Temos uma certa dificuldade em aceitar o envelhecimento como um processo natural e quase seguramente inevitável. O ciclo de vida de qualquer ser vivo encontra-se à partida inscrito e condicionado no seu código genético. A especialidade médica que estuda o geronte, e se dedica a prestar cuidados de saúde, é a gerontologia. Gerontologia é mais do que geriatria. A geriatria é uma espécie de Medicina Interna Hospital, que tem o mesmo horizonte num paradigma mais de doença do que saúde. Ao passo que a Gerontologia é muito mais abrangente, sobrepõe-se às competências do Médico de Saúde Familiar, mas focado apenas ao idoso. Debruça-se sobre os problemas das pessoas ligadas ao envelhecimento nas suas vertentes biológica e psicossocial.
Numa perspetiva demográfica, o envelhecimento de uma população corresponde ao aumento do número de idosos em relação à quantidade de indivíduos jovens. Mal abrimos o portal da PORDATA – a base de dados facultada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos – vemos a linha dos idosos por cada 100 jovens: 1981 – 45,4; 2017 – 153,2. Aqui, o critério de idoso é a partir dos 65 anos. Mas para a Organização Mundial de Saúde (OMS), idoso é todo o indivíduo com 60 ou mais anos de idade. Mas hoje há muitos especialistas e organizações a desejar alterar este critério para os 75 anos de idade. O envelhecimento mantém uma relação direta com o aumento da longevidade. Como a esperança média de vida da espécie humana vem aumentando progressivamente, o conceito de idoso tem também evoluído.
Bem, a grande discrepância faz-se notar entre países pobres e países ricos; e em geral, nem toda a gente faz coincidir a sua idade psicológica com a sua idade física. Psicologicamente, nos dias de hoje, as pessoas não aceitam que o corpo não acompanhe o espírito que têm. Mas a idade física não perdoa quando a consciência se inconsciencializa da aproximação da morte. O idoso tenta resolver estas questões centrando toda a atenção no passado, agarrando-se a recordações.
Independentemente de se ter um espírito jovem ou não, o que resulta é o isolamento progressivo do idoso. Por isso, a tendência do idoso é virar-se mais para dentro de si. E é desta introspeção que também volta a emergir a sua religiosidade, que durante muitos anos andou arredada da sua agenda de preocupações.
Nas idades avançadas reduz-se a quantidade de água no organismo e o peso corporal, a pele enruga-se, o corpo curva-se, a força escasseia, o cabelo cai e torna-se grisalho, os dentes perdem-se, a vista e o ouvido enfraquecem. Surge ao mesmo tempo uma certa rigidez do pensamento e algum egocentrismo, esgota-se a memória e tende-se à repetição constante. É preciso lembrar que por volta dos trinta anos já se inicia o declínio do sistema nervoso central. Mas o envelhecimento predispõe para doenças que afetam o sistema nervoso de uma forma eletiva, seja diretamente através das demências, seja indiretamente por hábitos alimentares e outros hábitos perniciosos pata o sistema circulatório. É a epidemia dos AVC, seja pela diabetes, seja pela hipertensão, seja pala hipercolesterolemia. Há outros processos degenerativos neuronais que são também que são mais frequentes em idades avançadas, como o que ocorre no sistema extrapiramidal e que origina a doença de Parkinson.
Quando a invalidez se instala, manter a dignidade revela-se cada vez mais difícil, sobretudo quando se está, ou se é, doente. Fica-se exposto na sua intimidade: no banho; nas eliminações dos seus subprodutos da economia do corpo; na alimentação; na dor ... O ser velho transforma-se em não ser (animal), quando muito de novo um bebé. É claro que ninguém está habituado a dar um duche a um adulto,ou a ajudá-lo a ir à casa de banho , fora do contexto da profissão em saúde. Mesmo tratando-se do marido, do irmão ou da mãe, há sempre algo embaraçoso que se instala na relação. Mas é um facto que o perigo de soçobrar no pessimismo e no desespero diminui, quando o doente se sente bem tratado e rodeado.
A minha vizinha do rés-do chão esquerdo, era a única pessoa, fora da minha família e pequeno círculo de amigos, que estava dentro do meu segredo de ter um cancro. Um dia viu-me a rir com o meu irmão quando ia a entrar em casa. Ela lançou-me um olhar de gato-pingado, como quem diz: "mas como pode ela estar a rir se acaba de saber que tem um cancro no cérebro?" Aquele olhar causou-me arrepios. Disse para comigo: "se tiver de deixar de me rir por ter um cancro, então é porque já estou morta". E compreendi que nunca devia, mas mesmo nunca, perder a preciosa faculdade entre todas as outras de rir com a melhor das vontades. Mesmo quando somos atingidos por uma doença mortal, continuam a não faltar numerosas ocasiões para gracejar, recomendo vivamente que sejam bem aproveitadas.Em medicina a normalidade não é mais do que uma média estatística e, também no envelhecimento, o normal deve ser encontrado dentro das fronteiras de uma certa variação individual que é reconhecida e aceite estatisticamente. Não se encontrou ainda uma fronteira nítida entre as perturbações cognitivas e comportamentais que são habituais no envelhecimento considerado fisiológico ou normal e as características clínicas que definem a entidade patológica: demência. A progressão na idade constitui pois um fator de risco para a acumulação de processos patológicos nos diversos compartimentos do organismo. Todo o ser vivo possui um relógio biológico, condicionado geneticamente, que programa o envelhecimento celular e determina o ciclo de vida característico da espécie. Tal como a fasquia dos recordes desportivos, que está sempre a subir, assim tem acontecido, mesmo quando se trata de ciência biológica, com a fasquia do limite para a nossa espécie. Não entrando nas previsões dos novos profetas da trans-humanização, digamos que é razoável dizer que o nosso relógio está programado para durarmos até aos 85 anos, assim como é razoável dizer, para a tartaruga da ilha Galápagos, 150 anos, ou para o elefante, 60 anos.
A esperança de vida é um conceito diferente, que corresponde ao número de anos que um determinado indivíduo pode esperar estatisticamente viver desde o nascimento. É a esperança média de vida que tem vindo a aumentar progressivamente no homem, graças aos melhores cuidados de higiene, às condições sociais de vida e à evolução da medicina.
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