Theodor Herzl - 1904
Herzl nasceu em Pest, então parte do Reino da Hungria, de uma próspera família judia Neolog. Após uma breve carreira jurídica em Viena, tornou-se correspondente em Paris do jornal vienense Neue Freie Presse. Em 1878 a sua família mudou-se para Viena. Ele formou-se em Direito em 1884 e o seu trabalho inicial não tinha qualquer relação com a vida judaica, pois trabalhava como tarefeiro nos tribunais de Viena e Salzburgo. Ele queria muito ser um juiz em Salzburgo, mas a sua condição de judeu não o permitia.
Em 1891 o jornal Neue Freie Presse ofereceu-lhe um cargo de correspondente em Paris. Ele aceitou o cargo, expressando, nesta época, as suas ideias num pequeno livro. Nesse cargo ele fazia ocasionalmente viagens a Londres e Constantinopla. O seu trabalho era inicialmente do género da crítica literária, descritivo e não político. Mais tarde ele tornou-se o editor literário do Neue Freie Presse. Herzl tornou-se simultaneamente um escritor de peças destinadas aos palcos vienenses, tendo sido autor de comédias e dramas.
O uso do termo "sionismo" surgiu durante um debate público realizado na cidade de Viena, na noite de 23 de janeiro de 1892, e foi cunhado por Nathan Birnbaum, um escritor judeu local que fundara em 1885 a revista “Selbstemanzipation!” (Autodeterminação!). No entanto, considera-se que o "Pai do sionismo" tenha sido Theodor Herzl. Em 1894, cobriu o Caso Dreyfus, que desvelou na Europa o latente antissemitismo. Em 1895escreveu o célebre livro Der Judenstaat ("O Estado Judeu"). A principal ideia do livro era que a melhor maneira de formar um Estado judeu era a criação de um Congresso Sionista. Pouco tempo depois já havia formado o "Sionismo Político".
Em 1897, Herzl convocou o Primeiro Congresso Sionista em Basileia, e foi eleito presidente da Organização Sionista. Ele iniciou uma série de iniciativas diplomáticas pedindo apoio para um Estado judeu. Junto do imperador alemão, Guilherme II, e do sultão otomano Abdul Hamid II, não teve sucesso. No Sexto Congresso Sionista em 1903, o Secretário Colonial Joseph Chamberlain, em nome do governo britânico, propunha o Uganda para a formação do Estado Judaico. Após o pogrom de Kishinev, foi recebida com forte oposição, pelo que foi liminarmente rejeitada.
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O termo "sionismo" é derivado da palavra "Sion" que, em hebraico, quer dizer elevado. Originalmente, Sião ou Zion era o nome de uma das colinas que cercam Jerusalém, onde existiu uma fortaleza do mesmo nome. Durante o reinado de David, Sião tornou se sinónimo de Jerusalém ou Terra de Israel. Em muitas passagens bíblicas, os israelitas são chamados de "filhos (ou filhas) de Sião". No Livro de Isaias, 62-1 -- o nome de Sião figura diversas vezes como equivalente para todo aquele que crê no Deus de Israel: Por amor de Sião não me calarei, e por amor de Jerusalém não me aquietarei, até que saia a sua justiça como um resplendor, e a sua salvação como uma tocha acesa. O século XIX foi uma época de irrupções nacionalistas em todo o mundo. Gregos, italianos, polacos, alemães e sul-americanos, entre outros, estabeleceram os seus movimentos nacionais em busca de singularidade política, étnica e cultural. Seguindo estes modelos, o sionismo foi o mais recente dos processos de renascença nacional a despertar na Europa.
A partir do Segundo Congresso Sionista, realizado em 1898, surgiram os Sionistas Socialistas, inicialmente um grupo minoritário, em sua maioria oriunda da Rússia, mas que exigiu representação na Organização Sionista Mundial. A presença dos sionistas socialistas seria cada vez maior, chegando à maioria dos delegados a partir do 18º Congresso, realizado em Praga, em 1933. Os sionistas socialistas formariam o principal núcleo político dos fundadores do Estado de Israel, gerando futuros líderes como David Ben-Gurion, Moshe Dayan, Golda Meir, Yitzhak Rabin e Shimon Peres. Alguns pensadores fundamentais para o conhecimento do sionismo socialista são Dov Ber Borochov e Aaron David Gordon. Ambos, porém, encontram em Moses Hess uma origem da combinação de um estado judeu e socialista. Diferentemente dos primeiros sionistas reunidos por Herzl, os sionistas socialistas não acreditavam que o Estado Judaico seria criado apelando à comunidade internacional, mas através da luta de classes e dos esforços da classe trabalhadora judaica na Palestina. Os socialistas pregavam o estabelecimento dos kibbutzim (fazendas agrícolas coletivas) no campo e de um proletariado nas grandes cidades.
A cisão da Organização Sionista pelos socialistas provocou a formação de um segundo bloco, a que se chamou de “Sionistas Políticos”, que tal como Herzl e também Chaim Weizmann, preconizavam a independência do Estado Judeu pela via diplomática. Em busca disso, o próprio Herzl encontrou-se com o Kaiser Guilherme II da Alemanha e com o sultão Abdulamide II da Turquia, com os quais pediu o apoio de seus países para o estabelecimento do Estado Judeu na Palestina. Após a morte de Theodor Herzl, em 1904, e com o fracasso de uma solução negociada para a independência do Estado Judeu, o sionismo político foi perdendo importância dentro da Organização Sionista.
Os maiores opositores dos sionistas socialistas seriam os sionistas revisionistas, que surgiram em 1925, liderados por Vladimir Ze'ev Jabotinsky, um filósofo liberal que pretendia reviver na Organização Sionista “o espírito e a doutrina de Herzl. Para os sionistas revisionistas, o Estado Judeu só seria viabilizado com a organização dos judeus em frentes paramilitares que combatessem, simultaneamente, a presença britânica na Palestina (a partir de 1917) e a resistência armada dos árabes muçulmanos da Palestina, que vinham atacando pessoas e propriedades dos sionistas. Os revisionistas também combatiam os socialistas, pois pregavam uma ideologia liberal e democrática (contrária ao marxismo) dentro da Organização Sionista e a defendiam para o futuro Estado Judeu.
O sionismo religioso combina o sionismo e o judaísmo religioso, baseando o sionismo nos princípios da Torá, Talmud e outros. Dizia-se que Moisés defendia ideias protonacionalistas na Torá desde que ele fugiu do Egito Antigo. Numa acepção menos comum, o termo pode também se referir ao sionismo cultural, proposto por Ahad Ha'am, e ao apoio político dado ao Estado de Israel por não judeus, tal como no sionismo cristão. Relativamente às críticas dirigidas ao sionismo, de que seria um movimento de cunho racista, tal não colhia porque palestinos e judeus não são racialmente distintos.
O termo "sionismo" é derivado da palavra "Sion" que, em hebraico, quer dizer elevado. Originalmente, Sião ou Zion era o nome de uma das colinas que cercam Jerusalém, onde existiu uma fortaleza do mesmo nome. Durante o reinado de David, Sião tornou se sinónimo de Jerusalém ou Terra de Israel. Em muitas passagens bíblicas, os israelitas são chamados de "filhos (ou filhas) de Sião". No Livro de Isaias, 62-1 -- o nome de Sião figura diversas vezes como equivalente para todo aquele que crê no Deus de Israel: Por amor de Sião não me calarei, e por amor de Jerusalém não me aquietarei, até que saia a sua justiça como um resplendor, e a sua salvação como uma tocha acesa. O século XIX foi uma época de irrupções nacionalistas em todo o mundo. Gregos, italianos, polacos, alemães e sul-americanos, entre outros, estabeleceram os seus movimentos nacionais em busca de singularidade política, étnica e cultural. Seguindo estes modelos, o sionismo foi o mais recente dos processos de renascença nacional a despertar na Europa.
A partir do Segundo Congresso Sionista, realizado em 1898, surgiram os Sionistas Socialistas, inicialmente um grupo minoritário, em sua maioria oriunda da Rússia, mas que exigiu representação na Organização Sionista Mundial. A presença dos sionistas socialistas seria cada vez maior, chegando à maioria dos delegados a partir do 18º Congresso, realizado em Praga, em 1933. Os sionistas socialistas formariam o principal núcleo político dos fundadores do Estado de Israel, gerando futuros líderes como David Ben-Gurion, Moshe Dayan, Golda Meir, Yitzhak Rabin e Shimon Peres. Alguns pensadores fundamentais para o conhecimento do sionismo socialista são Dov Ber Borochov e Aaron David Gordon. Ambos, porém, encontram em Moses Hess uma origem da combinação de um estado judeu e socialista. Diferentemente dos primeiros sionistas reunidos por Herzl, os sionistas socialistas não acreditavam que o Estado Judaico seria criado apelando à comunidade internacional, mas através da luta de classes e dos esforços da classe trabalhadora judaica na Palestina. Os socialistas pregavam o estabelecimento dos kibbutzim (fazendas agrícolas coletivas) no campo e de um proletariado nas grandes cidades.
A cisão da Organização Sionista pelos socialistas provocou a formação de um segundo bloco, a que se chamou de “Sionistas Políticos”, que tal como Herzl e também Chaim Weizmann, preconizavam a independência do Estado Judeu pela via diplomática. Em busca disso, o próprio Herzl encontrou-se com o Kaiser Guilherme II da Alemanha e com o sultão Abdulamide II da Turquia, com os quais pediu o apoio de seus países para o estabelecimento do Estado Judeu na Palestina. Após a morte de Theodor Herzl, em 1904, e com o fracasso de uma solução negociada para a independência do Estado Judeu, o sionismo político foi perdendo importância dentro da Organização Sionista.
Os maiores opositores dos sionistas socialistas seriam os sionistas revisionistas, que surgiram em 1925, liderados por Vladimir Ze'ev Jabotinsky, um filósofo liberal que pretendia reviver na Organização Sionista “o espírito e a doutrina de Herzl. Para os sionistas revisionistas, o Estado Judeu só seria viabilizado com a organização dos judeus em frentes paramilitares que combatessem, simultaneamente, a presença britânica na Palestina (a partir de 1917) e a resistência armada dos árabes muçulmanos da Palestina, que vinham atacando pessoas e propriedades dos sionistas. Os revisionistas também combatiam os socialistas, pois pregavam uma ideologia liberal e democrática (contrária ao marxismo) dentro da Organização Sionista e a defendiam para o futuro Estado Judeu.
O sionismo religioso combina o sionismo e o judaísmo religioso, baseando o sionismo nos princípios da Torá, Talmud e outros. Dizia-se que Moisés defendia ideias protonacionalistas na Torá desde que ele fugiu do Egito Antigo. Numa acepção menos comum, o termo pode também se referir ao sionismo cultural, proposto por Ahad Ha'am, e ao apoio político dado ao Estado de Israel por não judeus, tal como no sionismo cristão. Relativamente às críticas dirigidas ao sionismo, de que seria um movimento de cunho racista, tal não colhia porque palestinos e judeus não são racialmente distintos.
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Herzl estava com problemas de saúde. Sofria de malária, com insuficiência respiratória e cardíaca. Seguindo o conselho dos médicos, em 3 de junho, entrou no sanatório em Edlach on theSemmering, acompanhado da esposa. Em julho contraiu uma pneumonia. Ele estava com febre, hemoptises, consciência diminuída. Em 2 de julho, ele foi visitado pelo Rev. Hechler. Morreu em 3 de julho de 1904, às 17:00, devido a uma pneumonia, aos 44 anos. A cobertura do funeral na imprensa hebraica foi retratada como um grande evento mediático.
Herzl estava com problemas de saúde. Sofria de malária, com insuficiência respiratória e cardíaca. Seguindo o conselho dos médicos, em 3 de junho, entrou no sanatório em Edlach on theSemmering, acompanhado da esposa. Em julho contraiu uma pneumonia. Ele estava com febre, hemoptises, consciência diminuída. Em 2 de julho, ele foi visitado pelo Rev. Hechler. Morreu em 3 de julho de 1904, às 17:00, devido a uma pneumonia, aos 44 anos. A cobertura do funeral na imprensa hebraica foi retratada como um grande evento mediático.
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O que é que os judeus têm de tão especial, que passados três mil anos (arredondando) continua a haver muito boa gente nos dias de hoje que não gosta nada deles. Porquê? O que há neles de tão profundo? Esta é uma pergunta muito complexa, que toca em história, religião, cultura, psicologia coletiva e até em preconceitos que atravessam os séculos. Desde cedo, os judeus se distinguiram por uma identidade religiosa, cultural e legal muito coesa. Enquanto outros povos da Antiguidade foram absorvidos ou desapareciam, os judeus mantiveram práticas próprias (alimentação, circuncisão, monoteísmo rigoroso). Isso chamava a atenção, porque eram “diferentes demais” dentro de sociedades politeístas. Esse "não se deixar assimilar" gerou, historicamente, tanto respeito como hostilidade.
O monoteísmo judaico foi radical para o seu tempo. Rejeitaram deuses alheios, o que foi visto como afronta direta à ordem política e religiosa dominante. Roma, por exemplo, considerava crime não cultuar os deuses cívicos. Mais tarde, com o cristianismo, surgiu o peso da acusação de “povo deicida” - por terem rejeitado e "matado" Jesus, conotado como falso Messias. Durante séculos, isso alimentou perseguições, expulsões e massacres na Europa. Quando o Islão ascendeu ao ponto de ter criado um império árabe, embora houvesse períodos de convivência com os judeus devido ao seu papel como “Povo do Livro”. Seja como for, onde quer que estivessem, os judeus não passavam de uma minoria distinta. Minorias, sobretudo quando bem organizadas e resilientes, tendem a despertar desconfiança. Os judeus eram frequentemente colocados em papéis sociais específicos (comércio, cobrança de impostos, finanças), porque outras profissões lhes eram vedadas. Isso criava a imagem estereotipada de “manipuladores de dinheiro”. Num mundo de desigualdade, é fácil que uma minoria visível seja transformada em bode expiatório.
O monoteísmo judaico foi radical para o seu tempo. Rejeitaram deuses alheios, o que foi visto como afronta direta à ordem política e religiosa dominante. Roma, por exemplo, considerava crime não cultuar os deuses cívicos. Mais tarde, com o cristianismo, surgiu o peso da acusação de “povo deicida” - por terem rejeitado e "matado" Jesus, conotado como falso Messias. Durante séculos, isso alimentou perseguições, expulsões e massacres na Europa. Quando o Islão ascendeu ao ponto de ter criado um império árabe, embora houvesse períodos de convivência com os judeus devido ao seu papel como “Povo do Livro”. Seja como for, onde quer que estivessem, os judeus não passavam de uma minoria distinta. Minorias, sobretudo quando bem organizadas e resilientes, tendem a despertar desconfiança. Os judeus eram frequentemente colocados em papéis sociais específicos (comércio, cobrança de impostos, finanças), porque outras profissões lhes eram vedadas. Isso criava a imagem estereotipada de “manipuladores de dinheiro”. Num mundo de desigualdade, é fácil que uma minoria visível seja transformada em bode expiatório.
O judaísmo sempre deu enorme importância ao estudo, à palavra escrita e à interpretação, como é exemplificado com o Talmude, um paradigma de exegese. Essa ênfase no saber produziu ao longo dos séculos um número desproporcional de figuras marcantes em filosofia, ciência, política e artes. Isso tanto gerou admiração como inveja e ressentimento. Como o ser humano, por inerência, é dado a interpretações, essa natureza cognitiva teve como efeito colateral o fomento de superstições e teorias da conspiração. O que não deixa de ser extraordinário é a sua resiliência histórica -- sobrevivência ao exílio, à diáspora, à Shoah. É incomensurável a força simbólica que carregam. Tudo isso nos leva a concluir que a hostilidade é algo de profundo na relação humana para com povos minoritários e antigos, distintos. Daí que a resistência e resiliência dos judeus desperte simultaneamente admiração e aversão.
Focando neste momento mais a parte histórica e política, deixando temporariamente de lado a teologia, o problema já está bem documentado no tempo do Império Romano. O facto de se recusarem a participar no culto imperial foi visto como deslealdade política. As revoltas judaicas contra Roma (66–70 e 132–135 d.C.) constituem o marco decisivo do seu destino na diáspora. Diáspora tão atribulada durante tantos séculos depois da brutal destruição do Templo. O Templo ainda hoje é uma marca visível da sua origem identitária. Durante toda a Idade Média muitas profissões estavam vedadas aos judeus (propriedade da terra, cargos políticos, universidades). Restava-lhes comércio, artesanato e finanças. Isso acabou por ligá-los ao crédito, atividade malvista, mas indispensável. Reis e nobres muitas vezes usavam os judeus como cobradores de impostos e banqueiros da coroa. E depois, para agradar ao povo, ou para não lhes pagar as dívidas, expulsavam-nos através de pogroms.
Entretanto, nos séculos XIX e XX, com o culminar da modernidade, os judeus ganharam cidadania em muitos países europeus. Isso libertou-os dos guetos, mas também desencadeou o antissemitismo racial. No século XIX, com o advento dos nacionalismos, os judeus deixaram de ser perseguidos só pela religião. Agora eram vistos como uma “raça inferior ou corruptora”. O caso Dreyfus em França (1894) revelou como até um oficial patriota podia ser considerado traidor apenas por ser judeu. O panfleto falso “Protocolos dos Sábios de Sião” (1903) espalhou a teoria da conspiração de que os judeus tramavam dominar o mundo. O nazismo levou o antissemitismo racial ao extremo: a ideia de “solução final” significava o extermínio físico dos judeus da Europa = Shoah ou Holocausto. Seis milhões (1941–1945) passaram pelos campos de concentração e em sequência exterminados pela via da cremação. Paradoxalmente, isso reforçou ainda mais a singularidade da História Judaica, porque nenhuma outra minoria europeia foi alvo de um plano tão sistemático de destruição.
Focando neste momento mais a parte histórica e política, deixando temporariamente de lado a teologia, o problema já está bem documentado no tempo do Império Romano. O facto de se recusarem a participar no culto imperial foi visto como deslealdade política. As revoltas judaicas contra Roma (66–70 e 132–135 d.C.) constituem o marco decisivo do seu destino na diáspora. Diáspora tão atribulada durante tantos séculos depois da brutal destruição do Templo. O Templo ainda hoje é uma marca visível da sua origem identitária. Durante toda a Idade Média muitas profissões estavam vedadas aos judeus (propriedade da terra, cargos políticos, universidades). Restava-lhes comércio, artesanato e finanças. Isso acabou por ligá-los ao crédito, atividade malvista, mas indispensável. Reis e nobres muitas vezes usavam os judeus como cobradores de impostos e banqueiros da coroa. E depois, para agradar ao povo, ou para não lhes pagar as dívidas, expulsavam-nos através de pogroms.
Pogroms famosos aconteceram com as Cruzadas, depois no tempo da Peste Negra (1348–49) em que foram acusados de envenenar os poços da água. Houve um tempo no mundo muçulmano em que os judeus eram considerados dhimmi (povo protegido). Mas em condição de subordinação e pagando impostos especiais. Mesmo assim, não escaparam a episódios de perseguição em Córdoba, Granada e no Iémen. Depois vieram as grandes expulsões da Península Ibérica no tempo dos Reis Católicos em Espanha e de Dom Manuel I em Portugal, respetivamente nos anos de 1492 e 1497. Os que quiseram ficar foram obrigados a converter-se ao cristianismo, passando com isso a ser classificados como "Cristãos-Novos". Isso, todavia, não lhes serviu de muito porque continuaram a ser suspeitos de praticar o judaísmo em segredo. A Inquisição perseguiu milhares. Esse clima criou a imagem do judeu como “estrangeiro perpétuo”: mesmo quando convertido, não era considerado confiável.
Entretanto, nos séculos XIX e XX, com o culminar da modernidade, os judeus ganharam cidadania em muitos países europeus. Isso libertou-os dos guetos, mas também desencadeou o antissemitismo racial. No século XIX, com o advento dos nacionalismos, os judeus deixaram de ser perseguidos só pela religião. Agora eram vistos como uma “raça inferior ou corruptora”. O caso Dreyfus em França (1894) revelou como até um oficial patriota podia ser considerado traidor apenas por ser judeu. O panfleto falso “Protocolos dos Sábios de Sião” (1903) espalhou a teoria da conspiração de que os judeus tramavam dominar o mundo. O nazismo levou o antissemitismo racial ao extremo: a ideia de “solução final” significava o extermínio físico dos judeus da Europa = Shoah ou Holocausto. Seis milhões (1941–1945) passaram pelos campos de concentração e em sequência exterminados pela via da cremação. Paradoxalmente, isso reforçou ainda mais a singularidade da História Judaica, porque nenhuma outra minoria europeia foi alvo de um plano tão sistemático de destruição.

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