segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O valor e o sentido da vida


          À pergunta: “Pode a vida ter objetivamente sentido?”, há pessoas que respondem que não; e há pessoas que respondem que sim. As pessoas que respondem que não são classificadas como pessimistas; e as pessoas que respondem que sim são classificadas como otimistas. É claro que há sempre subtilezas em questões como esta, independentemente de serem filosóficas ou não, isto é, trabalhadas por filósofos profissionais, podia dizer-se que objetivamente a vida tem valor. Mas quanto ao sentido apenas o terá do ponto de vista subjetivo. O sentido é o que cada um lhe dá.
          A questão é saber se tudo aquilo que tem sentido porque nos faz feliz, ainda assim se pode considerar que tem sentido para além disso. E foi precisamente o que Liev Tolstói questionou em “Confissão” no auge da sua carreira de escritor, quando tinha todas as razões para se sentir feliz. Angustiadamente, perguntou que sentido faria tudo aquilo, o facto de ser o melhor escritor do mundo, ter uma mulher encantadora, e assim por diante. Sim, era nessa altura o mais famoso dos escritores que havia no mundo – e depois? Tolstói não encontrava resposta para aquela pergunta. É natural, quando a vida corre mal, ou quando se está deprimido, que não se encontre nenhum sentido para a vida. Mas o que é relevante no caso de Tolstói, e penso que é o que acontece a muitas outras pessoas, é quando, apesar da sua felicidade, não encontrarem nenhum sentido para essa felicidade: Sou feliz, mas que sentido tem isso?
          A noção de valor desempenha um papel crucial na teorização sobre o sentido da vida, quando temos todas as condições para sermos felizes e ainda assim nos sentimos inquietos. É nestas circunstâncias que pomos em causa o valor objetivo da nossa própria felicidade e da nossa vida. A nossa vida estaria ao serviço de um qualquer propósito que ultrapassa a nossa própria vida. Assim, a nossa vida não teria como finalidade última a nossa própria felicidade, mas antes qualquer outro desígnio.
          Sem dúvida que a felicidade individual de uma pessoa pode ser muitíssimo menos importante do que acabar com a fome do mundo. Mas se acabar com a fome no mundo é contribuir para a felicidade de milhões de pessoas que agora morrem à fome, acabamos por entrar no mesmo círculo que considera a felicidade como uma finalidade última. Assim, a ideia de propósito não consegue evitar o problema central do sentido da vida. Foi assim que existencialistas ateus franceses, como Sartre e Camus, chegaram à conclusão que a vida era absurda e que não tinha valor.
          Por agora fico-me pela retenção da seguinte ideia: O sentido da vida é subjetivo. E uma vida tem sentido se, e só se, for uma entrega ativa a projetos de valor. Então o que precisamos de saber – para não termos uma vida como a de Sísifo, e ainda por cima eterna – é que tipos de valores são bons para serem considerados como valores objetivos.
          Todos reconhecemos alguns tipos fundamentais de valores: éticos, estéticos e cognitivos. O amor, a amizade, a verdade e a solidariedade.

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