
resultados dos censos num espírito de celebração. Em 2007, o então mayor de
londres, Ken Livingston, falou com orgulho acerca do facto de 35% das pessoas
que trabalham em Londres serem estrangeiras. E a reação geral dos comentaristas
ao censo de 2011 e publicado no final de 2012, em relação à situação de em 23 dos
33 bairros de Londres os britânicos estarem em minoria, foi de júbilo pela
salutar diversidade. Efetivamente, no censo de 2011, o número de estrangeiros
desde o censo anterior, portanto numa década, aumentou quase três milhões. Nessa
altura, dos residentes em Londres, alegadamente 44,9% se identificavam como “britânicos
nativos”. Em Inglaterra e Gales, três milhões de pessoas viviam em casas onde
nem um único adulto falava inglês como primeira língua; e nesta década o número
de muçulmanos passou de 1,5 para 2,7 milhões. Estes eram os números oficiais,
mas há uma aceitação generalizada de que a imigração ilegal, pela
improbabilidade de estes terem preenchido os formulários do censo de 2011, faz
disparar estes números para mais um milhão.
O mundo assiste
atualmente à maior vaga migratória em massa desde a Segunda Guerra Mundial. E o
exemplo mais impressionante é o do Mediterrâneo. Desde 2014 mais de quatro
milhões de pessoas atravessaram o Mediterrâneo de sul para norte em barcos que
metiam água. As guerras civis na Síria, Afeganistão e Iraque empurraram para a
Europa um número sem precedentes de pessoas. É claro que os migrantes africanos
tentam desde há muito chegar a Espanha a partir de Marrocos, ou às ilhas
Canárias a partir do Senegal. E da Líbia para a Itália e Grécia. Mas nunca
antes vieram migrantes em número assim tão extraordinariamente elevado, que por
último passaram a partir em massa da Turquia para as ilhas gregas. A Hungria,
que de repente viu a sua fronteira sul ser franqueada com cem vezes mais migrantes,
acabou por erigir uma barreira de arame farpado. E quando as pessoas
simplesmente se desviaram e rumaram à Croácia, os húngaros construíram também uma
segunda barreira ao longo da fronteira com a Croácia.
E assim a crise
migratória criou divisões no sei da União Europeia. Ao fim de meses de
infindáveis e estéreis conferências e cimeiras, a maior parte dos outros países
da EU recusou-se a aliviar os gregos e os italianos para além de um punhado
simbólico de migrantes. Um dos princípios fundadores da EU – a solidariedade
entre os estados-membros – parecia ter desaparecido. E a seguir o Acordo de
Schengen.
As pessoas vão
continuar a vir, quer nos agrade ou não agrade. Podia ser diferente? Podia. Por
exemplo um programa que incentivasse os migrantes a permanecerem no Médio
Oriente. Tal teria permitido à Europa gerir as chegadas de maneira mais
metódica. Mas foi uma tempestade perfeita porque os refugiados não viram nenhum
motivo para ficar quietos onde estavam; nem os países do Médio Oriente tinham
nenhum motivo para os impedir de sair; nem a Europa para lhes bloquear o
caminho.
Mas a tensão subiu
ainda mais de tom com os ataques de paris em 2015. Foi revelado que dois dos
nove terroristas tinham teria provavelmente chegado à Grécia um mês antes, num
barco carregado de refugiados. Não tardou quem pedisse que se fechassem completamente
as portas aos refugiados. Esta reação era a que os terroristas queriam. No meio
de toda esta angústia, os refugiados continuaram a atravessar o mar em número
recorde e a morrer em número recorde.
Nos anos que
decorreram desde o censo de 2011, o número de imigrantes chegados à
Grã-Bretanha continuou a subir. Excedendo em muito os 300.000/ano desde o censo
de 2011, a quantidade dos novos números do Seguro Nacional emitidos anualmente
(porque são necessários para trabalhar) tem sido mais do dobro. A população crescente
do Reino Unido é agora quase inteiramente devia à imigração e a uma taxa de
natalidade mais elevada entre imigrantes.
Em suma, não são
precisos muitos anos para que a Grã-Bretanha se torne irreconhecível aos olhos
dos seus atuais habitantes.
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