segunda-feira, 10 de junho de 2019

Cuidado com o encarniçamento terapêutico


Se fosse necessária uma teoria para explicar o valor da vida, nunca a encontraríamos. Estão sempre a surgir novas tecnologias que vêm afrontar o princípio contra as medidas heroicas de reanimação pouco sensatas em “velhinhos” frágeis, afásicos, hemiplégicos, eventualmente com Alzheimer, que se pudessem emitir a sua vontade quereriam morrer em paz. Princípio filosófico esse, mais sereno em relação à vida e ao seu sentido mais profundo, que se perdeu porque a competição económica desenfreada ditou que os educadores preterissem a disciplina da Filosofia nas escolas em prol das Matemáticas. Esses princípios filosóficos seguiam o preceito aristotélico do epistema – que diz respeito à aquisição de teorias; e da fronesis – que se refere à avaliação do caso singular. Daí aquelas duas máximas muito conhecidas: “médico que só sabe medicina nem medicina sabe”; e “em medicina cada caso é um caso”.

O receio de cometer erros, mas, mais do que isso, o receio de ser acusado de negligência tem como consequência a prática de uma medicina de declarada natureza defensiva, obrigando ao recurso a exames auxiliares desnecessários e potencialmente perigosos e, como consequência inevitável, o aumento da despesa pública.

É claro, outra coisa são os erros. Mas não nos podemos iludir com a utopia da medicina sem erros. Isso seria impossível porque a nossa ignorância é infinita. O que é possível é a margem de ignorância ser menor do que a que existe. E a ignorância deve ser combatida com o maior empenhamento de universidades, hospitais, órgãos profissionais e sociedades científicas. De um lado o pensamento estruturado e crítico. E do outro a praxis pela demonstração da competência.

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