Idlib é uma cidade no noroeste da Síria que opera como capital do distrito do mesmo nome, situada a 59 Km a sudoeste de Alepo. Desde a revolta de 2011 que Idlib se tornou o foco de protestos e combates na fase inicial da guerra síria. À medida que a revolta entrou em conflito armado, Idlib tornou-se o foco de uma campanha rebelde, que capturou temporariamente a cidade e a província, antes de uma ofensiva do governo em abril de 2012. Depois disso, as forças do governo retomaram a cidade e a província controlada pelos rebeldes após um mês de combates, antes da tentativa de cumprimento do cessar-fogo proposto por Kofi Annan. Após a ofensiva de Idlib em março de 2015 a aliança rebelde Exército de Conquista, liderada pela Frente al-Nusra e Ahrar al-Sham, teve sucesso na Segunda Batalha de Idlib, capturando a cidade, bem como sitiando as cidades de maioria xiita de Al-Fu’ah e Kafriya ao norte da cidade de Idlib. Em 23 de julho de 2017, Tahrir al-Sham, o sucessor da Frente al-Nusra, expulsou as forças restantes de Ahrar al-Sham de Idlib, capturando toda a cidade.
Numa região onde antes da guerra não havia mais de 80.000 habitantes, hoje é uma espécie de Gaza, acomodando mais de 4 milhões de civis e algumas dezenas de milhares de combatentes rebeldes encurralados, praticamente o último reduto da oposição armada sunita a Bashar Al-Assad — um cada vez mais exíguo pedaço de terra encravado no Noroeste da Síria. Na Faixa de Gaza, os palestinianos estão há longos anos bloqueados nas suas fronteiras terrestres e marítimas por Israel, mas também pelo Egipto. No Idlib, os sírios estão cercados pelas forças militares de Bashar Al-Assad e dos seus aliados iraniano e russo e emparedados a Norte pelo exército da Turquia. Tal como o Egipto não quer os palestinianos de Gaza no seu território, a Turquia também não quer os sírios do Idlib. À semelhança da Faixa de Gaza, onde os islamistas-jihadistas do Hamas controlam o território, no Idlib o equivalente é o Jabhat al-Nusra, uma ramificação da Al-Qaeda reciclada como Hayat Tahrir al-Sham.
A Turquia ocupa partes do Norte da Síria, apoia grupos rebeldes jihadistas que fazem o trabalho sujo no terreno contra os curdos e empurra-os para fora do seu território histórico. O Irão treina e equipa milícias armadas xiitas, e envia populações xiitas para repovoar o território onde estavam árabes sunitas fugidos da guerra. Esta intervenção iraniana tem vantagens para o governo de Bashar Al-Assad. Livra-se de sunitas que lhe contestam a legitimidade e ganha xiitas teoricamente mais dóceis.
A Turquia ocupa partes do Norte da Síria, apoia grupos rebeldes jihadistas que fazem o trabalho sujo no terreno contra os curdos e empurra-os para fora do seu território histórico. O Irão treina e equipa milícias armadas xiitas, e envia populações xiitas para repovoar o território onde estavam árabes sunitas fugidos da guerra. Esta intervenção iraniana tem vantagens para o governo de Bashar Al-Assad. Livra-se de sunitas que lhe contestam a legitimidade e ganha xiitas teoricamente mais dóceis.
«Iman diz que não há como voltar. "Não podemos retornar a Ghouta enquanto o regime ainda estiver em vigor. Eles nos fizeram entender que, se retornássemos, seríamos detidos ou executados. Não há mais nenhum lugar seguro, nem mesmo em Idlib."»No campo onde encontraram refúgio, há pouca ou nenhuma água potável, falta eletricidade e as crianças estão sem estudar por causa do coronavírus. Até mesmo antes da pandemia as crianças não iam para a escola com frequência, por causa dos combates e dos bombardeios. “Tento ensinar aos meus filhos o que eu sei; eles já perderam quase dois anos de estudos quando ainda morávamos em Ghouta."
«Hassan vive na cidade de Idlib desde 2019. Ele mora na casa de um amigo porque não tem dinheiro para alugar um espaço para si, e sua esposa e filhos estão com parentes em outra aldeia. Não há acomodações suficientes na cidade para todos, independentemente de terem dinheiro."Olho para Idlib e vejo uma cidade deprimida, onde não há esperança." Os preços são exorbitantes, pois o comércio com o mundo exterior é impossível. A província está completamente isolada. "A paralisia e a tristeza são as mesmas nos campos e na cidade”. Idlib também não tem água corrente, então, a água tem que ser comprada e, como todo o resto, é muito cara.“Eu passei por todas as emoções que existem. Fiquei com medo, pensei que talvez tudo isso seja de fato normal, me senti vazio e, em uma ocasião estranha, feliz. Agora me pergunto se não estou acostumado com a situação. Tínhamos medo quando ouvíamos o som dos tiros. Aqui, ouvimos os aviões e os ataques aéreos e começamos a conversar sobre outra coisa.” Os parentes e amigos de Hassan que ficaram em Talbiseh disseram a ele que homens em idade de combate têm medo de sair porque podem ser recrutados à força pelo exército sírio."Não quero sair da Síria. Tudo o que eu quero é morar sob o mesmo teto que a minha família. Ninguém sabe o que vai acontecer. Politicamente, nada está claro, nem nas nossas vidas. Continuamos esperançosos, mas é exatamente isso que está nos matando."Sair da Síria significa pagar contrabandistas, que ajudam as pessoas a chegar à Turquia. Se a família toda fugisse, custaria cerca de 12 mil dólares "Eu poderia vender meus rins", diz ele, rindo.Abou Fadel nasceu e cresceu na província de Idlib, na vila de Talmenes, a cinco quilômetros de Maarat-al-Nouman."Em vez de me perguntar como eu consigo sobreviver, a pergunta é se estou sobrevivendo", diz Abou, de 40 anos. "A resposta é não. Pego dinheiro emprestado de amigos e parentes sem saber quando poderei pagá-los de volta ou sequer se conseguirei fazer isso antes de morrer. Recebemos algumas doações de organizações humanitárias, mas não é regular.” Em junho de 2020, devido aos combates, mais pessoas foram deslocadas no sul da província de Idlib e no norte da província de Hama. “O regime sírio considera terroristas todos os que vivem em Idlib. Meu primo foi preso em Hama enquanto sacava dinheiro. Ele nunca mais voltou. Com as tropas avançando em terra, no melhor cenário, serei recrutado à força pelo exército. E, no pior, serei preso.”A barraca em que a família vive é um frigorifico no inverno e um forno no verão. Abou Fadel passa seus dias andando pelo campo e bebendo chá com os vizinhos. Se a situação se tornar ainda mais sombria, eles buscarão refúgio o mais próximo possível da fronteira turca, onde acreditam ser mais seguro. "Estamos presos aqui e só há uma saída."»
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