terça-feira, 22 de junho de 2021

Algazarra. Numa viagem do Minho ao Algarve





Algazarra é uma expressão muito dita no Algarve, região de Portugal onde os árabes/mouros permaneceram mais tempo na Península Ibérica para além da Andaluzia. Era a vozearia que os mouros faziam antes dos combates, quer no tempo da invasão muçulmana, quer no tempo das Taifas, das lutas entre si pelo poder no Al-Andaluz.



Al-Andaluz foi o único território europeu continental a participar na Idade de Ouro Islâmica, passando por vários períodos políticos. Era inicialmente um emirado integrado na província norte-africana do Califado Omíada, tendo sido também Califado de Córdova, diversas Taifas: província Almorávida; Califado Almóada; Reino Nacérida de Granada. A região ocidental da Península Ibérica era denominada Gharb al-Andalus ("o ocidente do al-Andalus") e incluía o atual território português. De uma maneira geral, o Gharb al-Andalus foi uma região periférica em relação à vida económica, social e cultural de Córdova e Granada.


Foi quando estávamos a passar a zona dos leitões da Bairrada, e o dia renascia, que as raparigas adolescentes no banco de trás acordaram. Uma estava a pesar em cima da outra, e começou a algazarra. Susana, ao lado do marido que conduzia sem dizerem uma palavra há mais de uma hora, virou-se para trás e disse às meninas para não fazerem barulho que o pai ia a conduzir. Uma delas disse: "a conduzir, Porquê?"
"Dá para vocês ficarem quietas?" Disse o condutor. Uma delas empurrava com os pés o banco do condutor. Todas pararam de falar. Não conseguiam entender por que lado a algazarra atrapalhava a condução. E ele não entendia como podiam falar todas ao mesmo tempo, às vezes sobre assuntos diferentes, parecendo que ninguém ouvia ninguém. Porque não se calavam e deixavam que se concentrasse na condução? Por causa da algazarra, tinha deixado passar a próxima estação de serviço onde tencionava abastecer.

A questão fundamental aqui é simples: homens e mulheres são diferentes. Nem melhores nem piores, apenas diferentes. Antropólogos, Psicólogos, Sociólogos sabem disso há anos, mas têm também a dolorosa certeza de que após a viragem para o terceiro milénio depois de Cristo ter descido à Terra, afirmar publicamente as suas conclusões de que "homens e mulheres são diferentes" levantaria uma algazarra dos al-Gharbs-Andaluses no jogo do tresilho. Por isso, muitos deles têm-se fechado em copas. (Fechar-se em copas no jogo do tresilho, um jogo de cartas de três jogadores, um contra dois,  jogado em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, surgido na Espanha no início do século XVII).

Justamente: quando a ciência se começava a preparar para provar que não era apenas no aspeto visível do corpo que havia diferenças entre um homem e uma mulher, mas também no cérebro, eis que a ideia das diferenças entre um homem e uma mulher era uma ideia obscena, típica de párias devassos e gandulos. Ora, como todos os velhos sabem de experiência feita, este tema na atual sociedade "pós-millennials" tornou-se um terreno extremamente acidentado, fértil em controvérsias extremadas, em que as conclusões são sempre muito perturbadoras. Não quer dizer que deixe um rasto de sangue, como a luta de classes, mas que tem agravado as relações entre "géneros", lá isso tem.

Por exemplo: menos de um por cento dos pilotos da aviação comercial são mulheres. Mas quando os académicos cientistas sociais, para as suas teses de doutoramento, e nos trabalhos de campo tentam conversar sobre isso com os funcionários de empresas aéreas, muitos negam-se a opinar, com medo de serem acusados de 'sexistas' ou 'antifeministas'. Muitos se defenderam com um "nada a declarar", e houve companhias que fizeram ameaças caso os seus nomes fossem citados na tese. As mulheres em cargos executivos são, em geral, mais recetivas, embora muitas jogam à defesa, não vá a pesquisa constituir uma ameaça ao feminismo. E quanto aos académicos já bem instalados na vida, não estão para se incomodarem com a compra de uma guerra, e só falam abertamente em salas pouco iluminadas, a portas fechadas e com a garantia de que os nomes deles e dos locais onde trabalham não sejam mencionados. Nos países ocidentais, cerca de 50% dos casamentos acabam em divórcio, e os relacionamentos mais sérios não duram muito. Homens e mulheres de todas as culturas, credos e raças vivem em constante duelo por causa de opiniões, comportamentos, atitudes e crenças.

Tomemos então o assunto: com aquela 'leveza do ser', com um sentido de humor à Milan Kundera - Quando um homem vai aos mictórios, geralmente faz isso por uma razão concreta e definida, como outra coisa qualquer. As mulheres dizem que vão à casinha, usando o espaço para mais do que uma coisa, incluindo reuniões sociais e sala de terapia. Podem entrar como estranhas e sair como amigas de infância. Nunca se viu um homem levantar-se de uma mesa num café ou restaurante, onde estão homens e mulheres, e dizer para o parceiro do lado: "vou verter águas, também quer vir?" 
E depois deixam o tampo de baixo da sanita todo mijado e o tampo de cima levantado.

Os homens ficam maravilhados: com a capacidade que as mulheres têm de entrar num salão de chá repleto de gente e fazer instantaneamente um comentário sobre cada pessoa que lá se encontra. Elas não entendem como eles podem ser tão pouco observadores. Os homens se espantam de ver que uma mulher não consegue ver a luzinha vermelha da reserva do combustível no painel do carro, mas é capaz de topar que um cavalheiro tem uma meia de cada cor num canto escuro do restaurante a 50 metros de distância. Se a viajar a mulher se perde: pára e pergunta. Ele não faz isso, porque para um homem é sinal de fraqueza. Ele anda às voltas, às voltas, e dizendo coisas do género: "descobri um outro caminho que vai dar lá"; ou "estamos quase a chegar"; ou "estou a reconhecer aquele posto de gasolina".

Em suma, Boçalidades: boçal, é o valor facial do homem, ou melhor, é o valor por que as mulheres tomam os homens. Os homens não sabem ouvir, não são gentis e compreensivos, não conversam nem demonstram carinho, não levam a sério os relacionamentos, querem 'fazer sexo' em vez de 'fazer amor'.  Os homens criticam as mulheres por serem aselhas na condução, e não serem capazes de ler um mapa de estradas, quase sempre com o mapa virado de baixo para cima e a cabeça para baixo. São boas, mas não tão boas a ver geometria no espaço. Os homens acham que são o sexo do sentido prático. As mulheres sabem que são elas quando perguntam: "Quantos homens são necessários para colocar um rolo novo de papel higiénico no sítio? Não se sabe, isso nunca aconteceu". Hoje em dia os relacionamentos nos casais cada vez dão menos certo, porquê? Porque os homens não compreendem as mulheres. Não percebem que elas não podem ser como eles. E as mulheres esperam que os homens se comportem do mesmo modo que elas. Termino parafraseando o cantor Miguel Araújo na canção "Maridos das Outras":
«Toda a gente sabe que os homens são brutos, que deixam camas por fazer e coisas por dizer. Mas os maridos das outras não, porque os maridos das outras são, o arquétipo da perfeição, o pináculo da criação . . .»



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