O dia 25 de abril de 1974 em Portugal acordou com um golpe militar. Inicialmente não foi um golpe comunista. O Movimento das Forças Armadas (MFA) que derrubou a ditadura do Estado Novo não era um movimento comunista nem pró-soviético à partida. Era um grupo heterogéneo de oficiais de baixa e média patente, desgastados com a guerra colonial (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau), e que desejavam democratizar o país e acabar com os conflitos armados nas colónias.
No entanto, após o golpe, diversas forças políticas – incluindo o Partido Comunista Português – tentaram influenciar o rumo do processo revolucionário. O Partido Comunista Português (PCP), liderado por Álvaro Cunhal, teve, de facto, um papel muito ativo e ganhou um peso significativo no Verão Quente de 1975, especialmente no controlo de sindicatos, meios de comunicação e algumas unidades militares. Neste período, houve receios reais de uma viragem pró-soviética em Portugal, especialmente entre os EUA e outros países da NATO.
A URSS não planeou nem promoveu o golpe, mas aproveitou-se do momento. A União Soviética não esteve por trás do golpe militar, mas observou os acontecimentos com atenção e apoiou, a partir de certa altura, o fortalecimento do PCP e dos movimentos de libertação em África (como o MPLA em Angola, o PAIGC na Guiné-Bissau e a FRELIMO em Moçambique), todos eles de orientação marxista-leninista. Com o recuo das forças coloniais portuguesas, a URSS viu aí uma oportunidade estratégica de alargar a sua influência num continente rico em recursos e importante no xadrez da Guerra Fria.
É verdade que, em 1974-75, os EUA estavam enfraquecidos pela guerra do Vietname, que culminaria com a queda de Saigão em abril de 1975. Esse contexto global permitiu uma "última lufada de ar fresco" para o internacionalismo comunista. Foi um momento de ascensão do socialismo em várias frentes: Angola, Etiópia, Nicarágua, Afeganistão (pouco depois, em 1979). A URSS parecia estar em expansão. No entanto essa maré mudou radicalmente. Com o fim da Guerra Fria, a queda do Muro de Berlim (1989) e o colapso da União Soviética (1991), o projeto comunista internacional perdeu fôlego, e muitos dos regimes africanos anteriormente aliados de Moscovo entraram em crise ou adaptaram-se a novas formas de governação.
Vamos então explorar os bastidores do período mais tenso da Revolução dos Cravos: 1974-1975, quando Portugal esteve à beira de uma viragem comunista, com impactos internos e internacionais profundos. Este período ficou conhecido como o "PREC" (Processo Revolucionário em Curso). O ponto alto do perigo comunista em Portugal ficou conhecido por “Verão Quente de 1975”. O Partido Comunista Português (PCP), liderado por Álvaro Cunhal, era o único que estava bem preparado para aproveitar o colapso do regime. Era o partido mais organizado, com forte implantação nos sindicatos, movimentos operários e classes populares urbanas. Tinha ainda grande apoio no setor cultural e intelectual. Rapidamente começou a ocupar posições-chave na estrutura provisória do novo regime, inclusive no Governo Provisório, onde Álvaro Cunhal chegou a ser ministro sem pasta.
Dentro do MFA, formaram-se tendências, com os militares alinhados com a esquerda revolucionária. A "Esquerda Militar", representada por oficiais como Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Gonçalves e Diniz de Almeida, era favorável a um modelo socialista próximo do bloco soviético. Promoveram nacionalizações em massa (bancos, seguradoras, indústrias) e reformas agrárias radicais, sobretudo no Alentejo. O COPCON (Comando Operacional do Continente), chefiado por Otelo, ganhou poderes extraordinários e atuava como uma espécie de "polícia política revolucionária".
Os partidos moderados – nomeadamente o PS, de Mário Soares, e o PPD de Sá Carneiro, atual PSD) – começaram a temer um desvio autoritário de tipo soviético. A Igreja Católica, até então recuada, passou a opor-se ativamente ao avanço comunista, especialmente nas zonas rurais do Norte do país. Os Estados Unidos, era tempo de Henry Kissinger como Secretário de Estado, e Frank Carlucci como Embaixador em Portugal, viram com grande preocupação a possibilidade de um "Chile ao contrário". Em vez de um governo socialista derrubado pela direita (como Allende), uma democracia liberal afundada por uma viragem comunista. O dia 24 de janeiro de 1975 assinala a entrada oficial de Carlucci ao serviço em Lisboa, com a apresentação das credenciais, apesar de a sua nomeação datar de dezembro do ano anterior. Em pleno período revolucionário, Frank Carlucci vai seguir de perto o Verão Quente de 75, acompanhando o percurso de políticos como Mário Soares, com quem estabelece uma relação de amizade, entre outros. Abandona as funções a 5 de fevereiro de 1978, mas mantém várias ligações a Portugal, nomeadamente de carácter económico, das quais se destaca a EuroAmer com Artur Albarran. Portugal era um membro da NATO, com uma base militar estratégica nos Açores. Há relatos de que os EUA, através da CIA, financiaram discretamente partidos moderados (como o PS e o PPD) e apoiaram logisticamente movimentos de resistência ao PCP.
Em novembro de 1975, militares alinhados com a esquerda radical tentaram um golpe para consolidar o poder revolucionário. O golpe foi neutralizado por forças moderadas do MFA, lideradas por Ramalho Eanes, Jaime Neves e outros oficiais democráticos. Este episódio marcou o fim do PREC e a derrota do projeto comunista em Portugal. O PCP perdeu influência no governo, os partidos moderados consolidaram-se e a democracia parlamentar avançou com a Constituição de 1976. O 25 de Novembro de 1975 salvou a jovem democracia portuguesa e marcou o fim da “lufada de ar fresco” comunista na Europa Ocidental. Depois disso, o PCP entrou em declínio eleitoral, e o país integrou-se no modelo liberal europeu (CEE, depois UE).
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