Tal como mentir,
falar barato é uma coisa muito feia. No entanto, não deve haver ninguém que não
tenha mentido algumas vezes. Umas vezes por necessidade de salvar a pele,
outras vezes para atingir certos objetivos, que de uma forma honesta não o
conseguiria. Mas ao contrário do fala-barato, normalmente as pessoas não mentem
por gostarem de mentor. Ao passo que o fala-barato fá-lo por gosto.
O que o falar
barato deturpa, essencialmente, não é o estado de coisas ao qual se refere –
que a mentira deturpa por ser falso. O que tem é falsas crenças em relação a
esse estado de coisas. Falar barato não envolve falsidade no sentido
intencional de enganar, pelo que difere de mentir.
O fala-barato pode
não nos enganar, ou nem ao menos querer fazê-lo, sobre os factos ou a sua
interpretação deles. O que ele deturpa é a realidade sem ter isso como objetivo.
Esse é o ponto crucial da distinção entre ele e o mentiroso. Ele fala como se
tentasse comunicar a verdade. De qualquer forma, o sucesso tanto de um como de
outro reside no facto de fazer os outros acreditar no que diz como se fosse
verdade. De resto, para o fala-barato, pouco importa que o que diz seja verdade
ou não. A verdade não é a sua preocupação. Portanto, a sua intenção não é
contar a verdade, mas também não é ocultá-la, como acontece com o mentiroso. É
impossível para alguém mentir a menos que julgue conhecer a verdade. Isso não
significa que seu discurso seja anarquicamente impulsivo. Seu enfoque não é
sobre os factos, como o da pessoa honesta e do mentiroso. Ele não se importa se
as coisas que fala descrevem a realidade corretamente. Apenas as escolhe ou
inventa para satisfazer seu propósito.
É inevitável falar
barato todas as vezes que as circunstâncias exijam de alguém falar sem saber o que
está a dizer. Assim, a produção de imbecilidades é estimulada sempre que as
obrigações ou oportunidades que uma pessoa tem de se manifestar sobre algum
tópico excederem o seu conhecimento dos factos pertinentes. Essa discrepância é
comum nas redes sociais, em que os indivíduos são com frequência impelidos, seja
pelas próprias inclinações ou por exigência de outrem, a falar sobre questões
em que são até certo ponto ignorantes. Exemplos intimamente relacionados se
originam de uma convicção generalizada de que é dever do cidadão, numa
democracia, ter opiniões sobre tudo ou, pelo menos, tudo aquilo que diga
respeito à política o a questões ditas fraturantes.
A falta de um nexo
significativo entre o fala-barato e a sua apreensão da realidade vai tornar-se
ainda mais grave quando ele acredite ser seu dever, como agente moral, avaliar o
comportamento dos outros. A atual proliferação do ato de falar imbecilidades
tem também raízes muito profundas em várias formas de ceticismo, que negam o facto
de que possamos ter acesso confiável a uma realidade objetiva, rejeitando,
portanto, a possibilidade de sabermos como as coisas na verdade são.
Vivemos numa época
em que muitas pessoas acham que a verdade não merece nenhum respeito especial,
baseando-se no facto de que o que há é pontos de vista, e há convicções que são
levadas a serem consideradas verdadeiras por várias pressões sociais complexas
e inelutáveis. Ora, não parece que uma civilização se aguenta muito tempo se se
generalizar o desprezo pela verdade e a honestidade. Ninguém em sã consciência
confia no construtor de uma ponte, ou se entrega aos cuidados de um médico, se
eles não se importarem com a verdade.
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