terça-feira, 18 de junho de 2019

O Pensamento, com Colin McGinn


Colin McGinn, nascido em 1950 em West Hartlepool, Inglaterra, é um filósofo britânico atualmente a lecionar na Universidade de Miami. Também teve importantes funções no quadro docente da Universidade de Oxford e da Rutgers University, Universidade Estadual de Nova Jersei, é conhecido pelo seu trabalho na área da filosofia da mente, embora tenha escrito tópicos de outras áreas da filosofia.
O pensamento é essencialmente uma interação ou um entrelaçamento entre o cérebro e o ambiente; os pensamentos têm o conteúdo que têm por causa do mundo a que por acaso estamos anexados, e não o têm meramente em virtude dos nossos estados internos. Até hoje ainda ninguém foi capaz de produzir uma teoria completamente satisfatória que pusesse um fim ao eterno problema mente-corpo, também conhecido pelo problema da alma e do espírito em relação ao corpo. Daí alguns filósofos recentes, entre os quais se conta Colin McGinn, terem defendido a ideia de que a nossa pretensão monista era impossível, dado a realidade conter um “ingrediente” que não podemos conhecer. Por outras palavras, há um obstáculo insuperável com a nossa constituição intelectual que nos impede de descobrir a pista que falta. Eu, não indo tão longe, diria que o problema é mais da ordem conceptual do que da ordem cognitiva. Ora, sendo, de facto, muito misteriosa a forma como se dá a ligação entre o nosso cérebro e o ambiente, para produzir pensamento acerca do mundo verdadeiramente real, não parece que tenha de existir algum tipo de “cola” que anule esse tão contestado dualismo cartesiano.

As experiências percetivas dos objetos apresentam a aparência das coisas, aparência essa que está limitada apenas à superfície dos objetos. Mas o âmago da matéria, a sua composição molecular, só podemos aceder a ela por meios auxiliares artificias a que damos pelo nome de tecnologias. É quase uma tautologia subscrever aquilo que os físicos dizem da natureza do mundo: que a composição molecular dos objetos não se manifesta nas experiências percetivas normais.

A principal tese da Ciência Cognitiva desde a sua fixação nos termos da multidisciplinaridade dos anos 60 do século XX, que reuniu psicólogos e cientistas da linguagem, filósofos, matemáticos da computação e inteligência artificial, neurocientistas e até antropólogos, é que a mente funciona como um computador. Chomsky, o homem com a maior proeminência na área da linguagem, defendeu que o domínio da língua consiste numa competência interna da gramática, um sistema de representações simbólicas. Há uma estrutura simbólica na nossa cabeça, basicamente inatamente sediada, sem a qual não seríamos capazes de aprender a falar uma qualquer língua natural. E, pelo menos nas primeiras décadas em que a ciência cognitiva se afirmou, o aparelho cerebral da linguagem funcionava como um computador, sendo o cérebro parecido com o hardware a implementar um programa simbólico. As estruturas cerebrais onde funciona a linguagem seriam como uma máquina de calcular complexa, que a partir de informação limitada constrói elaboradas hipóteses com base nessa informação.

Por sua vez, David Courtnay Marr, um neurocientista e psicólogo britânico, integrou resultados da psicologia, inteligência artificial e neurofisiologia em novos modelos de processamento visual. Seu trabalho teve grande influência na neurociência computacional e levou a um ressurgimento de interesse neste campo. Marr morreu de leucemia em Cambridge, Massachusetts, com 35 anos, devido a leucemia. Seus achados estão reunidos no livro Visão: Uma investigação computacional da representação humana e do processamento de informação visual, publicado postumamente e reeditado em 2010 pela MIT Press. O sistema visual aplica, na tarefa de ver o mundo, várias hipóteses integradas, sem as quais não seria possível ver.

Tudo isto conduz a um enorme enriquecimento das nossas ideias sobre como a mente funciona. As nossas mentes permitem-nos ver objetos e compreender uma linguagem como se fossem as coisas mais simples do mundo; nada acerca da nossa compreensão consciente do que se está a passar nos dá qualquer indicação sobre o tipo de complexidade computacional que subjaz ao ato mais simples de perceção. Se a mente nada mais fosse do que a nossa compreensão consciente do que se passa, seríamos incapazes de ver o que quer que seja ou de processar a linguagem.

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