quinta-feira, 7 de outubro de 2021

O rio Hális e a batalha entre Medos e Lídios


Heródoto, na sua História, narra:
Os Gregos dão aos Capadócios o nome de sírios. Antes da dominação persa, tais sírios eram súbditos dos Medos, mas estavam sob a obediência de Ciro, porque o rio Hális separava os estados dos Medos dos pertencentes aos Lídios. O Hális desce de uma montanha da Arménia (o Tauros), atravessa a Cilícia, e dali, continuando seu curso, banha, à direita, a terra dos Macinianos, e, à esquerda, a dos Frígios. Depois de haver passado entre esses dois povos, corre para o norte, envolvendo, de um lado, os Sírios Capadócios, e do outro, os Paflagónios. Assim, esse rio separa quase toda a Ásia Menor da Alta Ásia, desde o litoral, defronte de Chipre, ao Ponto Euxino. O país inteiro forma um estreito, que pode ser percorrido em apenas cinco dias por um bom caminhante.


Rio Hális

O rio Hális, que aparece em Histórias de Heródoto, é hoje o rio Kizilirmak, na Turquia, literal "Rio Vermelho", o rio mais longo da Turquia que desagua no Mar Negro. O rio Hális historicamente banhava a Paflagónia, Ponto, Frígia e Capadócia. Os hititas chamavam-lhe Marassantia e formava as fronteiras ocidentais das terras do Império Hitita com capital Hattusa. Em 28 de maio de 585 a.C. foi palco da Batalha de Hális (ou Batalha do Eclipse), entre os Medos e os Lídios. O rio marca também a fronteira entre a região histórica da Cilícia e Capadócia, e entre esta e a Frígia.





A Capadócia foi conquistada pelos persas aqueménidas em 546 a.C., durante o reinado de Ciro II. Os persas dividiram a Anatólia em províncias, as chamadas satrapias, cuja administração estava a cargo de governadores, os sátrapas, nomeados pelo imperador. Com Dario I a Capadócia passou a integrar a terceira satrapia. Embora formalmente fazendo parte do Império Aqueménida, a Capadócia mantinha uma grande autonomia, dirigida por uma aristocracia local de tipo feudal. A Paflagónia ficava entre as antigas regiões da Bitínia a oeste. Apesar do limitado papel que tiveram na história da região, os paflagónios eram originários de uma das mais antigas regiões da Anatólia. A Paflagónia passou para o controlo dos reis Macedónios que depois da morte de Alexandre Magno, passou juntamente com a Capadócia e a Mísia para a jurisdição de Eumenes de Cardia. Após várias batalhas, a Capadócia foi incorporada no reino de Seleuco Nicátor. As províncias estavam ligadas ao porto de Éfeso, perto da atual cidade de Selçuk, na província de Esmirna. Pompeu uniu os distritos costeiros da Paflagónia e boa parte do Ponto com a província romana da Bitínia. Mas deixou o interior do país nas mãos dos príncipes locais.  até que as suas dinastias se extinguissem, Quando então as suas dinastias se extinguiram, foi tudo anexado ao Império Romano.



Mais Heródoto:
Transpondo o Hális, Creso e suas tropas chegaram à região da Capadócia denominada Ptéria. A Ptéria, o cantão mais poderoso do país, fica perto de Sinope, cidade situada sobre o Ponto Euxino. O soberano ali ergueu acampamento e devastou as terras dos sírios. Ocupou a cidade dos Ptérios, reduzindo os habitantes à escravidão. Apoderou-se também de todos os burgos vizinhos, deu caça aos sírios e fê-los transportar para lugares distantes, conquanto eles não lhe tivessem dado motivo de queixa. Tales, que se achava no acampamento, desviou para a direita das forças expedicionárias o curso do rio, procedendo da seguinte maneira: Fez cavar um canal profundo em forma de meia-lua, atrás do acampamento, de modo a envolver a retaguarda do exército, e o rio, saindo do antigo leito, entrou pelo novo, retornando, em seguida, ao antigo, depois da passagem das tropas. Dividido o rio em dois braços, tornou-se facílimo vadeá-lo, devido ao desvio das águas. Afirmam alguns que o canal ficou depois inteiramente seco, mas não creio que assim tivesse sido. De facto, como Creso e seu exército poderiam atravessar o rio quando voltaram? Quando Creso, depois da batalha de Ptéria, retirou-se, Ciro, informado do propósito do rei inimigo de dispensar as tropas estrangeiras, julgou vantajoso marchar sem demora para Sardes, antes que os Lídios reunissem novas forças. Tomando essa resolução, executou-a sem demora, e fazendo avançar seu exército sobre a Lídia, levou, ele próprio, a Creso, a notícia de sua marcha. Embora inquieto por ver suas intenções malogradas, Creso, ainda assim, lançou os Lídios em combate. Não havia, então, na Ásia, nação mais valente nem mais belicosa. Os Lídios combatiam a cavalo, com longas lanças, e eram excelentes cavaleiros.

Mal os dois exércitos avançaram para o choque, os cavalos dos lídios, sentindo a presença dos camelos, recuaram, pondo por terra as esperanças de Creso. Os lídios, contudo, não se desconcertaram com isso. Percebendo o estratagema, desceram dos cavalos e combateram a pé. Por fim, depois de perdas consideráveis de parte a parte, bateram em retirada, encerrando-se atrás das muralhas da cidade, onde os persas os sitiaram. Era essa a situação dominante em Esparta quando chegou de Sardes o emissário de Creso, solicitando socorro urgente para o soberano sitiado. Os Espartanos não hesitaram em enviá-lo. As tropas já se achavam prontas e os navios equipados, quando chegou outro correio trazendo a notícia de que a capital dos Lídios havia sido tomada e Creso feito prisioneiro. Tristes ficaram os Espartanos com a notícia, e considerando já inútil o seu auxílio, suspenderam a remessa das tropas.

Os adivinhos de Telmesse haviam predito que Sardes tornar-se-ia inexpugnável se se fizesse passar o leão em torno das muralhas. Ante a predição, Meles conduziu o animal por toda a parte onde o inimigo pudesse tentar o ataque e forçar a cidadela. Heroide percebera na véspera um lídio descendo da cidadela por aquele ponto, a fim de apanhar uma moeda que lhe escapara das mãos, e o vira subir, em seguida, pelo mesmo caminho. Esta observação impressionou-o e fê-lo refletir. Subiu, ele próprio, por ali, acompanhado de outros persas. Seguia-o, pouco mais atrás, uma grande quantidade de soldados. Assim foi tomada Sardes, e a cidade inteira entregue à pilhagem.

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