domingo, 20 de dezembro de 2020

Sapatos de corda



Mónica Baldaque, filha única de Agustina Bessa-Luís, conta-nos as impressões da sua vida passada com os seus pais em Coimbra, no Porto, em Vila do Conde e na região do Douro, numa narrativa feita com delicadeza, e ilustrada com várias fotografias. Revelando aspetos inéditos de Agustina, preservando o mistério que foi a vida e a criação de Agustina Bessa-Luís, nome literário de Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa [1922-2019] - nascida em Vila Meã, Amarante, evita o sentimentalismo. Agustina Bessa-Luís, se não me engano, é a escritora portuguesa com mais obra publicada. De uma criação extremamente fértil e variada podem-se contar quase meia centena de romances, para além de várias biografias, contos e peças de teatro.
«Minha Mãe estava tranquila quanto à minha educação, e passava as semanas por casa, a escrever, a ler; no inverno vestia um kilt comprido, uma manta de xadrez nas pernas, a botija no colo, a lareira acesa; no verão, os vestidos leves de linho branco, as portas abertas para o pinhal. Não esqueço as caminhadas de minha mãe, na praia, os sapatos de corda brancos que descalçava e sacudia da areia quando chegava ao caminho. Nenhuma pegada ficara para trás. De longe, eu via, com sobressalto, que às vezes a imagem de minha mãe desaparecia, ou porque um raio de sol a assombrasse, ou porque partia no dorso de um tubarão branco num passeio vertiginoso e imprudente, ou porque…»


A propósito do título do livro, posso dizer que os sapatos de corda fizeram muito sucesso na década de 1970, e ainda de 1980, sobretudo na moda feminina. Também havia sapatos de corda para homem, a que muitos chamavam alpercatas, mas com muito menos expressão. Mas a verdade é que muita gente de bom gosto as usava no verão para ir à praia, ao campo, e porque não até como toilete de festa e cerimónia. Alpercata é uma palavra derivada do árabe norte-africano al-balgāt. Não deixa de ser um calçado grosseiro de lona assente em corda de sisal. "São perfeitas para arrematar looks descontraídos e casuais", diz uma comentadora. E num dicionário pode ler-se: "As alpercatas de pano e sola de corda apareceram pela primeira vez no século XIX entre os trabalhadores das docas em França, chamadas "espadrilles", e rapidamente se espalharam pela Catalunha e País Basco com o nome de alpargatas.

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