segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

A paz nem sempre é fácil de alcançar



Na Palestina, tanto muçulmanos como judeus possuem reivindicações históricas inquestionáveis. Judeus habitaram e reverenciam esta cidade há mais de 3 mil anos. Por isso, muçulmanos e judeus têm o mesmo direito de ali viver e se estabelecer. Todavia, há momentos em que mesmo a mais inofensiva restauração judaica de uma sinagoga é contestada como ilegítima. Em 2010, a restauração da sinagoga da Hurva, no Bairro Judeu, que havia sido demolida pelos jordanos em 1948, provocou críticas difundidas pelos órgãos de comunicação europeia, e pequenos tumultos ocorreram em Jerusalém oriental.

Bem diferente é o que se passa agora com os habitantes palestinos de origem árabe, quando se veem removidos, coagidos e intimidados, na sua propriedade expropriada com base em direitos duvidosos 
daqueles que se julgam em missão divina. A construção agressiva de assentamentos, planeados para colonizar as regiões árabes e sabotar qualquer acordo de paz para dividir, e a sistemática negligência em prover serviços e novas habitações nessas localidades, têm dado má reputação até mesmo aos projetos judeus mais inocentes.

Israel se depara com dois caminhos: o Estado hierosolimita, de cunho religioso e nacionalista, versus uma Telavive liberal e ocidentalizada, que é apelidada de “a Bolha”. Há perigo de que o projeto nacionalista em Jerusalém e a obsessiva construção de assentamentos na Cisjordânia possam distorcer tanto os próprios interesses de Israel a ponto de trazer mais prejuízos ao país do que eventuais benefícios.

Com certeza é a primeira vez que os judeus têm liberdade de culto ali desde o ano 70 da Era Cristã. Sob domínio cristão, os judeus foram proibidos até mesmo de se aproximar de Jerusalém. Durante os séculos islâmicos, cristãos e judeus foram tolerados como dhimmi, embora fossem reprimidos com frequência. Os judeus, que careciam da proteção dos Estados europeus, eram geralmente maltratados. Quando não estão em conflito, judeus, muçulmanos e cristãos retornam à antiga tradição hierosolimita, e fingir que os outros não existem. 

A intensidade escatológica não deixa de colocar Jerusalém, ainda no século XXI, como a cidade escolhida das três religiões, numa encruzilhada de visões conflituantes e incompatíveis, ainda que se reclamem herdeiras do mesmo patriarca - Abraão. 
Jerusalém sempre foi a cidade dos profetas, mas também do martírio. É campo de atentados suicidas como arma predileta, quando não alvo de roquetes. Em algum momento das negociações, o Hamas terá de renunciar à violência e reconhecer o Estado judeu. 

O monte do Templo é difícil de dividir. O Haram e o Kotel, o Domo, al-Aqsa e o Muro são parte da mesma estrutura. Ninguém pode monopolizar a santidade. Não se pode chegar a nenhum acordo, e tampouco ele será duradouro, sem soberania política. Pode ser desenhada num mapa, expressa em acordos legais, posta em vigor, mas será fútil e inexpressiva sem o aspecto histórico, místico e emocional sanado na memória política.

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