terça-feira, 16 de julho de 2019

Os vírus são seres vivos?




Por estranho que possa parecer, não há entendimento quanto aos critérios definidores de vida. E um dos exemplos é a discussão que ainda se prende quanto aos vírus serem ou não seres vivos. Mas se os vírus não são entidades vivas, então o que são? Quem define seres vivos como sistemas complexos dinâmicos, que incorporam nutrientes e energia do ambiente para síntese das suas macromoléculas, e, por conseguinte, possuidores de metabolismo próprio, não aceita que vírus sejam seres vivos. Os vírus para se produzirem precisam de parasitar uma célula viva de um outro organismo vivo, e não morto, dado que não têm qualquer atividade metabólica fora da célula hospedeira viva, que para se replicarem precisam dela.

Mas parece um paradoxo que os mesmos cientistas, aqueles que não concordam que os vírus mereçam o estatuto de seres vivos, considerem, por outro lado, que os vírus são sistemas cognitivos. E então como é que vírus, não sendo seres vivos, são entes cognitivos? É que os vírus são formados por ácido nucleico, que é essencial à codificação de informação necessária à reprodução. E codificação de informação tem a ver com cognição. Existem dois tipos de ácidos nucleicos: ADN e ARN. E há vírus só de ARN e vírus só de ADN.

Os vírus são parte de linhagens contínuas, reproduzem-se e evoluem em resposta ao ambiente, através de variabilidade e seleção, como qualquer ser vivo. Uma outra curiosidade é o facto de os vírus não serem cultiváveis in vitro, ou seja, não se desenvolvem em meio de cultura contendo os nutrientes fundamentais à vida. Eles se multiplicam somente em tecidos ou células vivas, logo, os vírus não têm qualquer atividade metabólica quando fora da célula hospedeira. Portanto, sem as células nas quais se replicam, os vírus não existiriam.

Muitos, porém, não concordam com esta perspetiva, e argumentam que, uma vez que os vírus são capazes de reproduzir-se, são organismos vivos; eles dependem da maquinaria metabólica da célula hospedeira, mas até aí todos os seres vivos dependem de interações com outros seres vivos. Assim como plasmídeos e outros elementos genéticos, os vírus se aproveitam da maquinaria celular para se multiplicar. No entanto, diferentemente destes elementos genéticos, os vírus possuem uma forma extracelular por meio da qual o material genético viral é transmitido de um hospedeiro a outro. Em função da existência deste estágio independente das células no ciclo biológico viral, algumas pessoas consideram os vírus como "organismos vivos" ou "formas de vida". Outros ainda levam em consideração a presença maciça de vírus em todos os reinos do mundo natural, sua origem — aparentemente tão antiga como a própria vida —, sua importância na história natural de todos os outros organismos, etc. Conforme já mencionado, diferentes conceitos a respeito do que vem a ser vida formam o cerne dessa discussão.

A origem dos vírus não é totalmente clara, e provavelmente, esta seja tão complexa quanto a origem da vida. Os vírus podem ser derivados de componentes de células de seus próprios hospedeiros que se tornaram autônomos, comportando-se como genes que passaram a existir independentemente da célula. Algumas regiões do genoma de certos vírus assemelham-se a sequências de genes celulares que codificam proteínas funcionais. Esta hipótese é apontada como a mais provável para explicar a origem dos vírus.

Quando os vírus se reproduzem no interior de uma célula, o material genético viral pode sofrer mutações, originando uma grande diversidade genética a partir de um único tipo de vírus. Vírus de RNA, que dependem das enzimas RNA polimerase ou transcriptase reversa para se replicar. Estes apresentam taxas de mutação mais elevadas, quando comparados com os vírus de DNA. Isto ocorre porque tais enzimas não são capazes de corrigir os erros provocados no decorrer da replicação. Vírus de DNA, que usam a maquinaria enzimática celular, apresentam taxas reduzidas de mutações genéticas, pois utilizam enzimas celulares que possuem a habilidade de reparar os erros gerados durante a síntese de DNA. A fidelidade e a frequência dos processos de replicação, as taxas de ocorrência de coinfecções, o modo de transmissão, o tamanho e a estrutura das populações (virais e de hospedeiros) são fatores que influenciam a geração da variabilidade genética viral.

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