quarta-feira, 29 de maio de 2024

Edward Said e a ideia de um só Estado para a Palestina



Edward Said parece ter elaborado o seu pensamento, o de um único Estado binacional, partindo de uma aparente coexistência pacífica durante o domínio otomano. Palestinos e judeus viveriam juntos em igualdade de direitos e oportunidades. A solução de dois estados não seria viável ou justa, devido à complexa história de 400 anos compartilhando uma cultura alicerçada nas três religiões do Livro (judaica, cristã e islâmica), sendo que a judaica foi a primeira, e que influenciou as outras duas. Ele acreditava que apesar disso, um único Estado poderia garantir direitos igualitários para todas as pessoas.


 

Edward Said (esquerda) com Daniel Barenboim, em 2002

Sendo parcialmente verdade, o facto de a Palestina ter desfrutado de um longo período de paz durante o tempo do Império Otomano, 1517-1917, em que implementaram um sistema administrativo eficiente, dividindo a Palestina em várias províncias e distritos, que ajudou a manter a ordem e a administração local, é importante reconhecer as limitações e desafios desse período. Embora houvesse estabilidade, a Palestina não estava totalmente isenta de conflitos, revoltas e períodos de instabilidade, especialmente nos últimos anos do domínio otomano, quando o império começou a enfraquecer. Mas sim, houve períodos de desenvolvimento económico e prosperidade graças à construção de infraestruturas (estradas, pontes e sistemas de irrigação). Embora houvesse tensões esporádicas, ainda assim, os otomanos eram justos quanto ao papel das diferentes religiões. Muçulmanos, judeus e cristãos viviam lado a lado, e cada comunidade tinha certo grau de autonomia para governar os seus próprios assuntos religiosos e civis.

Concordo que o que Israel está a fazer é genocídio. Mas também se deve dizer que desde que Israel é Israel, está explícito na carta do Hamas e do Hezbollah a expulsão dos judeus da Palestina. E nunca o fizeram porque Israel além de ser mais forte, e se dizer que é uma democracia, tem bons amigos. O mesmo não se pode dizer dos palestinos, nem bons amigos na liga árabe, antes pelo contrário. E é essa a tragédia dos palestinos, porque os amigos que tem não servem para nada. E o fundamentalismo islamita também não ajuda.

Os estudantes das universidades privadas mais caras dos Estados Unidos jogam os seus interesses demonstrando a sua boa-fé interseccional como antirracistas, anti-imperialistas e anticolonialistas por forma a se agarrarem a posições de liderança nas esferas intelectual e cultural. Mas ser interseccional não é a principal preocupação das pessoas da classe trabalhadora. Essa é a marca da elite instruída, cujos membros estão habituados a pensar em si próprios como a consciência moral coletiva do mundo ocidental.

Há uma grande divergência entre a perceção e a realidade. Vivemos num tempo onde a palavra, em geral, conta pouco. Demasiados exemplos de falsidade e mentira, histórias de hipocrisia, discursos vazios ou promessas incumpridas, acabam por minar a confiança uns nos outros. Respira-se, como ar contaminado, desilusão e falta de esperança. Torna-se difícil saber a quem vale a pena dar crédito. Em quem acreditamos? Que palavras ainda são capazes de nos entusiasmar e provocar?

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