Edward Said parece ter elaborado o seu pensamento, o de um único Estado binacional, partindo de uma aparente coexistência pacífica durante o domínio otomano. Palestinos e judeus viveriam juntos em igualdade de direitos e oportunidades. A solução de dois estados não seria viável ou justa, devido à complexa história de 400 anos compartilhando uma cultura alicerçada nas três religiões do Livro (judaica, cristã e islâmica), sendo que a judaica foi a primeira, e que influenciou as outras duas. Ele acreditava que apesar disso, um único Estado poderia garantir direitos igualitários para todas as pessoas.
Sendo parcialmente verdade, o facto de a Palestina ter desfrutado de um longo período de paz durante o tempo do Império Otomano, 1517-1917, em que implementaram um sistema administrativo eficiente, dividindo a Palestina em várias províncias e distritos, que ajudou a manter a ordem e a administração local, é importante reconhecer as limitações e desafios desse período. Embora houvesse estabilidade, a Palestina não estava totalmente isenta de conflitos, revoltas e períodos de instabilidade, especialmente nos últimos anos do domínio otomano, quando o império começou a enfraquecer. Mas sim, houve períodos de desenvolvimento económico e prosperidade graças à construção de infraestruturas (estradas, pontes e sistemas de irrigação). Embora houvesse tensões esporádicas, ainda assim, os otomanos eram justos quanto ao papel das diferentes religiões. Muçulmanos, judeus e cristãos viviam lado a lado, e cada comunidade tinha certo grau de autonomia para governar os seus próprios assuntos religiosos e civis.
Concordo que o que Israel está a fazer é genocídio. Mas também se deve dizer que desde que Israel é Israel, está explícito na carta do Hamas e do Hezbollah a expulsão dos judeus da Palestina. E nunca o fizeram porque Israel além de ser mais forte, e se dizer que é uma democracia, tem bons amigos. O mesmo não se pode dizer dos palestinos, nem bons amigos na liga árabe, antes pelo contrário. E é essa a tragédia dos palestinos, porque os amigos que tem não servem para nada. E o fundamentalismo islamita também não ajuda.
Os estudantes das universidades privadas mais caras dos Estados Unidos jogam os seus interesses demonstrando a sua boa-fé interseccional como antirracistas, anti-imperialistas e anticolonialistas por forma a se agarrarem a posições de liderança nas esferas intelectual e cultural. Mas ser interseccional não é a principal preocupação das pessoas da classe trabalhadora. Essa é a marca da elite instruída, cujos membros estão habituados a pensar em si próprios como a consciência moral coletiva do mundo ocidental.
Há uma grande divergência entre a perceção e a realidade. Vivemos num tempo onde a palavra, em geral, conta pouco. Demasiados exemplos de falsidade e mentira, histórias de hipocrisia, discursos vazios ou promessas incumpridas, acabam por minar a confiança uns nos outros. Respira-se, como ar contaminado, desilusão e falta de esperança. Torna-se difícil saber a quem vale a pena dar crédito. Em quem acreditamos? Que palavras ainda são capazes de nos entusiasmar e provocar?
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