terça-feira, 21 de maio de 2024

Do Tratado de Sèvres a Abdulaziz ibn Saud



O Tratado de Sèvres foi um acordo de paz assinado entre os Aliados e o Império Otomano em 10 de agosto de 1920, após a Primeira Guerra Mundial. O Tratado partilhava o Império Otomano entre o Reino da Grécia, o Reino de Itália, o Império Britânico e a República francesa, além de estender o território da Arménia, e a criação de um estado curdo. Desde 1915 existiam planos de criação de regiões de influência pelos britânicos e franceses, no Acordo Sykes-Picot, do território otomano. Liderados por Mustafa Kemal Atatürk, soldados do movimento nacionalista turco vencem os exércitos que ocupavam a Anatólia na Guerra de independência turca, resultando no Tratado de Lausanne, garantindo a independência da Turquia.

T.E. Lawrence (também conhecido como Lawrence da Arábia) desempenhou um papel significativo na Revolta Árabe contra o Império Otomano durante a Primeira Guerra Mundial, o que contribuiu para a queda do domínio otomano na região. Ora, Lawrence era amigo de 
Faiçal I [1885 – 1933]. E de início contribuiu que ele fosse o Rei do Reino Árabe da Síria. Mas tal situação durou pouco tempo, entre março e julho de 1920. Só depois, em 1921, é que se tornou Rei do Iraque, e assim se manteve até 1933, altura e que morreu.

Faiçal era o terceiro filho do rei Huceine ibne Ali, o Grande Xarife de Meca e Rei de Hejaz, que se proclamou Rei das terras Árabes em outubro de 1916. Faiçal promoveu a união entre Muçulmanos Sunitas e Xiitas para estimular a lealdade comum e promover o Pan-arabismo com o objetivo de criar um Estado Árabe que incluísse o Iraque, a Síria e o resto do Crescente Fértil. Enquanto esteve no poder, Faiçal tentou diversificar a sua administração incluindo diferentes grupos étnicos e religiosos em posições importantes. No entanto, a tentativa de Faiçal de nacionalismo pan-Árabe pode ter contribuído para o isolamento de certos grupos religiosos.



Faiçal

Após o breve reinado de Faiçal como rei da Síria, os franceses impuseram os seus interesses na região, estabelecendo o Mandato Francês da Síria e do Líbano. T.E. Lawrence, apesar de seus esforços durante a Revolta Árabe, viu muitas das aspirações árabes serem frustradas pelos interesses das potências coloniais europeias, como a França e a Grã-Bretanha. A imposição desses mandatos foi parte do rearranjo geopolítico pós-Primeira Guerra Mundial na região do Médio Oriente, que refletia os interesses e rivalidades das potências coloniais da época.

O rei Huceine ibne Ali, líder da Revolta Árabe contra o Império Otomano, sentia uma mistura de sentimentos em relação aos britânicos. Embora tenha cooperado com T.E. Lawrence e os britânicos durante a revolta, ele também ficou desiludido com o Tratado de Versalhes e com as negociações subsequentes que pareciam não cumprir as promessas feitas aos árabes em relação à independência e ao controlo sobre seus territórios. Isso o deixou frustrado e levou a tensões com os britânicos. Além disso, as rivalidades e disputas entre os filhos de 
Huceine ibne Ali, incluindo Faiçal e Abdullah, também contribuíram para a complexidade das relações dentro da família e da região em geral.

Daí que tenha resultado a ascensão da Casa de Saud na Península Arábica, uma mudança significativa no equilíbrio de poder na região. Enquanto o Império Otomano enfraquecia e os mandatos coloniais estavam sendo estabelecidos, os sauditas conseguiram consolidar o seu poder e estabelecer o Reino da Arábia Saudita. Isso foi em parte devido à habilidade política e militar de líderes como Abdulaziz Ibn Saud. A ascensão dos sauditas também contribuiu para a diminuição da influência da família Hachemita, liderada por Huceine ibne Ali, que buscava liderança e unificação na região. Essa mudança no poder teve um impacto significativo nas dinâmicas políticas e na configuração do Médio Oriente moderno.

Após a Primeira Guerra Mundial, os britânicos estabeleceram o Mandato Britânico da Mesopotâmia (que mais tarde se tornaria o Iraque) e foram eles que escolheram Faiçal, como rei do novo estado. Essa decisão deixou o irmão Abdullah furioso, pois era ele, segundo a promessa de Lawrence, que esperava governar o Iraque. Essa situação criou tensões dentro da família Hachemita e entre os líderes árabes, e contribuiu para as divisões políticas na região durante esse período.

Em 1924, Huceine ibne Ali abdicou em favor de seu filho mais velho, Ali ibne Huceine, que se tornou rei do Hejaz. No entanto, o reinado de Ali ibne Huceine foi curto e turbulento, marcado por conflitos internos e externos. Ele foi deposto em 1925 por forças sauditas lideradas por Abdulaziz Ibn Saud, e o Reino do Hejaz foi incorporado ao emergente Reino da Arábia Saudita. Esta abdicação e subsequente transferência de poder demonstram as complexas dinâmicas políticas e territoriais que caracterizaram a região naquela época.



Abdulaziz Ibn Saud
foi proclamado rei do Nadj (ou Najd) e sultão do Hejaz após suas forças conquistarem essas regiões durante sua campanha para unificar a Península Arábica. Ele consolidou seu poder sobre várias partes da Arábia e eventualmente fundou o Reino da Arábia Saudita em 1932, unindo o Nadj e o Hejaz sob sua autoridade. 




Abdalaziz Ibne Abderramão Saud [Riade, 24 de novembro de 1880 — Taife, 30 de novembro de 1953], também conhecido como Ibne Saud, foi assim o rei do Hejaz e do Nadj entre 1926 e 1932 e o primeiro rei da Arábia Saudita entre 1932 e 1953. Na historiografia saudita, ele é chamado de "o primeiro rei do terceiro estado Saudita (o primeiro durou de 1744 a 1818, e o segundo de 1819 a 1891). 

Ibne Saud era membro da família Saud que tinha governado praticamente toda a Arábia durante os cem anos anteriores ao seu nascimento. Porém, quando Ibne Saud nasceu já a sua família tinha perdido relevância em detrimento da família Rashid e este foi obrigado a exilar-se quando ainda era uma criança no Kuwait, onde crescera na pobreza. Decidido a reconquistar as terras que a sua família tinha perdido, organizou com cerca de vinte homens a tomada de Riade. A cidade, que era dominada pela família Rashid, foi tomada em 1902. 

Na Arábia havia duas poderosas famílias rivais: os Haxemitas e os SauditasOs Haxemitas diziam-se descendentes do Profeta Maomé e governavam a região de Hejaz, com destaque para a cidade sagrada de Meca. Enquanto isso, os Sauditas controlavam a região central da Arábia, incluindo a cidade de Riade. Ao longo da história, essas duas famílias frequentemente competiam pelo controlo e influência na região, uma dinâmica que continuou até a formação do moderno Reino da Arábia Saudita em 1932. 

Os sauditas professavam a seita wahhabita, também conhecida como salafismo, uma interpretação puritana do Islã sunita. Esta seita foi fundada por Muhammad ibn Abd al-Wahhab no século XVIII, e sua aliança com a família Saudita foi fundamental para o estabelecimento do primeiro Estado saudita. A doutrina wahhabita enfatiza um retorno às práticas religiosas puras do Islão, rejeitando muitas tradições que considera inovadoras ou desviantes. A aliança entre os Sauditas e os wahhabitas tem sido uma característica importante da história política e religiosa da Arábia Saudita.

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