***
Espinosa:
Espinosa:
Tinha apenas 23 anos quando a Sinagoga Portuguesa de Amesterdão o puniu com o cherém, o equivalente hebraico da excomunhão católica, pelos seus postulados a respeito de Deus em sua obra, defendendo que Deus é o mecanismo imanente da natureza, e que a Bíblia era uma obra metafórica-alegórica, logo, a sua leitura não podia ser literal, nem podia exprimir a verdade de Deus.
Os Senhores do Mahamad [Conselho da Sinagoga] fazem saber a VV. Exas: como há dias que tendo notícia das más opiniões e obras de Baruch de Spinoza procuraram, por diferentes caminhos e promessas, retirá-lo de seus maus caminhos, e não podendo remediá-lo, antes pelo contrário, tendo cada dia maiores notícias das horrendas heresias que cometia e ensinava, e das monstruosas ações que praticava, tendo disto muitas testemunhas fidedignas que deporão e testemunharão tudo em presença do dito Spinoza, coisas de que ele ficou convencido, o qual tudo examinado em presença dos senhores Hahamim [conselheiros], deliberaram com o seu parecer que o dito Spinoza seja heremizado [excluído] e afastado da nação de Israel como de facto o heremizaram com o Herem [anátema] seguinte:***
Com a sentença dos Anjos e dos Santos, com o consentimento do Deus Bendito e com o consentimento de toda esta Congregação, diante destes santos Livros, nós heremizamos, expulsamos, amaldiçoamos e esconjuramos Baruch de Spinoza [...] Maldito seja de dia e maldito seja de noite, maldito seja em seu deitar, maldito seja em seu levantar, maldito seja em seu sair, e maldito seja em seu entrar [...] E que Adonai [Soberano Senhor] apague o seu nome de sob os céus, e que Adonai o afaste, para sua desgraça, de todas as tribos de Israel, com todas as maldições do firmamento escritas no Livro desta Lei. E vós, os dedicados a Adonai, que Deus vos conserve todos vivos. Advertindo que ninguém lhe pode falar pela boca nem por escrito, nem conceder nenhum favor, nem debaixo do mesmo teto estar com ele, nem a uma distância de menos de quatro Côvados, nem ler Papel algum feito ou escrito por ele.
David Hume:
Órfão de pai quando contava apenas 2 anos, o pequeno David Hume e seus dois irmãos ficaram sob os cuidados exclusivos de sua mãe. Como revelava certa precocidade intelectual, Hume foi enviado para a Universidade de Edimburgo antes dos doze anos de idade. A família de Hume tinha expectativas de que o jovem seguisse a carreira jurídica, mas, em suas próprias palavras, ele mesmo sentia "aversão intransponível a tudo, exceto ao caminho da filosofia e do conhecimento em geral; e enquanto a minha família achava que eu estava a perscrutar Voet e Vinnius, Cícero e Virgílio eram os autores que secretamente devorava".
Seguindo os seus próprios interesses, Hume dedicou-se à leitura de obras literárias, filosóficas e históricas, bem como ao estudo de matemática e ciências naturais. Aos dezoito anos, após um intenso programa de estudo autoimposto, pareceu-lhe que se descortinava um “Novo Cenário de Pensamento”. Bem, o excessivo esforço intelectual levou-o às raias de um colapso mental. Após esse episódio de fadiga cerebral, Hume decidiu procurar um estilo de vida mais ativo no mundo do comércio, e empregou-se numa companhia importadora de açúcar em Bristol. É por essa época que altera a grafia de seu nome, de "Home" para "Hume", devido à dificuldade dos ingleses de pronunciá-lo à maneira escocesa. A experiência no ramo do comércio não durou muito, e, com 23 anos, buscando a tranquilidade e o isolamento que julgava necessários para prosseguir nas suas investigações, parte para a França e se estabelece em la Flèche, uma pequena cidade francesa mais conhecida por abrigar um famoso colégio jesuíta. "Resolvi compensar a carência de recursos com uma frugalidade bastante rígida, a fim de manter incólume a minha independência, e considerar todos os objetos desprezíveis, exceto os avanços dos meus talentos na literatura.” Durante esse período na França, Hume aprofunda os seus conhecimentos sobre a filosofia francesa, e aos 26 anos, grande parte de sua obra-prima - Tratado da Natureza Humana -, fica escrita.
Em 1737, com 26 anos, Hume regressa à Inglaterra e trabalha diligentemente para publicar o seu livro. Em 1739, consegue publicar os dois primeiros volumes do seu Tratado, e em 1740 é publicado o terceiro e último volume. Apesar de ser hoje considerado a sua principal obra e um dos livros mais importantes da História da Filosofia, o Tratado não causou impressão à época da sua publicação. Hume tinha esperado um ataque às ideias apresentadas no livro e preparava uma defesa apaixonada. Para sua surpresa, a publicação do livro passou quase despercebida; e, recordando a indiferença do público, Hume escreveu que "nenhuma tentativa literária foi mais desafortunada do que o meu Tratado da Natureza Humana". Diante da reclamação de que o livro era "abstrato e ininteligível", Hume recorreu ao artifício, ainda em 1740, de publicar uma sinopse anónima na qual apresentava de forma mais clara e direta algumas das ideias fundamentais do Tratado. No entanto, embora já permitisse antever os elegantes argumentos da Investigação sobre o Entendimento Humano, a sinopse de pouco serviu para mudar a consideração geral em relação ao Tratado. Em 1742 é publicada em Edimburgo a primeira parte dos seus Ensaios Morais, Políticos e Literários, que mereceram considerável atenção do público e, segundo o próprio Hume, fizeram-no esquecer a deceção provocada pelo Tratado.
***
Charles Sanders Peirce:
Era filho de Sarah Hunt Mills e Benjamin Peirce, ele mesmo um professor de astronomia e matemática na Universidade de Harvard. Aos 12 anos, Charles leu os "Elementos da Lógica", de Richard Wately, de uma cópia que o seu irmão mais velho tinha, então o principal texto em inglês sobre o assunto. Assim começou o seu fascínio ao longo da vida pela lógica e raciocínio. Com 24 anos de idade, em Harvard, a Lawrence Scientific School concedeu-lhe um bacharelato em Ciências, o primeiro diploma de Química summa cum laude de Harvard.
Nas suas pesquisas Peirce trabalhou principalmente em geodésia e gravimetria, refinando o uso de pêndulos para determinar pequenas variações locais na gravidade da Terra. Em 1867, com 27 anos, é eleito membro residente da Academia Americana de Artes e Ciências. De 1869 a 1872, trabalhou como assistente no observatório astronómico de Harvard, fazendo um importante trabalho na determinação do brilho das estrelas e da forma da Via Láctea. Em 20 de abril de 1877 é eleito membro da Academia Nacional de Ciências. Em 1879, Peirce foi nomeado professor de lógica na Universidade John Hopkins, que tinha departamentos fortes nas áreas da filosofia. Durante a década de 1880, a indiferença de Peirce com os detalhes burocráticos levou a que a qualidade das suas pesquisas diminuísse.
Brent documenta algo que Peirce nunca suspeitou, ou seja, que os seus esforços para obter emprego académico, subsídios e respeitabilidade científica foram repetidamente frustrados pela oposição secreta de um grande cientista canadense-americano da época, Simon Newcomb. Os esforços de Peirce também podem ter sido dificultados pelo que Brent caracteriza como "a sua personalidade difícil". Em contraste, Keith Devlin acredita que o trabalho de Peirce estava muito à frente do seu tempo para ser apreciado pela ortodoxia académica da época. Isso terá desempenhado um grande papel na sua incapacidade para a obtenção de uma posição de titularidade.
***
Saul Aaron Kripke:
O seu brilhantismo intelectual tornou-se patente desde muito cedo, tendo conseguido publicar, com apenas 18 anos, um artigo original de lógica no exigente e respeitadíssimo Journal of Symbolic Logic. Dos três livros publicados ate hoje, O Nomear e a Necessidade é o mais importante, com lugar reservado entre as principais obras da filosofia do século XX. Um clássico da filosofia contemporânea, traduzido em meia centena de línguas, não é mais do que as três palestras proferidas sem qualquer suporte escrito, em 1970 com 29 anos, na Universidade de Princeton. A publicação em livro, anos mais tarde, resultou das gravações então realizadas.
Publicado numa altura em que praticamente já ninguém ligava à metafisica, provocou em alguns estupefação, e deixou muitos filósofos furiosos pelo seu regresso à metafisica. Mas os seus contributos não se limitam apenas à lógica e à metafísica, mas também à filosofia da mente e da linguagem. E até à epistemologia.
E a verdade é que é hoje considerado o grande reabilitador dessas áreas da filosofia, que exceção feita à filosofia da mente, se encontravam em declínio nos meios académicos de filosofia nos países de língua inglesa. Um dos outos livros é sobre o argumento da Linguagem Privada de Wittgenstein. Toda a sua obra é considerada a última palavra argumentativa contra as teorias descritivistas do significado e da referência dos nomes próprios com origem em Frege e Russel. E na epistemologia, foram decisivos os seus desafios às ideias feitas de Kant: que todas as verdades a posteriori são contingentes.
Kripke foi tido desde muito novo como um menino prodígio. Aos 6 anos de idade já era um autodidata do hebraico antigo. Aos 9 anos leu as obras completas de Shakespeare. E antes de finalizar o secundário já dominava as ideias de Descartes e problemas matemáticos complexos. Aos 17 anos escreveu o seu primeiro teorema de completude em lógica modal. Aos 18 anos entra na Universidade de Harvard onde termina um bacharelato em matemática summa cum laude em 1962, com 22 anos.
Kripke mais tarde disse: "Eu gostaria de ter faltado às aulas na Universidade. Conheci pessoas interessantes, e não digo que não tenha aprendido nada, mas provavelmente teria aprendido tudo de qualquer maneira por mim próprio. Depois de lecionar brevemente em Harvard, em 1968 Kripke mudou-se para a Universidade de Rockefeller, em Nova York, onde lecionou até 1976. Em 1978, foi lecionar para a Universidade de Princeton. Em 1988 recebeu o Prémio Behrman dessa universidade por importantes contributos na área das humanidades. E continua vivo, por aí ... com 80 anos feitos no dia 13 de novembro passado.
Sem comentários:
Enviar um comentário