quarta-feira, 12 de junho de 2019

Não vale tudo


No filme de Martin Scorsese – “Tudo Bons Rapazes” – o protagonista quase no começo lança a seguinte afirmação: “Desde que consigo lembrar-me, sempre quis ser um gangster”.

Estão a decorrer no Parlamento as audições na comissão de inquérito ao caso Caixa Geral de Depósitos. Nas últimas horas conheceu-se a versão de Filipe Pinhal que foi Presidente do BCP durante cerca de 6 meses. Disparando em todas as direções afirma: Houve uma teia urdida em vários pontos, que teve um diretório claro constituído por José Sócrates, Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio, e depois vários operacionais, cada um a fazer o seu papel”. Pinhal sugere que Berardo terá sido “influenciado”, para reforçar a posição no BCP e seguir uma determinada linha. José Sócrates, na TSF, desmente e fala em Velhaca maledicência”.

Não basta que alguém lhe apeteça ser algo para que tenha direito a sê-lo. Um dos requisitos mais claramente exigíveis a qualquer estilo de vida é que a sua realização não arraste consigo um ataque aos direitos dos outros, uma incursão devastadora nas suas liberdades. As metas pessoais cuja consecução envolve a infração das normas sociais de convivência não podem ter cabimento numa sociedade livre e justa. Uma forma de vida que é presidida por objetivos que, muito claramente, implicam prejudicar os outros não é uma forma de vida admissível, nem minimamente aceitável. É aqui que devemos rejeitar a falácia dos falsos apelos à tolerância.

Ronald Dworkin – 1931-2013, professor de Direito e Filosofia na Universidade de Nova Iorque e de jurisprudência na University College London – defende que não só as metas pessoais devem ser moralmente impolutas, mas que também devem sê-lo os meios que se empreguem para alcançar tais metas. Por mais que levemos uma vida excitante e centrada no umbigo, essa vida acaba por ser reprovável quando é construída sobre iniquidades que não podemos esconder da nossa consciência.

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