terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Ismail Haniya




Haniya, no escritório do Emir do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani, em 2016


Ismail Haniya é um palestino nascido em Gaza em 1962, no campo de refugiados de Shati, perto da cidade de Gaza, mas vive em Doha, no Qatar. Das eleições legislativas da Autoridade Nacional Palestiniana em 25 de janeiro de 2006, o Hamas saiu vencedor, e ele tornou-se primeiro-ministro em 21 de fevereiro de 2006.

É licenciado em Literatura Árabe pela Universidade Islâmica de Gaza desde 1987, ano do início da Primeira Intifada em 9 de dezembro. Durante a sua passagem pela universidade integrou o "Bloco de Estudantes Islâmicos", um movimento que seria precursor do Hamas. Foi um dos mais jovens fundadores do Hamas. Nesse ano, Haniya foi detido pelas autoridades israelitas por participar nos protestos e mais tarde libertado. Em 1988 voltou a ser novamente detido pelas autoridades de Israel e condenado a três anos de cadeia. Em 1992, Haniya foi libertado e deportado junto com outros militantes do Hamas para o sul do Líbano. No ano seguinte regressou a Gaza, onde foi nomeado reitor da Universidade Islâmica.

Em 1993 houve os Acordos de Paz de Oslo, a que o Hamas não se vinculou. Mais tarde, a Autoridade Palestiniana sediada na Cisjordânia, responsabilizou o grupo do Hamas pelos homens-bomba que provocaram uma série de mortes de civis israelitas. Esses acontecimentos levaram-no mais uma vez à prisão, com mais alguns militantes do Hamas. Posteriormente viria a tornar-se muito próximo de Ahmed Yassin, que na década de 1990 era o líder espiritual do Hamas, que foi libertado da prisão em 1997. Mas em 2004 Yassin morre de atentado, provavelmente assassinado por Israel.

Ismail Haniya é visto como um moderado da ala política do grupo, aberto ao diálogo com Israel. Ele foi o primeiro dirigente do Hamas a telefonar a Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana e da Fatah, a propor uma aliança política, depois de divulgados os resultados das eleições em 2006. E foi na sequência dessas circunstâncias que Haniya foi escolhido para primeiro-ministro.

Em maio de 2011, Haniya condenou a operação norte-americana que matou Osama bin Laden. Segundo Haniya, a política americana faz esse tipo de operações baseada na opressão e no derramamento de sangue árabe e muçulmano. Pediu a Deus, piedade para bin-Laden, junto com os verdadeiros crentes e mártires.

Riquíssimo e apoiado pelo Qatar, Turquia e Irão, Ismail Haniya está sempre cercado de importantes autoridades do Médio Oriente e de África. É nessa qualidade que passa os últimos tempos a circular pelos melhores hotéis de luxo do Oásis. Em dezembro de 2019, Ismail Haniya deixou a Faixa de Gaza. Dois anos antes, ele já havia sido substituído por Yahya Sinwar à frente do governo local. Vivendo em hotéis cinco-estrelas de Doha, Haniya passou a comandar o Escritório Político do Hamas à distância. Segundo autoridades americanas e israelitas, partiu dele, inclusive, a autorização para os ataques de 7 de outubro.



Num congresso em Argel, 2023

O acúmulo de dinheiro dele e de outras lideranças do Hamas começou quando a organização assumiu o controlo do território em Gaza, em 2007, após expulsar violentamente o Fatah (partido político da Autoridade Palestiniana. Nos dez anos seguintes, com Haniya a primeiro-ministro, foi estabelecido um regime autoritário sem voltar a haver eleições. Naquele período, ele enriqueceu com o dinheiro do imposto de 20% cobrado de todos os produtos que entravam por túneis clandestinos a partir do Egito. Segundo a revista saudita Al-Majalla, além dele, outros 1.700 altos comandos do Hamas ficaram milionários com esse esquema de contrabando tributado — a saída de cidadãos por essas passagens também era cobrada.

A Turquia, comandada por Recep Tayyip Erdogan, também passou a despejar milhões e milhões de dólares na Faixa de Gaza, dinheiro que, comprovadamente, não era destinado a aliviar o sofrimento da população do território. Em 2017, a agência de segurança de Israel, Shin Bet, acusou dois palestinos de desviarem dinheiro da reconstrução de Gaza para o Hamas. Chefes regionais da Tika (Agência Turca de Cooperação e Desenvolvimento Internacional) e da IHH (Fundação Turca de Ajuda Humanitária) tiveram a prisão decretada naquela ocasião.

O Hamas tem desviado de uma forma chocante os fundos que organizações internacionais, como, por exemplo, a União Europeia, destinados aos mais necessitados de Gaza, e ao seu desenvolvimento. O Hamas tem-se armado ao longo destes últimos anos com esse dinheiro, para além de custear a vida sumptuosa dos seus líderes. Em 2020, uma investigação nos Estados Unidos descobriu que o banco turco Kuveyt Turk, sediado em Istambul, manteve conscientemente contas bancárias ligadas ao financiamento do Hamas.

Haniya tem 13 filhos, parte deles vivendo fora da Palestina, sobretudo na Turquia. Um dos filhos, Maaz, conhecido como Abu Al-Iqarat ("O Pai dos Imóveis", em tradução do árabe), conseguiu um passaporte turco, o que lhe permitiu não apenas viajar, mas também investir em propriedades na Turquia. A família, porém, não saiu ilesa da guerra iniciada por ele. A neta de Haniya, Roa Hammam Haniya, uma estudante de medicina, foi morta num bombardeamento a uma escola na cidade de Gaza, por estes dias.

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