segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Septimania


Septimania era um território que dos séculos V ao VIII correspondia aproximadamente à moderna região administrativa francesa de Languedoc-Roussillon que se estende da Provença até aos Pirenéus. Referia-se à parte ocidental da província romana da Gália Narbonense, com Narbona como capital. O nome "Septimania" pode derivar do nome romano "
Julia Septimanorum Baeterrae" que era a cidade posteriormente chamada Béziers, habitada pelos volcas tectósagos. Seria aqui o local do assentamento dos veteranos da 7ª Legião Romana. 




Entre 462 e 477 a Gália Narbonense e as regiões vizinhas foram incorporadas no Reino Visigótico que se havia instalado na Aquitânia em 415/419, e depois se expandiu pela Península Ibérica. Da Aquitânia faziam parte as cidades - Bordéus, Agen, Angoulême, Saintes, Poitiers, Périgueux e Toulouse. A capital em Toulouse até 507, passou depois para Narbona quando perderam território da Gália para os francos. Assim mantiveram  a estreita faixa costeira da Septimania a oeste do Ródano, dado que a leste o território passou a ser chamado Provença. Portanto, durante os séculos VI e VII a população da Septimania havia mantido relações extremamente cordiais com os reis visigóticos. 




A Abadia de Saint Gilles - de acordo com a lenda, foi fundada no século VII por São Gilles, sobre terras que lhe foram dadas por Wamba, depois de involuntariamente ter ferido o santo durante uma caçada. Wamba foi um rei visigótico de 672 a 680. O mosteiro foi inicialmente dedicado a São Pedro e São Paulo. No século IX, a dedicação foi alterada para o próprio São Giles, que se havia tornado uma das figuras mais veneradas da região. As suas relíquias foram alojadas na igreja da abadia e atraíram numerosos peregrinos. No século XI, o mosteiro foi anexado ao de Cluny. Graças à sua prosperidade, foi ampliada e decorada do século XII ao XV, quando o claustro foi concluído. O túmulo de São Gilles foi redescoberto em 1865, tornando-se novamente um destino de peregrinação a partir de 1965.

Gregório de Tours [538 - 594], historiador galo-romano e bispo de Tours, é um autor onde se encontram abundantes referências à Septimania e à Gália Narbonense. Estagel é uma localidade da Occitânia  dos Pirenéus Orientais onde foi encontrada uma necrópole com alguns sobrenomes de raiz germânica, ou seja, visigótica. Aliás, em todas as regiões da França há sobrenomes de origem germânica. 

Esta área abrigava uma grande e antiga população judaica. Não no início, mas passado pouco tempo depois de os visigodos se terem convertido ao cristianismo, no nordeste da Espanha as relações com os judeus deterioraram-se. E começaram a perseguir os judeus em seus domínios. Ora, no início do século VIII Septimania é conquistada pelos muçulmanos, passando a fazer parte do Al-Andalus com o nome de Arbuna. Assim, os judeus acolheram com alegria os invasores por gozarem de uma existência promissora, nomeadamente com a sua colocação em postos administrativos importantes nas cidades, como Córdoba, Granada e Toledo. O comércio e os negócios judeus foram encorajados e atingiram uma nova prosperidade. O pensamento judaico coexistia, lado a lado, com o islamismo, e muitas cidades, incluindo Córdoba, a capital, possuíam uma população predominantemente de judeus.

Por um breve período Septimania fez parte do Emirado de Córdoba, até ser definitivamente conquistada pelos francos, a que deram o nome de Gótia, ou seja, a terra dos godos. 

De 720 até 759 Septimania ficou nas mãos dos muçulmanos, tornando-se um principado árabe independente, com a capital em Narbona. Devia uma fidelidade apenas nominal ao emir de Córdoba. De Narbona, os muçulmanos da Septimania começaram então a tentar avançar em direção ao Norte da Aquitânia, capturando cidades até nos territórios dos francos

Mas o avanço dos mouros foi travado por Carlos Martel [690 - 741], duque da Austrásia, e Mordomo do Palácio. A Austrásia, localizada no nordeste da atual França, mas compreendendo também partes da atual Alemanha, Bélgica e Países Baixos era a região compreendida entre o Reino de Reims, o país dos francos ripuários, o vale do rio Mosela, a região da atual Champanhe e a Auvérnia. Era um reino sob o domínio da dinastia dos merovíngios com capital em Metz. Embora alguns dos seus reis tivessem a corte em Reims. Por isso era também chamado de Reino de Reims ou Reino de Metz.

Para todos os efeitos era o soberano dos francos. Defendida por mouros e judeus, Narbona tornou-se uma fortaleza inexpugnável, sob o comando de Yusuf, herdeiro de Abd er-Rahman. Em 737 Martel não tinha conseguido mais do que devastar os arredores. Carlos Martel teve que voltar para o Norte sem subjugar Narbona, deixando para trás um rasto de cidades destruídas.

Carlos Martel passou a ser lembrado na História por ter vencido a Batalha de Poitiers ou de Tours em 732, tradicionalmente considerada a ação que salvou a Europa do expansionismo muçulmano que já havia conquistado a Península Ibérica. A partir de então não houve mais invasões muçulmanas nos territórios francos, e a vitória de Carlos Martel é considerada decisiva para a História Medieval na medida em que conteve a expansão islâmica nas fronteiras francas.

O filho de Carlos Martel Pepino o Breve [714 - 768], rei dos francos de 751 a 768, fazendo alianças com os aristocratas locais, tenta assumir o controlo de Septimania. Contudo, Narbona continuava a resistir, tendo suportado durante sete anos o cerco das forças de Pepino, até 759. Para estabelecer a sua legitimidade Pepino forjou alianças dinásticas com famílias merovíngias sobreviventes, que possuíam sangue real. Quilderico III [714 - 754] chamado o Idiota ou o Rei Fantasma, foi o 14º e último rei de todos os francos da dinastia merovíngia. O trono estava vago havia sete anos quando Pepino o Breve e seu irmão Carlomano decidiram reconhecer Quilderico como rei. Deve ter sido filho de Quilderico II, mas não se tem a certeza da sua relação com a família merovíngia.

E, para validar a sua condição, organizou a sua coroação de modo que ela fosse singularizada pelo ritual bíblico da unção, pelo qual a Igreja assumia a prerrogativa de criar reis. Recebeu para tal do Papa Gregório III o título de Herói da Cristandade. Pepino o Breve, Prefeito do Palácio do Reino Franco do Oriente, ou Austrásia 747 a 751, tomou as rédeas da totalidade do Reino e daria o nome de Império Carolíngio, em honra a seu pai Carlos Martel.

Mas havia ainda um outro aspeto do ritual de unção. Segundo estudiosos, a unção era uma tentativa de sugerir que a monarquia dos francos era uma réplica, ou mesmo a continuação, da monarquia judaica do Velho Testamento. Isto, em si, é extremamente interessante. Porque desejaria Pepino, o usurpador, legitimar-se por meio de uma referência bíblica? A menos que a dinastia deposta por ele - a merovíngia - tivesse sido legitimada da mesma forma.

Em 759 os judeus de Narbona haviam-se subitamente revoltado contra os defensores muçulmanos da cidade, atacando-os e abrindo os portões da fortaleza para os francos. Logo depois os judeus reconheceram Pepino como seu senhor e validaram a sua pretensão a uma sucessão bíblica legítima. A região do Rossilhão foi tomada pelos francos em 760. Pepino dirigiu-se então para o noroeste da Aquitânia, desencadeando assim a guerra contra Waifer, conquistando Albi e Toulouse, para além de outras. Em 768 foi criado um principado na Septimania - um principado judeu, que devia uma fidelidade nominal a Pepino, mas era essencialmente independente. Um governante foi oficialmente instalado como rei dos judeus – Teodorico I, ou Thierry, conde de Autun que casou com Auda de França, filha de Carlos Martel e irmã de Pepino o Breve. Nenhum documento menciona a ascendência de Teodorico. Os historiadores concordam que Rolanda e Bernardo são casados um com o outro e pais de Teodorico, conde de Autun

A Teodorico I sucede-lhe o filho – Guilherme de Orange [755 – 814], também conhecido como Guilherme de Aquitânia ou Guilherme de Gellone e segundo conde de Toulouse de 790 a 806. Tornou-se uma lenda a partir do século XII nas canções de gesta francesas, nas quais aparece lutando contra os muçulmanos e defendendo a Cristandade. 
Apesar de muitos episódios dos poemas estarem inspirados em factos reais, estes são em sua maioria derivados de lendas e da imaginação dos poetas medievais. Os vários poemas ao redor dos feitos de Guilherme são agrupados pelos estudiosos num ciclo literário chamado Ciclo de Guilherme de Orange ou também Ciclo de Garin de Monglane. Aba e Berta, citadas como religiosas em 804, uma delas foi provavelmente, casada com um nibelungida – Quildebrando II ou Nibelungo II. Tomou Barcelona em 803. Em 804 funda a Abadia de Saint-Guilhem-le-Désert. 




O filho de Guilherme de Orange - Bera - foi o primeiro conde de Barcelona. Segundo pesquisadores apócrifos, Teodorico era um descendente merovíngio. Segundo Arthur Zuckerman ele seria nativo de Bagdade, um "exilado", descendente de judeus que viviam na Babilónia. Também é possível que o "exilado" de Bagdade não fosse Teodorico. É possível que o "exilado" tenha vindo de Bagdade para consagrar Teodorico e que registos subsequentes tenham confundido os dois.

Nos anos que se seguiram, o reino judeu da Septimania gozou de uma existência próspera. Foi ricamente agraciado com territórios concedidos pelos monarcas carolíngios. Ganhou até lotes de terras que pertenciam à Igreja, apesar dos protestos vigorosos do papa Estevão III e de seus sucessores.

O território da Septimania passou para Luís o Piedoso, em 817. Luís I o Piedoso, rei dos Francos e do Império Romano-Germânico de 814 até à sua morte em 840, também foi rei da Aquitânia. O nobre franco, Bernat, foi o governante destas terras de 826 a 832. Para suprimir Berenguer de Toulouse e os catalães, Luís recompensou Bernat com uma série de condados: Narbona, Béziers, Agde, Magalona, Nîmes e Uzés.

Carlos o Calvo [823-877], filho de Luís o Piedoso, Carlos II, conseguiu a sua coroa francesa depois de uma guerra civil que havia começado no reinado de seu pai, assinando o Tratado de Verdun em 843 e adquirindo o terço ocidental do Império Carolíngio. Levantando-se contra Carlos o Calvo, em 843, Bernat foi preso em Toulouse e decapitado. O filho de Bernat, conhecido como Bernat de Gothia, também serviu como Conde de Barcelona e Girona e como Marquês de Gothia e Septimania de 865 a 878. Septimania ficou conhecida como Gothia. O reino é dividido em 865 em duas províncias com duas capitais: Barcelona e Narbona. 

Carlos o Calvo nasceu em Frankfurt, quando os seus irmãos mais velhos já eram adultos e lhes tinham sido atribuídos os seus próprios reinos, ou sub-reinos, por seu pai. As tentativas feitas por Luís o Piedoso para atribuir um sub-reino a Carlos, primeiro na Alemanha e depois no próprio país entre o Mosa e os Pirenéus (em 832, após a ascensão de Pepino I da Aquitânia) foram infrutíferas. As inúmeras reconciliações com os rebeldes Lotário e Pepino, assim como com o seu irmão, Luís o Germânico, rei da Baviera, fizeram da participação de Carlos na Aquitânia e na Itália apenas temporária, mas o seu pai não desistiu e fez Carlos o Calvo, o herdeiro de toda a terra que era na altura a Gália e que acabaria por ser a França. Numa dieta perto de Crémieux, em 837, Luís mandou os nobres fazerem uma homenagem a Carlos como seu herdeiro. Isto levou a uma insurreição final dos seus filhos contra ele. Pepino da Aquitânia morreu em 838, após o que Carlos finalmente recebeu esse reino, embora o filho de Pepino, Pepino II, fosse um espinho perpétuo ao seu lado.

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