Mia Couto, no conto "Um gentil Ladrão" - uma alegoria a estes tempos de Covid-19 - em que um velho solitário é visitado por um agente sanitário, e pensa que é um ladrão: confunde o termómetro com uma pistola. "Abro a Porta. É um homem mascarado. Ao notar a minha presença, ele grita: 'Três metros, fique a três metros'. Se é um assaltante, está com medo. Esse temor inquieta-me. Ladrões medrosos são os mais perigosos. [...] Então me vem à cabeça o nome da doença de que fala o visitante. Conheço bem essa doença. Chama-se indiferença. Era preciso um hospital do tamanho do mundo para tratar essa epidemia".
O Papa Francisco terá dito: "Se um padre se aperceber de genuínos distúrbios espirituais ... não deve hesitar em encaminhar a questão àqueles que, na diocese, são encarregues deste ministério delicado e necessário, a saber, os exorcistas". Os psiquiatras ficaram preocupados, mas depois acrescentou: "Naturalmente, deve-se ter o discernimento para se saber separar patologias psiquiátricas de possessões diabólicas, mas o fenómeno é real e em crescimento. Médicos, psicólogos e psiquiatras devem ser consultados se for apropriado, e a libertação deve ser acompanhada de cuidados pastorais contínuos e realizada com um mínimo de publicidade."
As diretrizes, atualizadas em 2012, referem que "o ministério de exorcismo e libertação só pode ser exercido por um padre autorizado pelo bispo diocesano". O documento acrescenta que os sacerdotes devem ser treinados em libertação de almas e que não devem praticar o ato de exorcismo sozinhos. Devem ainda estar cobertos por um seguro.Entre os conferencistas estava o padre Cesare Truqui - aluno do grande exorcista padre Gabriele Amorth. Truqui, considera que existem demónios especializados, mas que a possessão demoníaca é algo muito raro e que a esmagadora maioria das pessoas que o procuram têm problemas psiquiátricos. Das características mais distintivas dos possessos refere-se a fala de línguas estrangeiras sem que tenham sido aprendidas; uma força descomunal; conhecimento de coisas impossíveis de se conhecerem sem ser por contacto direto, como dizer o que alguém a grande distância tem vestido naquele momento. Outro "sinal" mencionado é o de reagir com grande violência a "coisas sagradas" - e ao próprio exorcismo. Para ele, "a luta contra o maligno, iniciada na origem do mundo, é destinada a durar até ao fim dos tempos”.
«O rito demora mais ou menos 20 minutos no meu caso. Os casos mais leves sento-os num sofá muito cómodo e as pessoas arrotam, vomitam, torcem-se, às vezes não é preciso segurar muito. Há casos médios em que já é preciso duas pessoas a segurá-los no sofá. E há os muito graves em que tenho uma marquesa, como os médicos, em que se deitam e cinco ou seis, os familiares, o marido, o que seja, seguram a pessoa. Às vezes é preciso tapar a boca porque os demónios cospem muito, mordem e é preciso cuidado. É preciso segurar os pés, os joelhos, a cabeça, para eu conseguir rezar. Se não se consegue segurar a pessoa eu não consigo rezar porque se gera uma grande confusão. E no fim de tudo gosto de invocar o sangue de Jesus. (...) Os demónios são orientados a determinado aspeto da vida da pessoa. Quando rezamos por isso explicitamente, ui, o demónio salta-lhe a tampa. E isso acelera a libertação porque estamos a pedir a Deus, ao sangue de Jesus, que venha exatamente sobre a raiz do problema. A pessoa nos casos mais leves está consciente, nos mais graves está em transe. Quando termina o exorcismo marca-se novo exorcismo. E os ataques diabólicos vão sendo menos frequentes e mais leves. O tempo que leva depende da sinceridade da conversão.»
«A convicção de que este poder maligno está no meio de nós é precisamente aquilo que nos permite compreender porque, às vezes, o mal tem uma força destruidora tão grande. É verdade que os autores bíblicos tinham uma bagagem conceptual limitada para expressar algumas realidades e que, nos tempos de Jesus, podia-se confundir, por exemplo, uma epilepsia com a possessão do demónio. Mas isto não deve levar-nos a simplificar demasiado a realidade afirmando que todos os casos narrados nos Evangelhos eram doenças psíquicas e que, em última análise, o demónio não existe ou não intervém. (...) Então, não pensemos que seja um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia. Este engano leva-nos a diminuir a vigilância, a descuidar-nos e a ficar mais expostos. O demónio não precisa de nos possuir. Envenena-nos com o ódio, a tristeza, a inveja, os vícios. E assim, enquanto abrandamos a vigilância, ele aproveita para destruir a nossa vida, as nossas famílias e as nossas comunidades, porque, "como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar.»
Mencionando oito vezes o "Maligno", duas vezes "Satanás" e 12 vezes "o Demónio", o Papa Francisco afirma:
«A vida cristã é uma luta permanente, e não apenas contra o mundo e a mentalidade mundana. Ou a própria fragilidade e as próprias inclinações. É uma luta constante contra o demónio, que é o príncipe do mal. Este não é um mito, um símbolo ou ideia.»
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