quarta-feira, 17 de julho de 2019

O raciocínio analítico em ciência moderna e pós-moderna, e os limites da razão

Não podemos ter certezas sobre a veracidade do Big-bang, nem do modelo teórico padrão da mecânica quântica. E temos de o dizer em relação a todas as teorias científicas. A complexidade dos processos, e a diversidade fenomenológica do mundo, transcendem qualquer teorização concebível. As teorias não passam de instrumentos guias para a observação e para a experimentação.

É um facto que a razão instrumental que possuímos, para deslindar as cambiantes manifestações da natureza, dando-lhe ordem e simetrias num mosaico aparentemente caótico de fenómenos e realidades, é dos bens mais preciosos que devemos estimar. Mas tem os seus limites. Por exemplo, alguma vez chegará à verdade acerca do universo? Temos o modelo do Big-bang, mas devemos duvidar se corresponde verdadeiramente ao início de tudo.

Seja como for, não podemos esquivar-nos de mergulhar nos meandros da lógica e de todos os instrumentos conceptuais que tivermos ao nosso alcance para continuar este caminho da procura da verdade. Mas não podemos deixar de defender que há verdades, ainda que as nossas limitações epistemológicas em relação à verdade sejam enormes. Uma coisa é a verdade. Outra coisa é a nossa possibilidade de alcançá-la. Por isso, devemos manter uma grande dose de ceticismo em relação a afirmações definitivas acerca da verdade, o melhor antídoto contra o dogmatismo. O dogmatismo é o maior inimigo do pensamento científico.

Foi sobretudo nas ciências da natureza física e química, que a viragem do qualitativo para o quantitativo, na época da Renascença, teve maior impacto. Passou-se de uma apreensão de totalidades para uma apreensão de estruturas mais elementares.

Ora, é através dos sentidos comuns do visível e do palpável, digamos assim, que os fenómenos da natureza impressionam mais qualitativamente. Mas as ciências físicas procuraram estabelecer leis explicativas. E para isso foi preciso penetrar no invisível, no intangível para além da aparência. E isso apenas podia ser deduzido por meio do raciocínio analítico, em que a língua franca deste raciocínio é a matemática.

Não há qualquer dúvida de que os cientistas estão sujeitos, como todas as comunidades humanas, às influências culturais e a regras educativas condicionadas pelas autoridades académicas em cada momento histórico de cada sociedade. Apesar disso, a ciência em geral, aplicada à vida prática por via da tecnologia, ultrapassa sempre as denominadas “torres de marfim académicas”, contribuindo assim para novas descobertas e novos avanços.

Naturalmente, o fazer científico não pode constituir uma ameaça à dignidade humana e à integridade do planeta no seu equilíbrio ecológico. Por isso não faz sentido a ideia de um determinismo dogmático, acrítico, na história do progresso humano. Os seres humanos estão certamente sujeitos às leis da física como qualquer outro ente, mas obviamente, mercê da sua liberdade dentro da margem de manobra que o suposto livre-arbítrio lhe confere, têm o dever de fomentar a sua dignificação.

Mas o seu comportamento não se esgota aí. É, pois, importante o pluralismo teórico como salvaguarda contra o pensamento dogmático no fazer científico. A dimensão histórica das ideias e comportamentos é uma componente essencial da humanidade.

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