Sociólogos de algumas 'Escolas de Teoria', ainda muito influentes nos movimentos de ação política na rua, falam como se fossem oráculos da verdade gravada na pedra. Uma das suas proposições diz que os resultados da ciência, obtidos com muito trabalho, muita observação, experimentação e reflexão, não passam de 'narrativas' semelhantes aos mitos dos antigos gregos. São apenas acordos sociais.
Zeus interroga Métis: ‘Tu, que de facto, podes assumir todas as formas, poderias ser um leão que cospe fogo?’ De imediato Métis torna-se uma leoa que cospe fogo. Espetáculo aterrador. Zeus pergunta-lhe depois: ‘Poderias também ser uma gota d’água?’ ‘Claro que sim’. “Mostra-me”. E, mal ela se transforma em gota d´água, ele bebe a água. Pronto! Métis está na barriga de Zeus. Mais uma vez a astúcia funcionou.
Zeus, Júpiter ou Saturno não se contentam comer os seus eventuais sucessores, como havia feito Cronos, que agora encarna, no correr do tempo, no fluxo temporal, essa presciência ardilosa que permite desfazer antecipadamente os planos de qualquer um que tente surpreendê-lo ou derrotá-lo. Métis, grávida de Atena, está em sua barriga. Assim, Atena não vai sair do regaço da mãe, mas da cabeça do pai, que é agora tão grande quanto o ventre de Métis. Zeus dá uivos de dor. Prometeu e Hefesto são chamados a socorrê-lo. Chegam com um machado duplo, dão uma boa pancada na cabeça de Zeus e, aos gritos, Atena sai da cabeça de Deus, jovem donzela já toda armada, com o seu capacete, a sua lança, o seu escudo e a couraça de bronze. Atena é a deusa inventiva, cheia de astúcia. Ao mesmo tempo, toda a astúcia do mundo está agora concentrada na pessoa de Zeus.
Métis é o termo francês para "sangue misto", o equivalente de mestiço em português. Ora, as três províncias da pradaria do Canadá (Manitoba, Saskatchewan, Alberta) - bem como partes de Ontário, Colúmbia Britânica, Territórios do Noroeste e Estados Do Norte - são as únicas em que a ascendência da população é mista: indígena e europeia de predomínio francês. Os canadianos consideram ser uma cultura distinta, um dos três grupos de povos indígenas canadenses. Comunidades menores, que se autoidentificam como Métis, existem no Canadá e nos Estados Unidos. É o caso da Pequena Tribo da Concha dos Índios Chippewa. Há um debate até mesmo dentro da Pequena Concha sobre se os Métis devem mesmo ser autorizados a se inscrever. Embora haja muita história e território compartilhados entre os Ojibwe e os Métis de Montana. A etnogénese Métis começou no comércio de peles. É um grupo importante na história do Canadá, bem como na fundação da província de Manitoba. A Nação Métis tem a pátria em Montana, bem como no Oeste do Canadá, região que foi dividida aquando do desenho da fronteira EUA-Canadá no paralelo norte 49. Alberta é a única província do Canadá em que é reconhecida base territorial da Nação Métis; os oito Assentamentos da Nação Métis, com uma população de aproximadamente 5.000 pessoas em 1,25 milhões de acres (5060 km2).
Podendo parecer apenas um mero exercício de política identitária, todavia, na prática da vida dessas pessoas tem implicações sérias. Os grupos Métis no Canadá têm exigido, e em alguns casos receberam, muitos dos direitos que são atribuídos às minorias nacionais tradicionalmente tratados segundo o estatuto de índio. Por exemplo, ao índio é-lhe dada permissão para caçar fora das temporadas estabelecidas para caçar. A questão sobre quem conta como Métis, contudo, é um tanto complicada. Durante o período inicial de colonização do Canadá, houve um período de aproximadamente duzentos anos em que os únicos europeus que entraram no território oeste dos grandes lagos eram viajantes e comerciantes de peles. Centenas deles se fixaram ao longo dos sistemas de rios e lagos que garantiam acesso ao interior do continente.
Então, como defende Andersen, há óbvias estratégias argumentativas que podiam ser utilizadas. Por exemplo, não faz sentido usar o termo "ancestralidade mista" dado que esta definição para propósitos legais ou constitucionais, é esvaziada na medida em que toda a população canadense-francesa tem ancestralidade mista. Se seguirmos a análise influente de Will Kymlicka sobre os direitos de minorias nacionais, mostra-se então que só os Métis do “Rio Vermelho” se classificam como grupo nacional. Infelizmente, Andersen não faz nenhuma dessas coisas. Em vez disso, argumenta que a definição em termos de “ancestralidade mista”, ao se focar na herança racial, comete o mesmo erro da posição colonialista. A ideologia racial é uma ideologia insidiosa, um ‘habitus’ colonial que, profundamente arraigado, molda de forma poderosa os nossos entendimentos do mundo social. Desse modo, as pessoas que subscrevem a definição de “ancestralidade mista” estão na realidade reproduzindo a “lógica soberana da violência” do colonialismo, bem como se engajando na “biopolítica do colono”.
Em outras palavras, em vez de tentar persuadir os seus oponentes por meio de boa e sólida argumentação, Andersen basicamente usa argumentos de autoridade ou argumentum ad hominem. Não estão apenas enganados sobre a melhor interpretação do termo; estão também infligindo violência simbólica contra o corpo do sujeito colonizado. Ou, para colocar as coisas em termos mais prosaicos: são um bando de racistas. E os Métis, como Maria Campbell, que usam o termo no sentido de “ancestralidade mista” foram “seduzidos” pela lógica do colonialismo.
Podendo parecer apenas um mero exercício de política identitária, todavia, na prática da vida dessas pessoas tem implicações sérias. Os grupos Métis no Canadá têm exigido, e em alguns casos receberam, muitos dos direitos que são atribuídos às minorias nacionais tradicionalmente tratados segundo o estatuto de índio. Por exemplo, ao índio é-lhe dada permissão para caçar fora das temporadas estabelecidas para caçar. A questão sobre quem conta como Métis, contudo, é um tanto complicada. Durante o período inicial de colonização do Canadá, houve um período de aproximadamente duzentos anos em que os únicos europeus que entraram no território oeste dos grandes lagos eram viajantes e comerciantes de peles. Centenas deles se fixaram ao longo dos sistemas de rios e lagos que garantiam acesso ao interior do continente.
Esses homens casaram com mulheres indígenas e tiveram crianças. Isso significou que, quando os britânicos começaram a colonizar o oeste, começando pelo que hoje é Manitoba, encontraram não apenas tribos indígenas, mas também comunidades Métis fixadas e descendentes desses homens que casaram com mulheres indígenas. Estes grupos resistiram à colonização numa série de rebeliões bem conhecidas. Por conta disso, no entanto, o termo Métis passou a ter contornos de significado com alguma ambiguidade. Assim, o termo 'mulato' é frequentemente utilizado como o termo para referir alguém de ancestralidade mista (nesse caso, europeu e índio). Ainda assim, no sentido político e constitucional, o termo refere uma minoria étnica nacional, nomeadamente a população especificamente localizada no vale do Rio Vermelho e em seu redor, que foi involuntariamente incorporada à federação canadense. O objetivo principal de Andersen, no livro, é defender esta última definição, mais restritiva, do termo “Métis”. Embora haja certamente quem conteste, é importante notar que se trata de uma posição perfeitamente razoável.
Então, como defende Andersen, há óbvias estratégias argumentativas que podiam ser utilizadas. Por exemplo, não faz sentido usar o termo "ancestralidade mista" dado que esta definição para propósitos legais ou constitucionais, é esvaziada na medida em que toda a população canadense-francesa tem ancestralidade mista. Se seguirmos a análise influente de Will Kymlicka sobre os direitos de minorias nacionais, mostra-se então que só os Métis do “Rio Vermelho” se classificam como grupo nacional. Infelizmente, Andersen não faz nenhuma dessas coisas. Em vez disso, argumenta que a definição em termos de “ancestralidade mista”, ao se focar na herança racial, comete o mesmo erro da posição colonialista. A ideologia racial é uma ideologia insidiosa, um ‘habitus’ colonial que, profundamente arraigado, molda de forma poderosa os nossos entendimentos do mundo social. Desse modo, as pessoas que subscrevem a definição de “ancestralidade mista” estão na realidade reproduzindo a “lógica soberana da violência” do colonialismo, bem como se engajando na “biopolítica do colono”.
Em outras palavras, em vez de tentar persuadir os seus oponentes por meio de boa e sólida argumentação, Andersen basicamente usa argumentos de autoridade ou argumentum ad hominem. Não estão apenas enganados sobre a melhor interpretação do termo; estão também infligindo violência simbólica contra o corpo do sujeito colonizado. Ou, para colocar as coisas em termos mais prosaicos: são um bando de racistas. E os Métis, como Maria Campbell, que usam o termo no sentido de “ancestralidade mista” foram “seduzidos” pela lógica do colonialismo.
O profundo relacionamento entre a sociedade canadense, subsumindo práticas racializadas em praticamente todos os setores da sociedade canadense, significa que é moldada de forma poderosa não apenas como uns são tratados por outros, mas também a forma subjetiva como cada um se reconhece.
Dizer: “eu acredito em X, e quem discorda de mim é um racista” - não é exatamente um convite ao diálogo. De facto, é a maneira perfeita de envenenar qualquer conversa. Sem saber como defender uma posição normativa, recorre-se ao assassinato de caráter e à intimidação de quem discorda. Muitas pessoas simplesmente, não tendo bons argumentos, ou tempo e paciência para entrar num diálogo frutuoso, adotam a estratégia muito básica e primária do insulto, com a acusação de o adversário ser racista.
Sem comentários:
Enviar um comentário