“Heróis à moda do Minho”. E o Peteiro do Senhor “Marquises”. Quem é do Minho, sabe o que é um Peteiro, palavra genuína, que os minhotos difundiram pelo mundo com a emigração. Um porquinho, um pote que resiste à tentação de Pandora. Ou que dá jeito nos tempos que correm, quando as poupanças nos bancos andam pelas ruas da amargura.
O “Dicionário do Peteiro” contém cerca de 600 vocábulos e expressões da gíria, do calão e dos regionalismos minhotos, a maior parte dos quais utilizados nos contos “Heróis à moda do Minho”: Fiquei um chichinho empiçalhado da carola; Aluguei uns forrinhos a um tero do sul; Deixa-te de criquices; É mais velho que a Sé de Braga; Cuidado com o saralhoto!; Alapa-te nesse mocho. Estás como uma carroça.
A Gente do Minho, como toda a gente, que veste pano de linho, é muito rica em vocábulos picarescos, com narrativas de aventuras, herdadas de celtas e viquingues, ditas com ar jocoso, a cantar e a berregar, em vez de berrar, palavras cómicas.
Isto que vou contar aqui, desde já aviso que é uma grande bacorada. Aqui há atrasado vi um azeiteiro, um borra-botas, broeiro, que por acaso era um lingrinhas, um trengo que só cuspia postas de pescada. Antão não é que ele teve a distinta lata de dizer que agarrou uma serigaita, e levou-a pra antromilho escorregando por um balado. Depois de despir-lhe a camurcina, e tirar-lhe o setiã, o malvado do indreita desapertou a carcela e tirou das calças um pisca-póles. Despois foi dizer à tia que foi fazer um biscate, reparar um chaço que estava parado ali por baixo de uns clipes. É claro que a tia não foi na fita e disse:
Com que então vens-me aqui encher o bandulho. Mas olha, se me estás a intrujar, eu dou-te cabo do canastro. Pego ali naquele chuço e arreio-to pelas costas abaixo. Tu és telhudo, mas eu ponho-te o greiro atrás da orelha em três tempos. Tu és um patifório, meu fraldiqueiro, com a tringalha por aí a dar-a-dar. Eu estou barada contigo. Agora não digas mais nada, faz pouco basqueiro.
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