Mapa de Hereford
Datado do fim do século XIII, o mapa mundo de Hereford, inscrito num único pedaço de pele de vitela, é um dos mapas medievais mais importantes do mundo. Desde o início, o mapa foi projetado não para a navegação prática, mas como uma inspiradora obra de arte. Seguindo a tradição medieval, o mapa circular mostra o mundo conhecido com Jerusalém ao centro. Em alguns lugares, ele é surpreendentemente preciso; em outros, completamente errado. Os textos para a Europa e para a África, por exemplo, estão trocados.
O mapa de Hereford também está cheio de curiosas anormalidades, desde animais misteriosos e cenas bíblicas até aos fantasiosos e bizarros povos desconhecidos de terras distantes. Ao todo, o mapa inclui cerca de 500 ilustrações de pessoas, lugares, animais, cidades, incluindo 15 eventos bíblicos e oito da mitologia clássica. Ele foi criado provavelmente em Lincolnshire, ou em Yorkshire, e esteve praticamente sempre guardado na Catedral de Hereford. Ele pode ter sido inspirado por outro mapa mundo conhecido como mapa Ebstorf, que foi desenhado por volta de 1239 e era quase seis vezes maior que o mapa de Hereford. Embora existam cópias, o mapa Ebstorf original foi destruído num bombardeamento da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, deixando o Hereford - 1,5m por 1,2m - como o maior mapa sobrevivente da Idade Média, pelo menos que se conheça.
Havia judeus em Catai, protegidos pelo cã, judeus na abrasadora Núbia, judeus no reino hindu de Deli, onde o soberano possuía setecentos elefantes. Nestes mapas - Ebsdorf e Hereford - Jesus Cristo ainda figurava com destaque sobre o planeta. Mas depois desapareceram por completo, o que é significativo se repararmos em quem passou a dominar a cartografia. No Extremo Oriente, na vizinhança de Gog e Magog, era Cristo no Paraíso, às vezes, de maneira menos plausível, o Anticristo. Mas isso é sub reptício, porque a coroa e a barba tornam mais provável que se trate de David.
O mapa de Cresques vem depois. Ao que se dizia, tendo conquistado havia pouco a ilha de Maiorca, o rei de Aragão tinha planos cruzadistas em relação às Canárias, de onde talvez pudesse ter lançado a habitual missão de pregar e lucrar no continente africano, dominado pelos muçulmanos. Foi nessa época que os reis de Aragão se tinham lançado ao mar a fim de criar um estado através do Mediterrâneo. De Valência e da Catalunha às ilhas Baleares, à Sardenha, à Córsega e à Sicília, um mini império tão extenso que se dizia que até os peixes ostentavam na cauda as barras douradas e escarlates de Aragão.
O mapa de Cresques vem depois. Ao que se dizia, tendo conquistado havia pouco a ilha de Maiorca, o rei de Aragão tinha planos cruzadistas em relação às Canárias, de onde talvez pudesse ter lançado a habitual missão de pregar e lucrar no continente africano, dominado pelos muçulmanos. Foi nessa época que os reis de Aragão se tinham lançado ao mar a fim de criar um estado através do Mediterrâneo. De Valência e da Catalunha às ilhas Baleares, à Sardenha, à Córsega e à Sicília, um mini império tão extenso que se dizia que até os peixes ostentavam na cauda as barras douradas e escarlates de Aragão.
A caminho de Chanbaleth, a capital da Catai de Kublai Khan, a caravana de Marco Polo transpôs o planalto do Cáucaso e avançou pela Rota da Seda para penetrar na distante Ásia. Parelhas de camelos seguem na vanguarda, seguidas por uma escolta de soldados a pé, e depois os viajantes, liderados pelo próprio Marco Polo, que, sorridente, conversa com um tártaro. No tráfego intenso desses homens em movimento se entrechocam lendas e factos, informações colhidas com esforço e fantasias compulsivas, novas descobertas e tradições. A recaptura de Jerusalém e da Terra Santa, e a força da missão cavaleiresca das cruzadas não se tinham apagado da imaginação cristã, sobretudo na Espanha. O mais importante é que, por uma razão ou outra, sem o peso das obsessões cruzadistas unificantes da cristandade, da missão global de conversão, os judeus estavam aqui, ali, em todas as partes, e embora muitos tivessem aportado em Maiorca no século XIII, junto com os seus conquistadores cristãos, muito do valor deles para os governantes estava exatamente em servirem de intermediários com o inimigo muçulmano.
Falavam e liam o árabe, traziam para o mundo cristão conhecimentos de astronomia, medicina e filosofia, adquiridos aos árabes, e, mais importante, podiam negociar com as potências e os portos do Magreb, no norte da África, e com o Egito. Não se permitia aos judeus possuir navios, mas os reis independentes de Maiorca e os soberanos aragoneses que lhes sucederam ordenavam aos armadores cristãos que recebessem cargas originárias de países muçulmanos e embarcadas por judeus. Eles eram os únicos habitantes de Maiorca que tinham liberdade de ir aonde quisessem, se bem que nem sempre com segurança, cruzando as fronteiras linguísticas, religiosas e aduaneiras do Mediterrâneo. As costas sobre as quais havia mais informações náuticas e os nomes de portos trazem a marca de suas idas e vindas pelas disputadas ilhas do Egeu e, com mais audácia, pelas do Atlântico. A oeste da longa costa da Guiné ficavam, embora não marcados com exatidão, arquipélagos convidativos. Ilhas cujos nomes estavam fadados a minar a imaginação.
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