sexta-feira, 11 de julho de 2025

Ter uma ideologia - ou modo de pensar


Estudos em neurociência e em ciência cognitiva, que são cada vez mais sofisticados, concluem que a ideologia política é só uma das manifestações do modo de pensar. Ou seja, não é uma questão de racionalidade, e que nos leve a dizer que ser de direita ou de esquerda, em termos absolutos, define a superioridade de um em relação ao outro. A ideologia política tem sido cada vez mais compreendida como expressão de traços psicológicos profundos, muitas vezes inatos ou formados muito cedo na vida, mais do que como resultado exclusivo de raciocínio lógico ou evidência empírica.

Famílias progressistas, por exemplo, costumam acreditar que os filhos devem desde cedo conhecer a realidade como ela é, sem floreados. Acreditam que a verdade, mesmo dura, não traumatiza, mas prepara. Já famílias conservadoras tendem a proteger os pequenos do sofrimento, adiando o máximo possível o contacto com as desilusões do mundo. Acreditam que é na inocência que a criança se fortalece. Ambas as abordagens, se levadas aos extremos, revelam as suas fragilidades. Do lado progressista há o risco de formar adultos ansiosos, muito expostos ao mal do mundo. Do lado conservador há o perigo de uma ingenuidade que desarma diante da dor inevitável da vida. Não se trata, portanto, de escolher um lado como quem escolhe um casaco numa loja de pronto a vestir. É mais a ida ao alfaiate para nos fazer um casaco à justa medida do nosso corpo. E já agora à medida dos nossos gostos pessoais que estão ligados à nossa esfera das emoções, e não à nossa esfera da razão.

O que parece emergir como modelo ideal é uma forma híbrida que resulta da nossa educação e aprendizagem de vida. A verdade, sim, mas com linguagem emocionalmente adequada. Impor limites, sim, mas com escuta e explicação. Preparar para a dor, mas oferecendo afeto e sentido. Educar, nesse sentido, é tanto proteger como endurecer para a vida, tanto providenciar com previdência, como libertar com cálculo de risco. Não há fórmula definitiva, mas há um norte ético: ajudar a criança a tornar-se um ser humano inteiro, capaz de enfrentar o mundo sem medo e sem desprezo. A família, afinal, é o primeiro laboratório da alma humana. É ali que se ensaia o equilíbrio entre empatia e firmeza, entre liberdade e responsabilidade. E é esse equilíbrio que, mais tarde, transbordará na forma como votamos em política, amamos, trabalhamos, cuidamos, e escolhemos em que tipo de mundo desejamos viver.

Estudos em neurociência mostraram que há correlações entre estruturas cerebrais e orientação política. Por exemplo, indivíduos mais conservadores tendem a ter uma amígdala (área ligada ao medo e vigilância) mais ativa, enquanto progressistas tendem a apresentar mais atividade no córtex anterior cingulado, ligado à abertura à novidade e à ambiguidade. Pesquisadores como John Jost exploraram como conservadorismo pode estar relacionado a um desejo maior por ordem, estrutura e certeza, enquanto o progressismo se relaciona mais com tolerância à ambiguidade, complexidade e mudança.

Isso desafia a ideia de que uma ideologia possa ser objetivamente superior à outra em termos morais ou racionais. Elas refletem preferências e estilos distintos de viver e perceber o mundo. Portanto, a polarização política muitas vezes não é fruto de ignorância ou má-fé, mas sim de visões de mundo profundamente enraizadas, emocionalmente fundamentadas, e só em parte racionalizadas. Entender isso pode levar a um debate mais civilizado e menos moralizante entre posições diferentes.

Esta dicotomia toca diretamente em duas necessidades humanas: Segurança emocional (favorecida pelo modelo conservador); Autonomia cognitiva e emocional (favorecida pelo modelo progressista). Famílias progressistas tendem a investir na preparação mental, mesmo com algum risco emocional. Famílias conservadoras investem na proteção emocional, mesmo com algum risco de falhar.

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