O debate entre sociólogos e biólogos sobre identidade de género é multifacetado e muitas vezes complexo. A sociologia sendo uma ciência, mas em que a subjetividade é tida em melhor conta que a vertente da objetividade, muito cara às ciências físicas e biológicas, os sociólogos tendem a abordar a identidade de género como uma construção social, influenciada por normas culturais, valores e estruturas de poder. Eles destacam como as sociedades atribuem significados específicos aos papéis de género e como esses significados podem variar ao longo do tempo e entre diferentes culturas.
Mas, pelo lado dos biólogos, estritamente comprometidos com a objetividade e o peso das evidências científicas, afirmam que a identidade de género também deve estar vinculada ao que se passa na embriologia sujeita à influência hormonal que ocorre na dinâmica da gestação de qualquer ser vivo, que se aplica também aos seres humanos. Já para não falar nos ditames da genética que depois prossegue na neurobiologia do desenvolvimento do cérebro. Alguns biólogos argumentam que as diferenças de género são em grande parte determinadas pela biologia, incluindo diferenças cerebrais entre os sexos que podem influenciar a identidade de género.
No entanto, é importante notar que em ciência biológica nada está completo, nada está definitivamente fechado. Há que reconhecer a complexidade da identidade de género e a interação entre fatores biológicos, sociais e culturais. Muitos pesquisadores estão adotando uma abordagem interdisciplinar que reconhece tanto a influência da biologia como do ambiente social na formação da identidade de género. Seja como for, o debate entre sociólogos e biólogos sobre identidade de género, apesar de refletir diferentes pontos de vista e prioridades de pesquisa, não deixa de ser positiva na medida em que qualquer visão é sempre mais completa quando é holística, em que a compreensão dos fenómenos é sempre mais completa.
Durante o desenvolvimento embrionário, tanto os embriões masculinos como os femininos têm um estágio inicial onde se assemelham antes de divergirem nos caminhos de desenvolvimento específicos de cada sexo. É fascinante como as características masculinas e femininas se manifestam ao longo do processo. Depois, na primeira infância, é comum que as crianças ainda não expressem fortemente as características típicas de um determinado género. Eles podem exibir comportamentos e interesses que umas vezes são considerados masculinos, outras vezes femininos, conforme as circunstâncias do meio ambiente em que são criados, ou conforme determinados estímulos proporcionados pelas pessoas que as tratam, de preferência no sei do ambiente familiar. Pode dizer-se, parafraseando um termo já muito antigo, mostram uma certa androginia em seu desenvolvimento. Isso faz parte, segundo os autores que mais têm estudado o assunto, do processo de descoberta e exploração da identidade de género.
Assim, consoante a qualidade do processo educativo a que a criança é submetida, a força da identidade de género pode variar de pessoa para pessoa, independentemente do sexo biológico com que nasceram e identificado à nascença. Alguns indivíduos podem sentir uma identidade de género mais forte desde tenra idade, ao passo que outros prolongam a sua indiferenciação por muito mais tempo. De um modo gral, a maioria dos indivíduos sente que a sua identidade de género coincide com o sexo biológico, sem qualquer drama. Mas há uma minoria de casos em que experimentam uma sensação de género contrária ao seu sexo biológico determinado à nascença. Ou seja, como se costuma dizer em linguagem trivial: não bate a cara com a careta. É claro que atualmente os sociólogos, e os académicos das áreas das humanidades ou ciências humanas, tendem a usar uma expressão mais forte que trivial: «Cada experiência é única e influenciada por uma variedade de fatores.»
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