quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Navios Vikings





O navio Oseberg é o mais detalhado no Museu dos Navios Vikings
Museu em Oslo


Os barcos vikings causaram espanto em sua época e, ainda hoje, mil anos depois, são considerados verdadeiras obras-primas da tecnologia desenvolvida pelos antigos navegadores e artesãos escandinavos. Com cerca de 20 a 30 metros de comprimento, 3 e 5 metros de largura e um calado (distância entre o ponto mais profundo da quilha e a linha de água) extremamente baixo, parece incrível que 30 a 50 marinheiros – ainda por cima, armados – conseguiam atravessar alguns dos mares mais revoltos do mundo, o mar do Norte, e um oceano escuro e glacial. 
As formas elegantes do barco Oseberg, que serviu de túmulo para duas poderosas damas norueguesas, refletem a técnica avançada de construção e a velocidade que fizeram a fama das embarcações vikings de ataque.

O navio Oseberg é um magnífico exemplar da técnica e da arte no período viking e conta uma história diferente. Quem o mandou construir não economizou em trabalho de ornamentação, desde a quilha, abaixo da linha d’água, até a proa, que se termina numa curva em espiral, à maneira da cabeça de uma serpente. Para surpresa dos arqueólogos, dentro desse enorme túmulo não foi encontrado nenhum chefe de clã ou famoso guerreiro viking. Ao contrário, o barco serviu de túmulo para duas mulheres, falecidas, no ano 834, aos 70 e 50 anos respectivamente. Junto a seus esqueletos, foram encontrados vestidos, sapatos, pentes, utensílios domésticos, ferramentas agrícolas, 3 trenós ricamente decorados, 1 carroça, 5 cabeças de animais esculpidas, 5 camas e 2 tendas. Ao redor, foram desenterrados os restos de 15 cavalos, 6 cães e 2 vacas. Quem eram essas mulheres? Esposas ou sacerdotisas? Teriam sido sacrificadas após a morte de um líder poderoso? Ou uma das duas terá sido, ela mesma, uma autoridade suprema? Não se sabe.

O navio longo (langskip) – embarcação típica de assalto – tinha a elegante forma curva e simétrica, da proa à popa, ambas bastante elevadas e decoradas com entalhes na madeira de animais e seres mitológicos entrelaçados. A técnica de construção conferia leveza ao casco: pranchas longas e finas de carvalho eram vergadas e sobrepostas umas sobre as outras. Os espaços estreitos entre cada tira de madeira eram calafetados com lã embebida em alcatrão. O formato suave do casco reduzia a resistência no contacto com a água e permitia manobras mais ágeis em baías e golfos estreitos.

As características naturais de velocidade e de maneabilidade, indispensáveis à estratégia de ataques rápidos e furtivos, eram ampliadas mediante o uso da vela ou de remos, na mesma embarcação. O mastro podia ser desmontado quando o barco se aproximava de um povoamento costeiro a ser saqueado. Em seguida, praticamente invisíveis e protegidos pelos escudos pendurados no lado exterior do convés, os homens passavam a remar em direção ao alvo. A conjunção das técnicas do mastro desmontável e dos remos embarcados traduz bem a engenhosidade dos construtores nórdicos.



Navio Viking no Museu de Roskild, Dinamarca

Com as invasões ao redor da Europa (principalmente Inglaterra e norte da França), ao longo dos séculos os Vikings começaram a se converter ao Cristianismo. Por volta do ano 1000, o poder real dinamarquês passou a ser concentrado em Roskilde, a nova capital monárquica e eclesiástica. Como centro do poder real, legislativo, religioso e comercial, a cidade se tornou uma das cidades mais importantes na Dinamarca da Era Viking — e, consequentemente, alvo óbvio de ataque.

Os navios mercantes tinham construção semelhante, mas eram inferiores em qualidade aos langskipene. Mais robustos, suportavam viagens mais longas, em mares tempestuosos como, por exemplo, entre a Noruega e a Islândia. Pelo menos dez tipos de embarcações vikings foram catalogados pelos arqueólogos, umas mais adaptadas à navegação fluvial, outras à pesca ou ainda ao comércio litorâneo.

A óbvia dificuldade de preservação da madeira em água salgada limita a descoberta de navios relativamente bem conservados. Nessas condições, os principais achados, hoje muito bem restaurados e expostos nos belíssimos Museus de Embarcações Vikings de Bygdøy, Oslo, na Noruega, e de Roskilde, na Dinamarca, se referem a embarcações utilizadas em cerimónias fúnebres, em terra firme.

Uma embarcação descoberta na região de Gokstad, Noruega, serviu de túmulo para um chefe viking de 40 anos e cerca de 1,80 m, que faleceu de ferimentos recebidos em uma batalha por volta do ano 900. A escavação do barco Gokstad expôs muitas das características associadas ao povo viking. Construído por volta do ano 850, foi usado como câmara funerária de um homem rico e poderoso, falecido cerca do ano 900. A bordo, os arqueólogos encontraram restos de tapeçarias de seda com fios de ouro, peças feitas de chifre, anzóis de ferro, arneses de ferro e bronze, seis camas, uma tenda e um trenó. Trinta e dois escudos estavam fixados em cada lado do navio, pintados de amarelo e de preto, alternadamente. Ao redor, foram encontrados os esqueletos de 12 cavalos, 8 cães e 2 pavões, além de outros 3 barcos menores. O esqueleto do morto, na casa dos 40 anos, mostra sinais de golpes de espada em ambas as pernas. É provável que tenha sido abatido no coração de uma batalha.



Barco Gokstad

Fontes do período, como o poema épico anglo-saxão Beowulf, cujo manuscrito data do século XI, dão indicações dos ritos observados pelos vikings nos funerais dos seus líderes. Quando um chefe viking morria, alguns dos seus escravos e servos, homens ou mulheres, se voluntariavam para serem sacrificados. No dia do funeral, a embarcação do chefe era içada à terra firme e as pessoas do clã caminhavam em torno dele recitando em voz alta. Uma anciã encarregada das preparações do túmulo colocava almofadas, mantas e cobertores sobre o convés do navio. O corpo do chefe morto era vestido com roupas especialmente feitas para a ocasião e, em seguida, depositado, em posição sentada, na parte do navio coberta por uma tenda, em meio a jarros com bebida alcoólica, pratos com alimentos, ervas aromáticas e todas as suas armas. Os corpos dos escravos e servos imolados eram distribuídos pela embarcação, junto com cavalos, cães, vacas e aves.

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