quarta-feira, 2 de junho de 2021

Marquises


Quando, na noite da primeira vitória de Cavaco Silva para a Presidência, em 2006, as televisões mostraram o recém-eleito na sua marquise, o humorista Ricardo Araújo Pereira não resistiu a comentar:
«Duvido que Bush alguma vez tenha posto os pés numa marquise, quanto mais ter-se deixado filmar nela. Suspeito que a rainha de Inglaterra não saiba, sequer, o que é uma marquise. Quando penso em Cavaco Silva, só me ocorre a imagem do novo Presidente a falar ao telefone na marquise. Nem eu nem o país merecemos isto. Até porque, se havia coisa de que Portugal não estava precisado era de um incentivo à construção de marquises. Como é evidente, as poucas pessoas que ainda não têm a varanda fechada (em Lisboa, acho que são sete), viram Cavaco a passear na sua marquise e não puderam deixar de pensar: "Eu também quero uma coisa daquelas". Aquilo que o povo português viu na noite das presidenciais (...) foi uma hora de publicidade gratuita ao comércio de caixilharias.»
Um jornalista, quando perguntou ao porta-voz do Presidente, por que razão ele "marquisou" as varandas, e qual a utilização que lhes dá, o jornalista não obteve resposta.

O arquiteto, Manuel Graça Dias, que em 2009 lançou uma campanha contra as marquises em Portugal, disse:
«Mas estas marquises significam que, num sistema democrático, uma pessoa banal também pode ascender à Presidência da República. O uso das marquises banalizou-se de tal forma que até a família Cavaco as tem. Admito que hoje não as fizessem.»
O tema das “marquises" em Portugal volta agora a vir à baila por causa da polémica “marquise” (chamam-lhe marquise embora pareça outra coisa) de Cristiano Ronaldo. O que é certo, dado ser quem é, o caso tem feito correr muitos megabytes na imprensa mediática e redes sociais, gerado indignação, e servido de piadas. Um dos arquitetos responsáveis pelo projeto do prédio onde Cristiano comprou o último andar por €7,3M, recorreu às redes sociais para protestar contra um “Anexo”, que se vê da rua, que Cristiano acrescentou à zona da piscina com as melhores vistas de Lisboa. Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, também foi interpelado pela jornalista do canal televisivo onde ele é um comentador residente semanal. Negou conhecer qualquer pedido à Câmara de Lisboa para autorizar a construção. Informou que iria ser feita uma inspeção. Muita gente está ansiosa por saber o resultado, e o desfecho do caso.



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