No Afeganistão, depois de 2001, quem fosse de sul para norte, de Cabul para Mazar-i-Sharif, tinha de atravessar uma parte das montanhas Hindu Kush, 450 Km de estrada que levam pelo menos 12 horas a atravessar. Primeiro atravessa-se a planície de Shomali, paisagem que foi fustigada por um marcante cenário de guerra. Aqui ninguém chorou os talibãs mortos na beira da estrada ou na areia devido aos bombardeamentos americanos. Os talibãs haviam aterrorizado o povo da planície de Shomali durante anos. A planície foi a linha da frente entre os talibã e os homens de Massoud, da Aliança do Norte, durante os cinco anos do regime talibã em que o poder trocou de mãos seis a sete vezes. Como a linha da frente estava sempre a mudar de lugar, o povo local teve de fugir, ou para o vale de Panshir, ou para o sul, no caminho de Cabul. A maioria dos habitantes era de etnia tajique, Quem não conseguia fugir arriscava ser vítima da limpeza étnica talibã. Os talibã na retirada envenenaram os poços e explodiram condutas de água e sistemas de barragens, essenciais na planície também fustigada pela seca, que antes da guerra civil fazia parte da área agrícola que circundava Cabul.
Quando se começa a subir em direção ao túnel Salang a estrada sobe vertiginosamente para o túnel mais alto do mundo. Ela se estreita, de um lado um paredão montanhoso e do outro água corrente, às vezes em cachão, outras vezes como um riacho. Nos lugares mais improváveis há tanques de guerra queimados. A maioria são da guerra contra a União Soviética, quando o Exército Vermelho avançou a partir das repúblicas soviéticas do Norte, pensando que tinha os afegãos sob controlo. Os russos foram logo vítimas das táticas de guerrilha astuciosas dos mujahidins, que se deslocavam como cabritos pelas montanhas. De longe, dos postos de vigia, podiam ver os pesados tanques russos se arrastando no fundo do vale. Mesmo com armas caseiras, os guerrilheiros eram praticamente invulneráveis quando atacavam de emboscada. Os soldados estavam por toda a parte, disfarçados de pastores, com kalashnikov escondidos sob o ventre dos cabritos.
O túnel de Salang, começa a 3.400 metros acima do nível do mar, e as galerias vão até 5.000 metros de altitude. Foram oferecidas ao Afeganistão pela União Soviética. As obras foram iniciadas por engenheiros russos em 1956. Os túneis ficaram prontos em 1964.
Também foram os russos que começaram a asfaltar as primeiras estradas do país, nos anos 1950. Durante o regime de Zahir Khan, o Afeganistão era um país amigo dos russos. O rei liberal viu-se forçado a apelar para a União Soviética porque nem os EUA nem a Europa achavam interessante investir num país daqueles. O rei precisava de ajuda financeira e tecnologia, e estava pouco preocupado com ideologias.
O túnel de Salang, no final dos anos 1990, foi explodido pelo mujahidin Massoud, numa última tentativa desesperada de conter o avanço talibã para o norte. Cinquenta pessoas ficaram presas no túnel por causa de uma avalanche de neve. Fazia vinte graus abaixo de zero e o motorista deixou o motor ligado para manter o calor. Depois de horas, quando retiraram a neve, encontraram os corpos de umas dez ou vinte pessoas que tinham adormecido devido ao monóxido de carbono, mortas por envenenamento.
Após um tempo que parece uma eternidade a subir, começa-se a descer em direção a Mazar-i-Sharif, e aparecem as planícies sem neve, e as últimas horas antes de lá chegar passam depressa. Uma viagem feita em 12 horas. Hazrat Ali Mazar parece uma revelação, iluminada no escuro.
O primeiro santuário conhecido neste local foi construído pelo sultão da dinastia Seljuq, Ahmed Sanjar. Foi destruído ou escondido sob aterro de barro durante a invasão de Gengis Khan por volta de 1220. É uma lenda local, embora nenhuma evidência tenha sido encontrada para apoiar esta alegação. No século XV, foi construída uma mesquita sobre o túmulo de Hazrat Ali. É de longe o marco mais importante de Mazar-i-Sharif e acredita-se que o nome da cidade se origina deste santuário. Túmulos de dimensões variadas foram adicionados por vários líderes políticos e religiosos afegãos ao longo dos anos, o que levou ao desenvolvimento de suas dimensões irregulares atuais.
Hazrat
Ali Mazar, a mesquita azul que os muçulmanos sunitas acreditam conter o
túmulo de Ali ibn Abi Talib, o seu quarto califa guiado. O local
também é onde muitos peregrinos celebram anualmente Nauruz (cerimónia anual de
Jahenda Bala) uma bandeira sagrada é hasteada em homenagem a Hazrat Ali. As
pessoas tocam a bandeira para dar sorte no Ano Novo. Quando Hazrat Ali foi
martirizado, os afegãos acreditavam que o seu corpo foi levado e enterrado na
cidade afegã de Mazar-i-Sharif. Ali foi supostamente trazido para aqui por um
camelo branco, a fim de salvar os restos mortais da profanação por seus
inimigos. No entanto, os muçulmanos xiitas acreditam que Hazrat Ali está
enterrado na Mesquita Imam Ali em Najaf, no Iraque. Alternativamente, o
personagem enterrado no santuário pode ter precedido o Islão. Identificar o
santuário com Hazrat Ali poderia provavelmente ser um mito para garantir que o
túmulo seria protegido e honrado pelo estabelecimento islâmico. Estudos
históricos confirmam que o dono do santuário é o Ali bin Abi Talib Al-Balkhi,
capitão dos Alevis em Balkh durante o seu tempo.
O primeiro santuário conhecido neste local foi construído pelo sultão da dinastia Seljuq, Ahmed Sanjar. Foi destruído ou escondido sob aterro de barro durante a invasão de Gengis Khan por volta de 1220. É uma lenda local, embora nenhuma evidência tenha sido encontrada para apoiar esta alegação. No século XV, foi construída uma mesquita sobre o túmulo de Hazrat Ali. É de longe o marco mais importante de Mazar-i-Sharif e acredita-se que o nome da cidade se origina deste santuário. Túmulos de dimensões variadas foram adicionados por vários líderes políticos e religiosos afegãos ao longo dos anos, o que levou ao desenvolvimento de suas dimensões irregulares atuais.
O turismo, outrora uma das mais importantes fontes de renda do Afeganistão, hoje pertence ao passado. Jovens progressistas e nem tão progressistas vinham ali para encontrar uma bela paisagem, um estilo de vida selvagem e o melhor haxixe do mundo. E ópio para os mais experientes. Nos anos 1960 e 1970, milhares de hippies vinham anualmente para o país montanhoso. Alugavam Ladas antigos e partiam. Também mulheres viajavam sozinhas pelas montanhas. Na época, já havia bandidos e ladrões de estrada, mas isto só tornava a viagem ainda mais emocionante. Nem o golpe contra Zahir Shah, em 1973, conseguiu impedir o fluxo dos turistas. Só o golpe comunista de 1978 e a invasão no ano seguinte colocaram um fim brusco aos trilhos dos aventureiros.
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