Daqui a uma semana, depois de ter acabado de aterrar na Europa, dar-se-á o encontro de Joe Biden com Vladimir Putin, em Genebra. Depois de Biden ter ofendido Putin à distância, Biden disse que Putin era tão somente um “assassino”, este respondeu com uma versão da frase “Quem diz é quem é”. Como explica Diana Soller, “Biden não pode abandonar a retórica duríssima que tem dirigido à Rússia, nomeadamente no que toca aos direitos humanos”, tanto mais que o caso Lukashenko é mais do que de cabo de esquadra. Nada a que as relações clássicas entre os dois países não estejam já habituadas, para não hipotecar o diálogo. Se dantes era uma “guerra fria”, agora é uma “paz gelada”. O importante é que se evite uma “escalada de tensões”.
Recordando outros tempos, estávamos em agosto de 1991, numa altura em que Gorbachev havia deixado Moscovo para umas férias bem necessárias, a 4 de agosto, antes de receber o golpe final que marcaria o fim da União Soviética. Durante a semana que se seguiu, pessoal do KGB e das forças armadas prepararam cenários para um governo de emergência. O Comité de Estado proclamaria a 18 de agosto uma série de declarações, e emitia os decretos necessários para que o processo em marcha não tivesse recuo. O primeiro-ministro e mais alguns ministros reuniram-se secretamente a fim de gizarem a tal conspiração, chegando a acordo quanto à composição de uma delegação que iria no dia seguinte viajar até ao Mar Negro, a fim de confrontar Gorbachev com o ato consumado.
Ao fim da tarde de domingo, 18 de agosto, Gorbachev estava a trabalhar no gabinete. Por volta das 16:30, termina uma conversa ao telefone com Yanayev, vice-presidente. Quando Shakhnazarov tentou ligar minutos depois, a linha estava muda. Por volta das 16:50, o chefe dos guarda-costas bate à porta do escritório de Gorbachev: "Chegou um grupo". Gorbachev ficou imediatamente desconfiado. Gorbachev pegou no telefone mas a linha estava muda. Saiu e foi ter com a esposa, dizendo: "Aconteceu qualquer coisa má, provavelmente terrível". Entretanto, os conspiradores já lhe tinham entrado pela porta dentro sem pedir licença. Gorbachev quis saber quem os enviara. "O Comité", respondeu Baklanov. "Qual Comité?" O Comité de Estado para a Governação de Emergência, contava com o chefe do KGB - Vladimir Kruchkov; o ministro da defesa - Dmitry Yazov; o vice-presidente Yanayev e Anatoly Lukyanov. Quanto a Boris Yeltsin, fora detido. A delegação exigiu a Gorbachev que assinasse um documento a declarar o estado de emergência. "Nós tratamos do trabalho sujo, depois já pode voltar a Moscovo". Contrariamente às ordens de Gorbachev, Medvedev - chefe dos guarda-costas, saiu obedientemente com a delegação. Mas o restante destacamento de segurança manteve-se no local. Na manhã seguinte, o Comité de Estado para a Governação de Emergência proclamou oficialmente que iria assumir o controlo do país, e, uma vez que presidente Gorbachev estava doente, a autoridade dele estava a ser exercida pelo vice-presidente Yanayev. As estações de televisão e rádio da República Russa saíram doa ar, e tanques e tropas entraram em Moscovo. A partir daqui, já toda a gente sabe o que aconteceu.
O golpe de agosto de 1991 perpetrado pelo setor mais conservador do Comité Central, foi abortado, mas já nada havia a fazer para o movimento de independência das repúblicas que compunham a União Soviética. As repúblicas do Báltico já tinham tentado separar-se em 1990, mas foram severamente reprimidas. Com o fracasso do golpe, o cenário mudou totalmente. As forças conservadoras estavam derrotadas. E o poder de Gorbatchev ficou completamente esvaziado.
A Rússia, com Boris Yeltsin ao leme, foi a primeira a reconhecer a independência dessas repúblicas. Estava aberto o processo para as outras, que na sua grande maioria também se declararam independentes. Outra consequência importante do golpe foi a suspensão, determinada por Ieltsin em toda a Rússia, das atividades do Partido Comunista, que implicou até mesmo o confisco dos seus bens. E o KGB, o poderoso serviço secreto soviético, teve a sua cúpula dissolvida.
Gorbatchev acabou por admitir a implosão da União Soviética. Mas ainda tentou manter o vínculo entre as repúblicas, propondo a assinatura do chamado Tratado da União. Mas as suas palavras não tiveram eco, e o processo de separação tornou-se irreversível. Em 4 de setembro de 1991, Gorbachev, como presidente da União Soviética, Boris Ieltsin, na qualidade de presidente da Rússia, e mais os líderes de outras nove repúblicas, em sessão extraordinária do Congresso dos Deputados do Povo, apresentaram um plano de transição para criar um novo Parlamento, um Conselho de Estado e uma Comissão Económica Inter-Republicana. Embora tentasse estabelecer os parâmetros para uma nova união entre as diversas repúblicas, esse plano, na verdade, significava o desmantelamento formal da estrutura tradicional do poder soviético. De qualquer forma, a proposta acabou por ser aprovada.
Os líderes ocidentais deram sinais de uma clara preferência pela permanência de Gorbatchev no poder, embora tenham empatado tempo demais o compromisso de uma ajuda económica que há muito Gorbachev vinha implorando a George Bush e apoiado na ajuda de Margarete Thatcher a interceder veementemente, insistindo que não podiam naquela altura abandonar Gorbachev no propósito de levar por diante a Perestroika. O agravamento da situação económica foi o maior tendão de Aquiles em Gorbachev para a derrocada da União Soviética. Era justamente o que tornava mais delicada a posição de Gorbatchev.
Aprovado o plano de mudanças, faltava ainda conseguir a assinatura do Tratado da União com todas as repúblicas. Mas a 1 de dezembro de 1991 a situação se precipitou com a consolidação da independência da Ucrânia, aprovada em plebiscito por 90% da população. Uma semana depois, numa espécie de golpe branco contra Gorbatchev, os presidentes das repúblicas da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, reunidos na cidade de Brest (Bielorrússia), criaram a Comunidade de Estados Independentes (CEI), decretando o fim da União Soviética.
A 17 de dezembro, Gorbatchev recebe a comunicação de que a União Soviética desapareceria oficialmente na passagem de Ano Novo. No dia 21 de dezembro, os líderes de 11 das 15 repúblicas soviéticas reuniram-se em Alma-Ata, então capital do Cazaquistão, para referendar a decisão da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia e oficializar a criação da Comunidade de Estados Independentes (CEI) e o fim da União Soviética. Em 25 de dezembro de 1991, Gorbachev renunciou e as doze repúblicas restantes surgiram da dissolução da União Soviética como países pós-soviéticos independentes. A Federação Russa passou a ser o Estado sucessor da República Socialista Federativa Soviética Russa, assumindo os direitos e obrigações da antiga União Soviética. Tornou-se reconhecida como a continuação da sua personalidade jurídica.
O golpe de agosto de 1991 perpetrado pelo setor mais conservador do Comité Central, foi abortado, mas já nada havia a fazer para o movimento de independência das repúblicas que compunham a União Soviética. As repúblicas do Báltico já tinham tentado separar-se em 1990, mas foram severamente reprimidas. Com o fracasso do golpe, o cenário mudou totalmente. As forças conservadoras estavam derrotadas. E o poder de Gorbatchev ficou completamente esvaziado.
A Rússia, com Boris Yeltsin ao leme, foi a primeira a reconhecer a independência dessas repúblicas. Estava aberto o processo para as outras, que na sua grande maioria também se declararam independentes. Outra consequência importante do golpe foi a suspensão, determinada por Ieltsin em toda a Rússia, das atividades do Partido Comunista, que implicou até mesmo o confisco dos seus bens. E o KGB, o poderoso serviço secreto soviético, teve a sua cúpula dissolvida.
Gorbatchev acabou por admitir a implosão da União Soviética. Mas ainda tentou manter o vínculo entre as repúblicas, propondo a assinatura do chamado Tratado da União. Mas as suas palavras não tiveram eco, e o processo de separação tornou-se irreversível. Em 4 de setembro de 1991, Gorbachev, como presidente da União Soviética, Boris Ieltsin, na qualidade de presidente da Rússia, e mais os líderes de outras nove repúblicas, em sessão extraordinária do Congresso dos Deputados do Povo, apresentaram um plano de transição para criar um novo Parlamento, um Conselho de Estado e uma Comissão Económica Inter-Republicana. Embora tentasse estabelecer os parâmetros para uma nova união entre as diversas repúblicas, esse plano, na verdade, significava o desmantelamento formal da estrutura tradicional do poder soviético. De qualquer forma, a proposta acabou por ser aprovada.
Os líderes ocidentais deram sinais de uma clara preferência pela permanência de Gorbatchev no poder, embora tenham empatado tempo demais o compromisso de uma ajuda económica que há muito Gorbachev vinha implorando a George Bush e apoiado na ajuda de Margarete Thatcher a interceder veementemente, insistindo que não podiam naquela altura abandonar Gorbachev no propósito de levar por diante a Perestroika. O agravamento da situação económica foi o maior tendão de Aquiles em Gorbachev para a derrocada da União Soviética. Era justamente o que tornava mais delicada a posição de Gorbatchev.
Aprovado o plano de mudanças, faltava ainda conseguir a assinatura do Tratado da União com todas as repúblicas. Mas a 1 de dezembro de 1991 a situação se precipitou com a consolidação da independência da Ucrânia, aprovada em plebiscito por 90% da população. Uma semana depois, numa espécie de golpe branco contra Gorbatchev, os presidentes das repúblicas da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, reunidos na cidade de Brest (Bielorrússia), criaram a Comunidade de Estados Independentes (CEI), decretando o fim da União Soviética.
A 17 de dezembro, Gorbatchev recebe a comunicação de que a União Soviética desapareceria oficialmente na passagem de Ano Novo. No dia 21 de dezembro, os líderes de 11 das 15 repúblicas soviéticas reuniram-se em Alma-Ata, então capital do Cazaquistão, para referendar a decisão da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia e oficializar a criação da Comunidade de Estados Independentes (CEI) e o fim da União Soviética. Em 25 de dezembro de 1991, Gorbachev renunciou e as doze repúblicas restantes surgiram da dissolução da União Soviética como países pós-soviéticos independentes. A Federação Russa passou a ser o Estado sucessor da República Socialista Federativa Soviética Russa, assumindo os direitos e obrigações da antiga União Soviética. Tornou-se reconhecida como a continuação da sua personalidade jurídica.
Abaixo, o mapa das 15 ex-repúblicas soviéticas:
[1] Arménia (Erevã); [2] Azerbaijão (Bacu); [3] Bielorrússia (Minsque); [4]Estónia (Talim);
[5] Geórgia Tiblíssi); [6] Cazaquistão (Astana);[7] Quriguistão (Frunze); [8] Letónia (Riga);
[9] Lituânia (Vilnius); [10] Moldávia (Quixinau);[11] Rússia (Moscovo); [12] Tagiquistão (Duxambé); [13] Turcomenistão (Asgabate); [14] Ucrânia (Kiev); [15] Uzbequistão (Tasquente).
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