sábado, 12 de dezembro de 2020

Les Contes de ma Mère, l'Oye - Charles Perrault




O Barba Azul é um conto popular, sendo a versão mais famosa a de Charles Perrault, publicada em 1695 nos Les Contes de ma mère l'Oye. É também o nome do personagem central da história. É nesta altura que aparecem os contos de fadas, muito em voga no século XVII. Paradoxalmente, mais para adultos de círculos burgueses e aristocráticos,  do que para crianças.

O autor escreve os contos inspirado nos contos folclóricos, e talvez também numa coleção italiana. Perrault terá sido, portanto, um dos primeiros colecionadores, embora não cite as suas fontes. O que Perrault faz é adoçar os contos folclóricos, enriquecendo as versões originais.

O personagem da história do Barba Azul é de um homem rico, cuja barba azul lhe dá uma aparência feia e medonha. Ele teve várias esposas no passado, mas nada se sabe o que lhes aconteceu. Ao pedir às mulheres vizinhas em casamento, elas tinham-lhe medo, pelo que rejeitavam. Mas há um dia em que uma dessas vizinhas aceita casar com ele, seduzida pela sua riqueza. Um mês depois das núpcias, ele diz à esposa que tem de viajar. Confia-lhe um conjunto de chaves que abriam todas as portas do castelo. Uma dessas chaves, é a chave de um armário, que ele lhe transmite com veemência estar proibida de lá entrar. Mas a curiosidade da mulher é irresistível. Entra na sala onde está o armário, abre o armário, e descobre os corpos das outras mulheres. Assustada, deixa cair a chave. Ao baixar-se para apanhar a chave vê-a manchada de sangue. Tenta limpar o sangue, mas o sangue não desaparece. A chave é mágica.

O Barba Azul volta de surpresa e descobre que foi desobedecido. Furioso, prepara-se para a degolar, o mesmo que tinha feito às anteriores. Mas ela, ao vê-lo de volta, e determinado a executá-la com uma faca da cozinha, implora-lhe que lhe dê algum tempo para fazer as suas orações antes de morrer. Sucede que os seus dois irmãos haviam marcado para esse dia fazer-lhe uma visita. Barba Azul concede-lhe então um quarto de hora. Enquanto isso, Anne, uma irmã que estava com ela, sobe a uma torre para ver se os irmãos estão a caminho. A irmã pergunta-lhe desesperadamente se os vê chegar. Anne responde repetidamente que vê apenas o sol e a erva verde. O Barba Azul determina que o tempo acabou e grita segurando-a pelos cabelos, no momento em que os irmãos chegam, a tempo de o poderem matar. Herdeira de toda a fortuna do marido, recompensa generosamente os irmãos. A Anne, trata de lhe proporcionar um bom casamento. E aos irmãos ajuda-os a subir nas carreiras de militar. E ela casa com um homem, que com grande honestidade a faz finalmente feliz.  

O Barba Azul acaba por ser uma variante do Ogre, uma criatura mitológica do folclore europeu. E é uma 'estorinha' que se cruza com a vida real. Por exemplo, Henrique VIII foi conotado com o Barba Azul. Teve seis mulheres, duas delas condenou-as à morte – Ana Bolena e Catherine Howard. E Gilles de Rais, companheiro de armas de Joana D’Arc, foi descrito como o "Barba Azul" em Nantes. Ele foi executado após condenação por ter assassinado várias mulheres após as ter violado, algumas delas ainda muito jovens. Independentemente das origens e das várias versões populares, o personagem “Barba Azul” inspirou muitos escritores, músicos e cineastas, inclusivamente com ligações a mitos muito antigos que remontam à Antiguidade, como por exemplo o mito da Caixa de Pandora, e teorias cabalísticas sortidas. Catherine Velay Vallantin dedica um capítulo do seu livro “A História dos Contos” ao conto do Barba Azul, que ela contrasta com duas canções tradicionais: Renaud, o assassino de mulheres; e La Maumariée ,vingada pelos seus irmãos. 
Catherine Velay Vallantin observa que em algumas variações italianas do conto, o Barba Azul come cadáveres. 


Desenhos de Gustave Doré [1832-1883], da edição de 1862 de Os Contos de Perrault



Ilustrações de Walter Crane [1845-1915], da edição de 1875 de Os Contos de Perrault



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