segunda-feira, 25 de outubro de 2021

O Cáucaso - uma incursão histórica entre 600 a.C. e 189 a.C.

 

Estados Georgianos antigos [600 a.C. - 189 a.C.]

Para quem se dirige da Cólquida para a Média, o trajeto não é longo, pois entre esses dois países encontra-se apenas a terra dos Saspiros. Atravessando-a, chega-se logo ao território dos Medos. Os Citas, entretanto, não penetraram desse lado; fizeram-no bem mais adiante, por uma estrada muito mais longa, deixando o Cáucaso à direita. Foi ali que os Medos, terçando armas com os Persas e sendo derrotados, perderam o império da Ásia, que passou para os Citas. De lá, os Citas marcharam para o Egito, mas quando chegaram à Síria, Psamético, rei do Egito, veio-lhes ao encontro, e, à força de presentes e de súplicas, conseguiu demovê-los de ir adiante. Retornaram eles pelo mesmo caminho e passaram por Ascalão, na Síria, sem causar nenhum dano, com exceção de algumas pilhagens no templo de Vénus Urânia, feitas por alguns dos que seguiam na retaguarda. Esse templo, ao que pude saber pelas informações colhidas, é o mais antigo de todos os dedicados à deusa, tendo servido de modelo ao de Cipro, segundo declararam os próprios cíprios. O de Citera é obra dos Fenícios, originários da Síria. [Heródoto]

A Cólquida é a região ao sul do Cáucaso e a leste do Mar Negro, que hoje faz parte da República da Geórgia. Na mitologia grega, era o país onde se encontrava o Velo de Ouro. Jasão, a bordo do seu navio Argo, viajou até ali para o roubar ao rei. O primeiro reino da Cólquida teria sido dominado pelos Cimérios e pelos Citas, por volta de 720 a.C. Em meados do século VI a.C. foi anexada pelo Império Aqueménida dos persas. Depois os Medos vindos da Ásia conquistaram o país. Antes disso, fontes de origem Urartu mencionam numerosas cidades reais na Cólquida, parecendo que essa nação apresentava elevado grau de civilização nessa época. Havia um único rei colco e um governador em cada província.

Entre 750 e 748 a.C., o rei Sardur II de Urartu invadiu e devastou o sul da Cólquida. Entre 747 e 741 a.C. Sardur voltou e conquistou o palácio de Ildamuche, sede principal do governo. Pouco depois, iniciaram-se as escaramuças dos Cimérios, chamados Gmir pelos georgianos, causando destruição e mortes. Então o país foi assolado pelos Citas. Em 590 a.C., os Citas e os Medos destruíram esse reino. O local de Urartu foi ocupado por tribos arménias, ficando a Cólquida e a Arménia como nações vizinhas. Em 330 a.C., o reino foi libertado do domínio persa por Alexandre Magno. No século IV a.C., a área do Leste caiu sob o domínio do Reino da Ibéria
Reino esse que existiu entre os séculos IV a.C. e V d.C.

O Reino da Grande Arménia existiu de 321 a.C. a 428 d.C. Dinastia orôntida 321 a 200 a.C.; artáxida 189 a.C. a 12 d.C.; arsácida 52 d.C. a 428 d.C. Antes deste reino o território pertencia ao Reino de Urartu, um reino da Idade do Ferro centrado à volta do lago Van no planalto Arménio [860 a.C. – 590 a.C.]. Em 590 a.C. foi conquistado pelo Império Medo, cuja capital era Ecbátana. O último rei do Império Medo foi Astíages, destronado em 550 a.C. por Ciro o Grande.




Como já disse, a Média foi a terra dos medos e do Império Medo. Os medos foram uma das tribos de origem ariana que migrou da Ásia Central para o planalto iraniano no final do século VII a.C., e aí fundaram o Império Medo centrado na cidade de Ecbátana. Era um povo que falava uma língua que pertencia ao tronco indo-europeu. Para todos os efeitos, estavam relacionados com os persas. Devido à sua proximidade com os persas, os autores gregos às vezes achavam difícil diferenciá-los deles, como evidenciado pela expressão "Guerras Médicas".

De acordo com estudiosos, os medos têm relação com um personagem de Génesis 10:2 chamado Madai. O mesmo nome é utilizado pelos assírios para designar o país dos medos. Os babilónios os designavam como Ummān-manda. Os medos destacaram-se pela administração do seu reino, uma boa organização quando comparada com outros reinos da época, como a Assíria, a Lídia e a Fenícia. Também mantinham um exército baseado em infantaria armada com espadas de ferro e escudos, arqueiros e cavaleiros com lanças. As demais tribos arianas, como os persas e os partas, permaneceram tributários dos medos por séculos. Atualmente, os curdos declaram ser os atuais descendentes dos medos.



Medeia - Paul Cézanne

Medeia, na mitologia grega, era filha do rei da Cólquida e sobrinha de Circe. Durante algum tempo foi esposa de Jasão. É uma das personagens mais terríveis e fascinantes da mitologia, ao envolver sentimentos contraditórios e profundamente cruéis, que inspiraram muitos artistas ao longo da história. Marca um limiar cultural e civilizacional: por um lado o mundo primitivo das culturas pelásgicas, das divindades ctónicas, dos matriarcados arcaicos e da Deusa-mãe; por outro, os novos desafios abertos pela Idade do Bronze. O mito de Medeia insere-se no ciclo narrativo dos Argonautas que nos chegou até hoje, de forma mais completa, na obra Argonáutica de Apolónio de Rodes (século III a.C.) que se baseou em material disperso, a que tinha acesso na famosa Biblioteca de Alexandria. Medeia fugiu para Atenas, onde se casa com o Rei Egeu. Eles tiveram um filho, Medo. Quando Teseu volta, Medeia tenta envenená-lo, mas Egeu descobre que Teseu era seu filho e impede o assassinato. Medeia e Medo voltam para a Cólquida, e descobrem que Eetes, pai de Medeia, tinha sido deposto por seu irmão Perses. Medeia e Medo matam Perses, e Medo se torna rei. Quando Medo conquista um grande território, este passa a se chamar Média ou terra dos Medos.


A Sarmácia Asiática é terra dos sármatas, na fronteira oriental da Cítia. Os sármatas eram povos iranianos relacionados com os citas e os sacas. Falavam um dialeto iraniano norte-oriental relacionado com o sogdiano e como o osseto. O termo Sarmácia é aplicado pelos antigos escritores ao que é conhecido como Europa central e oriental, inclusive tudo o que as antigas autoridades chamavam de Cítia, sendo esse nome transferido para regiões mais a leste. A Geografia de Ptolomeu mostra mapas da Sarmácia europeia e asiática.




Numa recente escavação por Jeannine Davis-Kimball, foi encontrado um túmulo onde terão sido enterradas guerreiras, proporcionando dessa forma algum crédito ao mito grego das amazonas. Após as escavações de 2003, ela e Joachim Burger compararam as evidências genéticas do sítio com os nómadas cazaques e encontraram uma impressionante ligação genética - verificada depois pela Universidade de Cambridge. Os povos turcos que se expandiram para essa região não exterminaram nem expulsaram completamente os habitantes iranianos originais, mas na verdade assimilaram um número significante deles.

O Reino da Ibéria, nome dado pelos antigos gregos e romanos, existiu entre os séculos IV a.C. e V d.C. e correspondia aproximadamente ao leste e ao sul da atual República da Geórgia. A similaridade do nome Ibéria, com o da Península Ibérica, sempre suscitou a ideia de alguma relação de parentesco entre os povos ditos "iberos" do Oeste e do Leste. Vários autores da Antiguidade levantaram essa hipótese de uma origem comum, mas não souberam explicar isso diante da grande distância geográfica entre os dois grupos, nem definiram de onde se teriam originado ambas as etnias.




A área era habitada por várias tribos relacionadas entre si, conhecidas como "iberos" por antigos autores. O reino local, Cártila, deve o seu nome a um mítico chefe de nome Cartlos. Os Sasper, citados por Heródoto, teriam sido os responsáveis pela consolidação das diversas tribos nessa região. A provável origem etimológica de Ibéria derivaria de Sasper via Sasper >Speri >Hberi >Iberi. Os Moschi teriam deslocado para o nordeste em migração, sendo que a sua principal tribo, os Mtsqueta, originaram o nome da capital.

A contínua rivalidade entre o Império Bizantino e o Império Sassânida pela supremacia no Cáucaso e a fracassada insurreição dos georgianos em 526, liderada por Gurgenes, foi de consequências danosas para o país. Desde então, o rei da Ibéria teve um poder apenas simbólico, pois o país estava sob domínio persa. A Ibéria passou a ser uma província persa administrada por um governador. Em 582, nobres georgianos solicitaram ajuda ao imperador Maurício I que reinou Constantinopla entre 582 e 602, para fazer renascer o Reino da Ibéria. Mas, em 591, os bizantinos e os persas preferiram fazer um acordo para dividir a região, ficando Tbilisi com os persas, e Mtsqueta com os bizantinos.



O mapa do Mundo no tempo de Heródoto


Os Masságetas foram uma confederação nómada de povos iranianos orientais, que habitaram as estepes da Ásia Central, no Nordeste do mar Cáspio, no atual Turquemenistão. Heródoto situou-os a leste do Mar Cáspio e sudeste do Mar de Aral, entre o Amu Daria e o Sir Daria. A localização exata, contudo, é difícil de determinar pela imprecisão das fontes. Heródoto, por exemplo, baseou-se parcialmente em Hecateu de Mileto e em informadores orais, o que cria um relato misto.

Os Masságetas são mencionados quando Ciro conduz a guerra contra eles, talvez para assegurar as recém-conquistadas Corásmia e Sogdiana. O curso da campanha não é conhecido em detalhe. Segundo Heródoto, após pedir a mão da rainha Tómiris. Cruza a fronteira, mas tem um final infeliz. Ciro morre na batalha decisiva, quando a maior parte de seu exército é destruída. Mais tarde, Dario consegue subjugá-los. Desde então passaram a fazer parte do Império Aqueménida. Depois, parece terem sido absorvidos pelos daas que aparecem uma vez numa inscrição de Xerxes. Só são conhecidos pelos gregos no tempo de Alexandre. Depois deixam de ser citados quando os daas se tornam o mais influente poder daquela região. No período romano aparecem como uma das notáveis tribos citas e Amiano Marcelino associa-os aos alanos do seu tempo.
Dos Masságetas, sabia-se que viviam nas grandes planícies da Ásia Central e nas ilhas do rio Amu Daria. Ciro continua a sua expedição militar, um exército gigantesco. Munido da água fervida do rio Coaspes, enfrenta a sede do deserto. Creso adverte para a possibilidade de a sorte abandonar Ciro e assim as coisas correrem muito mal. Os Masságetas desconhecem as delícias da Pérsia e nunca viveram grandes prazeres. Abatam rebanhos de gado tragam vinho e outras iguarias. Os Masságetas não vão perder a oportunidade de comer e beber e quando ébrios adormecerem. Ciro aceita o plano de Creso. Durante a noite Ciro tem uma Visão má e manda o filho dele, Cambises, na companhia de Credo de volta para a Pérsia. Os Masságetas viram o banquete servido e puseram-se a festejar. Empanturrados de comida e vinho adormeceram. Então os persas voltaram e massacraram uma data deles, aprisionando ainda muitos mais. Deste número fazia parte o filho da rainha Tómiris comandante dos Masságetas, de nome Espargápises. Tómiris não se deixa ficar e dá réplica. Numa luta corpo a corpo, no início as forças são equilibradas, mas depois ganham os Masságetas. A maioria do exército persa morre. Entre os caídos encontra-se Ciro. [Heródoto]

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