segunda-feira, 10 de junho de 2019

Médicos e enfermeiros vão ter um "botão de pânico"


Foi notícia há dois dias. Os médicos e os enfermeiros do Serviço Nacional de Saúde (SNS) vão ter um "botão de pânico" para acionarem sempre que se sentirem ameaçados por um utente. A violência contra os profissionais de saúde é considerada um problema emergente para a Organização Mundial de Saúde, sendo uma realidade não apenas em Portugal, mas em todo o mundo. A título experimental, já estão três unidades com este dispositivo de proteção. Depois serão implementadas, de uma forma gradual, em todo o país.

Os números reportados de episódios de violência (desde assédio moral a insultos e ameaças e até agressões físicas) indicam que o problema se está a agravar ou, pelo menos, que os profissionais se estão a queixar mais.

Mais de 500 casos de violência contra profissionais de saúde foram registados nos primeiros nove meses do ano passado, segundo dados da Direcção-Geral da Saúde. No terceiro trimestre de 2017, o sistema que regista os incidentes contra profissionais de saúde no local de trabalho tinha 3130 notificações, quando no final de 2016 as notificações não chegavam às 2700. Segundo os dados da Direcção-Geral da Saúde, a grande maioria dos incidentes de violência contra profissionais de saúde é relativo a assédio moral (75%), seguindo-se a violência física (11%) e a violência verbal (8%).

Entre as soluções propostas contam-se ações de proximidade com a comunidade, formação, alterações na sinalética, alterações de equipamentos e nos edifícios, “botões de pânico” ou campanhas de informação.

Desde sempre que se sabe que qualquer serviço de urgência de um hospital em qualquer parte do mundo é um campo de batalha. Daí ninguém se espantar com o turnover do pessoal das unidades de cuidados intensivos e de urgência ser muito maior do que em qualquer outra área de um hospital. Mas isso tem a ver com os próprios utentes – agredidos, violados, maltratados, batidos, crianças e velhos esquecidos e negligenciados – não com os profissionais de saúde. Agora trata-se dos próprios profissionais que sentem o doente como inimigo, profissionais esses que por via dos osos de ofício não era qualquer ameaça que os deitava abaixo (leia-se stress e burnout). Só nos primeiros seis meses deste ano, as notificações ascenderam a mais de quatro centenas, quando em 2017 o sistema online da DGS registou um total de 678 casos.

O stress de longas horas de trabalho em luta de trincheira contra a doença, contra o desastre. É importante reconhecer que o próprio exercício profissional é hoje em dia mito mais violento por via da tecnologia empregue. E violentas são também as escolhas morais que são impostas aos médicos pela limitação de recursos e pela pressão que a sociedade, melhor conhecedora dos seus direitos, por vezes com algum sentimento de abuso, os pressionam, para não dizer os obrigam com ameaças de tribunal, a virarem-se do avesso ao ponto de praticarem o uso de meios de diagnóstico e tratamento em excesso, com o fito de salvarem de algum modo a pele. Está bem demonstrado que nas sociedades avançadas há diferenças substanciais quanto à prestação dos cuidados médicos e que os economicamente mais privilegiados a eles têm acesso mais fácil.

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